Geração 80

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“A IA assusta-me até como tradutora, é um trabalho mal pago e muitíssimo importante. A máquina não tem o brilho do ser humano”

"As redes sociais apropriaram-se da narrativa e dos amigos. Hoje chamam-lhes seguidores. Fazes a tua própria narrativa, tens os teus seguidores e podes passar a tua história sempre, ou quase sempre, contigo ao centro". Matilde Campilho passa os dias a ler, gosta de estar no seu canto, não tem redes sociais e raramente dá entrevistas. Quando lançou o primeiro livro provou o sabor do sucesso e hoje admite que só foi “divertido” nos “primeiros 15 dias”. A escritora é a nova convidada do Geração 80. Oiça aqui a conversa sobre a geração "Humpty Dumpty" e sobre como em Portugal todas as áreas são “pequenas”, ainda mais a Literatura

Nasceu em 1982, em Lisboa, mas passou grande parte da infância em Santarém. Foi lá que estudou, na escola pública, e tem muito boas memórias desses tempos, principalmente dos professores de português. “Andei sempre na escola pública e tive professores muito bons. E melhor ainda era a capacidade que tinham para meter miúdos de 14 anos na ordem”, conta.

O gosto pela leitura vem de criança. Regressou a Lisboa na altura da faculdade e a escolha do curso foi “óbvia”. Licenciou-se em Línguas e Literaturas Modernas e fez Erasmus, no último ano, em Milão.

Matilde Fieschi

“Todas as áreas são pequenas e a Literatura ainda mais”, lamenta. Não foi fácil encontrar trabalho em Portugal, até que decidiu mudar-se para Madrid. Sempre gostou de televisão, mas foi “por acaso” que acabou a trabalhar no canal FOX.

Ainda não sabe se é possível viver da escrita - talvez só para alguns - mas não desiste. Já de regresso a Portugal, mas por pouco tempo, foi copywriter na MTV e no Nickelodeon.

Em 2010 atravessou o Atlântico à boleia da música carioca e foi viver para o Rio de Janeiro. Mais do que na praia, era nas livrarias e alfarrabistas que passava grande parte dos dias.

Matilde Fieschi

Começou a escrever poemas para a Globo e em 2014 lançou o primeiro livro, Jóquei, na Tinta-da-China. “Um sucesso” que não esperava e que “só foi bom nos primeiros 15 dias”.

Hoje não tem redes sociais e raramente dá entrevistas ou fala sobre si. Gosta de estar no seu canto a ler e a escrever. Não gosta de fazer parte do “pacote” que acredita que é preciso ter quando se é um escritor com visibilidade.

“Quando fazes qualquer coisa minimamente pública, seja na literatura, seja na política, e que envolve um público maior, é quase uma obrigação ser um pacote por inteiro. Tens de aparecer, ter redes sociais”, explica.

Para o Geração 80, trouxe uma cassete para lembrar os tempos em que havia “um tempo”. “Hoje as coisas não têm um momento, esta é a era da desmaterialização”, continua.


Matilde Fieschi

Esta é uma conversa sobre literatura, escrita, a “fama” e o outro lado do sucesso. Sobre os silêncios - que “já só acontecem quando cada um está agarrado ao seu telemóvel” - e sobre a era da “desmaterialização total das coisas”.

“É fácil trazer um objeto da minha infância, dos anos 80, mas não será tão fácil escolher um objeto do hoje”.

A escritora Matilde Campilho é a nova convidada de Francisco Pedro Balsemão no podcast do Geração 80. Ouça aqui a entrevista.

Livres e sonhadores, os anos 80 em Portugal foram marcados pela consolidação da democracia e uma abertura ao mundo impulsionada pela adesão à CEE. Foram anos de grande criatividade, cujo impacto ainda hoje perdura. Apesar dos bigodes, dos chumaços e das permanentes, os anos 80 deram ao mundo a melhor colheita de sempre? Neste podcast, damos voz a uma série de portugueses nascidos nessa década brilhante, num regresso ao futuro guiado por Francisco Pedro Balsemão, nascido em 1980.

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