O Futuro do Futuro

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“É preciso dar mais oportunidades às mulheres na ciência. Já aparecem muitas raparigas nos festivais de robótica, mas é preciso mais”

Já na reta final do último mandato à frente da rede de Centros Ciência Viva, Rosalia Vargas deixa um apelo para que as escolas levem as crianças para a rua e lembra que uma simples poça da chuva pode ser um laboratório. “Somos, entre os europeus, aqueles que mais gostam de ciência”, diz ainda, no podcast Futuro do Futuro, sobre a evolução da literacia científica em Portugal nas últimas décadas

Rosalia Vargas, presidente da rede dos Centros de Ciência Viva, deixa um apelo a quem dá aulas: “Abram as portas das escolas, deixem os alunos vir para a rua”
Matilde Fieschi

Rosalia Vargas, presidente da rede de Centros de Ciência Viva e responsável pelo Pavilhão do Conhecimento de Lisboa, considera que a ciência e a inovação deveriam ter maior força política no figurino do recém-eleito governo liderado pela Aliança Democrática. “Preferia, de longe, que realmente este governo tivesse um Ministério da Ciência”, responde a presidente dos Centros Ciência Viva no podcast Futuro do Futuro.

Por mais de uma vez, Rosalia Vargas evoca Mariano Gago, primeiro titular de um cargo de ministro da ciência que apelida de “mestre”. E recorda que a inauguração do cargo teve impacto no tecido científico nacional. “Antes era uma Secretaria de Estado. E tudo mudou a partir daí”, sublinha.

Rosalia Vargas, presidente da rede de Centros Ciência Viva, admite que preferia que a Ciência tive um ministério próprio
Matilde Fieschi

“Vai haver uma Secretaria de Estado da Ciência, é verdade. E aliás é uma grande investigadora (Ana Paiva) que vai ter essa pasta. Isso é muito bom. Ah, mas os ministros é que definem a política e eles têm de ter tempo”, explica a especialista em divulgação científica, numa referência à potencial dispersão de temas que poderá surgir num ministério que também acumula ciência com os temas da educação.

Remontam ainda ao tempo de Mariano Gago os Eurobarómetros que colocavam Portugal consecutivamente nos último lugares do ranking da divulgação e da literacia cientítica das estatísticas europeias da ciência. Rosalia Vargas recorda que o antigo ministro da Ciência nunca se deixou atemorizar pelas estatísticas e que lhe disse, sempre, que os resultados haveriam de chegar.

“E não é que o último Eurobarómetro, que é de 2021 - há de sair outro, algures, daqui a algum tempo - coloca Portugal em quase todos os indicadores em primeiro lugar! Somos, entre os europeus, aqueles que mais gostam de ciência, aqueles que mais têm confiança na ciência! Estamos em primeiro lugar! Também estamos em primeiro lugar, entre todos os europeus, nos que querem saber mais sobre ciência”, sublinha a presidente do centros de Ciência Viva.

Para ilustrar o progresso registado nos últimos tempos, Rosalia Vargas recolhe da memória um encontro com um “veterano” que ia ao Pavilhão do Conhecimento desde pequeno e que um dia, já no secundário, lhe disse simplesmente: “Entro no pavilhão do conhecimento e sinto cheiro à ciência.”

Mapa que ilustra os Centros Ciência Viva no País, já com espírito dos 50 anos dos 25 de Abril

Foi para ilustrar o potencial dos Centros de Ciência Vida que Rosalia Vargas trouxe para o Futuro do Futuro um mapa de Portugal coberto de cravos. No desafio do som, que costuma ser colocado aos entrevistados deste podcast, Rosalia Vargas optou por um som produzido por um boneco que tenta dar corpo ao célebre quadro “O grito” de Edvard Munch.

Em paralelo com os espaços de exposição, a rede de Centros de Ciência Viva tem vindo a acolher temporariamente turmas inteiras, em paralelo com ações de divulgação junto de múltiplas escolas.

Rosalía Vargas recorda os tempos em que foi vereadora da Câmara de Lisboa, e da lição política que tirou com a reconversão de um parque escolar que se encontrava degradado. “As autarquias dão muita importância a quem vota e dão menos importância àqueles que não votam. E os pequeninos não votam”, lembra.

Boneco inspirado no famoso quadro "O Grito", de Edvard Munch, que costuma acompanhar Rosalia Vargas em algumas das reuniões de trabalho
Matilde Fieschi

Sobre a ciência praticada nas escolas, Rosalia Vargas deixa a apologia do empirismo e das atividades que levam a ciência à prática. “Geralmente, quando está chuva, fica tudo fechado, ou na escola, ou em casa. E a verdade é que a ciência diz-nos que os seres humanos não se dissolvem na água”, sublinha, numa alusão aos costumes que levam as decisões dos mais velhos a sobreporem-se às intenções dos mais novos.

“Nós temos um projeto, por exemplo, que é a ciência nos pátios da escola. Aí, transformam-se os pátios em laboratórios. Quando, às vezes, as escolas dos mais novos, do primeiro ciclo, do segundo ciclo, dizem que não há laboratórios suficientes – saiam para a rua, vão ao pátio. O pátio é um laboratório vivo. E ainda por cima, em todas as estações do ano, é possível (usar os pátios). Quando há chuva, um charco de água, uma poça de água – é um laboratório!”, acrescenta.

“Abram as portas da escola, deixem os alunos vir para a rua”, recomenda ainda a promotora de divulgação científica, durante a entrevista ao Futuro do Futuro.

Tendo inaugurado o cargo há 28 anos, Rosalia Vargas aproveita ainda esta entrevista para confirmar que está na reta final do percurso que a manteve ao leme da rede de divulgação científica.

“Dentro de um ano e meio, no máximo dois anos, vem da Universidade de Leiden, dos Países Baixos, um colega, o Pedro Russo, que já faz parte da nossa direção, mas que vem definitivamente para o país”, conclui.

Hugo Séneca conversa com mentes brilhantes de diversas áreas sobre o admirável mundo novo que a tecnologia nos reserva. Uma janela aberta para as grandes inovações destes e dos próximos tempos.

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