Andreia Trindade Pereira, investigadora do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (I3S), está apostada em dar nova vida ao coração. Foi assim que começou a trabalhar em protótipos de vasos sanguíneos sintéticos que poderão vir a salvar vidas dentro de 10 anos, e também encontrou engenho para desenvolver um sistema que promete aumentar a longevidade de baterias de implantes cardíacos, que costumam ser conhecidos por pacemakers.
“Nós criamos materiais que conseguem aproveitar essa eletricidade estática que é gerada (pela corrente elétrica) para depois conseguirmos alimentar outros dispositivos eletrónicos que estão implantáveis no nosso corpo”, explica a investigadora nortenha em entrevista ao podcast Futuro do Futuro.
A solução que tem vindo a ser desenvolvida nos laboratórios universitários tira partido de um efeito bem conhecido, que fez história com brincadeiras de criança que geram energia através da fricção entre objetos. Eletricidade estática é o nome desse efeito.
Andreia Trindade Pereira acredita que esta solução poderá vir a revelar-se especialmente útil para que, nos próximos tempos, sejam criados os primeiros dispositivos que vão recarregando baterias de pacemakers com a eletricidade estática proveniente do sangue. Caso o projeto tenha sucesso, torna-se possível reduzir o número de intervenções cirúrgicas que são necessárias para a substituição de baterias de pacemakers.
“Se conseguirmos melhorar cerca de 25% a 50% da sua longevidade [das baterias de pacemakers], ou seja, do seu tempo de vida, conseguimos já fazer uma poupança também em termos económicos, para o sistema nacional de saúde, de cerca de 3000 a 4000 euros por paciente”, explica.
Precisamente para a ilustrar o potencial do projeto, Andreia Trindade Pereira respondeu a um dos desafios do Futuro do Futuro com um som de um equipamento laboratorial que simula o fluxo sanguíneo. Para o segundo desafio, a investigadora que já foi homenageada com os Prémios Maria Sousa e Julia Polak trouxe uma foto com vasos sanguíneos sintéticos que poderão vir a ser usados nas denominadas cirurgias de “bypass”, ou na substituição de artérias coronárias e outros vasos naturais depois de obstruídos.
Andreia Trindade Pereira recorda que estas cirurgias costumam recorrer a vasos sanguíneos de outras partes do corpo para substituição de vasos bloqueados – e essa opção implica sempre mais uma operação. Noutros laboratórios, também já há quem tenha criado vasos sanguíneos sintéticos, constituídos por outros materiais, mas nos testes já levados a cabo apurou-se que os implantes desenvolvidos pelo I3S têm maior eficácia quando se trata de evitar a obstrução.
Os novos vasos sanguíneos sintéticos têm por base a mescla de materiais usados nas lentes de contacto e grafeno, que Andreia Trindade Pereira diz ter várias características vantajosas.
“Vamos fazer os os testes pré-clínicos e pensamos que no final de 2024, início de 2025, já terminamos esta fase”, refere Trindade Pereira. O grafeno “tem propriedades elétricas, propriedades mecânicas, propriedades de condução térmica que em termos de comparação com outros nanomateriais, acabam por ser bastante superiores”, informa a cientista. O novo material é conhecido por GO-Graft. “Achamos que daqui a 10 anos o GoGraft poderá estar no mercado”, prevê a cinetista do I3S.
Hugo Séneca conversa com mentes brilhantes de diversas áreas sobre o admirável mundo novo que a tecnologia nos reserva. Uma janela aberta para as grandes inovações destes e dos próximos tempos.