Ser ou Não Ser

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“Eu nunca vi a minha avó a desperdiçar comida, porque lhe faltou quando era pequena. Desperdiçar comida é um problema de quem tem a mais”

Catarina Barreiros, fundadora do Projeto Zero, fala sobre desperdício alimentar, a falta de cientistas na Assembleia da República e a necessidade de criar um passaporte digital para que todos possamos olhar para os produtos com a mesma lente. A empreendedora explica o que é a Cidade do Zero e de como todos juntos podemos transformar a economia. Oiça aqui a conversa no podcast Ser ou Não Ser

Nuno Fox

Criou o projeto Zero para comunicar sustentabilidade. O que tem feito através das redes sociais, da cidade zero e de um podcast. Acredita ser possível “tornar o mundo melhor”, apesar de admitir que pode ser um pouco “caricato”. Os temas de sustentabilidade sempre estiveram presentes na sua vida. Pelos exemplos em casa. “Sou neta da avó Graça que lavava sacos de plástico mesmo quando eram gratuitos, que sempre remendou a roupa e que fazia panos velhos das tshirts. A minha mãe também sempre fez separação de resíduos”, conta Catarina Barreiros, fundadora do Projeto Zero, um negócio online.



A empreendedora defende que a base científica é muito importante para levar as pessoas a mudar comportamentos e lamenta que, por exemplo, na Assembleia da República só se vejam licenciados em direito. “Nada contra o curso de direito. O meu pai e o meu irmão são advogados e o meu avô é juiz, mas falta diversidade na Assembleia. Não vejo cientistas, investigadores... como é que alguém legisla sobre um tema que não conhece tecnicamente? É muito difícil!”. Na sua opinião, deveria haver mais diversidade.

Um dos temas que mais a preocupa é o desperdício alimentar. Cada português, anualmente, deita fora 100 kg de comida e Catarina Barreiros, diz que todos os dias um terço da comida que compramos vai para o lixo, ou seja, 30 euros em cada 100 euros gastos em compras. Para a empreendedora “quem desperdiça é quem tem a mais” e salienta a necessidade de ajudar quem tem menos.

A boa notícia é que todos os portugueses consideram um crime desperdiçar comida. A má notícia é que, muitas vezes, as pessoas nem têm essa noção. A antiga proprietária da loja Zero, diz que uma das soluções seria possibilitar que as calibrações fossem mais flexíveis “muitas vezes estamos a calibrar para enfiar produtos em cuvetes e tudo o que não couber vai fora. Isto não faz sentido!”. É verdade que a indústria de transformação vai buscar estes produtos, mas com um custo para os agricultores porque paga menos por estes não estarem calibrados. “O que não é justo porque uma cenoura é uma cenoura, seja torta ou direita. O valor nutricional é o mesmo e demorou o mesmo tempo a produzir”. Outra solução para evitar o desperdício alimentar passa por cada cidadão medir o que deita fora.

Não acredita em produtos sustentáveis, defende que uns são apenas mais sustentáveis do que outros. Ou porque no seu fabrico se poupou água, ou porque é sólido e o transporte tem menos emissões, ou tem uma certificação de biodegrabilidade, ou porque foi feito um life cycle Assement do mesmo.

Quanto às certificações, refere existirem umas mais sérias do que outras, mas considera ser quase impossível para o consumidor saber qual é a mais adequada. Por isso, para esta questão o passaporte digital poderá ser uma opção.

Para tentar implementar os ideais que defende, criou o projeto Cidade Do Zero, um evento anual na área da sustentabilidade, que aborda temas como a educação, alimentação, mobilidade e consumo. “É uma forma de mostrar como se poderia viver numa cidade totalmente voltada para a sustentabilidade e inclusiva, onde se ensina este tema de uma forma lúdica através de workshops, palestras, oficinas e showcookings com especialistas de diversas áreas da ciência” explica. Tem ainda um mercado tradicional com produtos nacionais — em que as marcas se destacam pelo impacte social, circularidade, gestão de resíduos ou uso de matérias-primas recicladas. Há, inclusive, uma zona onde o dinheiro não circula. Faz-se troca de roupa, de plantas, de livros e de bicicletas. “Se nos ligarmos uns aos outros, os esforços de comunidade conseguem transformar a nossa economia”.

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