Ser ou Não Ser

João Pedro Tavares: “Trabalhamos mais que no norte da Europa e produzimos menos. A nossa economia precisa de ganhar mais competitividade”

O presidente da Associação Cristã de Empresários e Gestores diz que Portugal devia refletir sobre a pobreza, uma vez que 30% das famílias que trabalham são pobres. Devia também pagar a horas e passar a ter o salário mínimo como exceção e não como regra. João Pedro Tavares acredita que os jovens mudarão a economia, mas teme que os que vão para fora percam o vínculo ao país. Oiça aqui a conversa com o líder da ACEGE no podcast  Ser ou Não Ser

Para o presidente da Associação Cristã de Empresários e Gestores (ACEGE), João Pedro Tavares, no mundo empresarial não existe o lado dos bons e o lado dos maus. A maior diferença é que as empresas cristãs trazem valores não económicos para o propósito de vida dos líderes. Em Portugal a ACEGE tem 1200 associados. A missão da associação é inspirada na Caritas in Veritate, do papa Bento XVI, ou seja, viver o amor e a verdade como critérios de gestão e com isso transformar as empresas e influenciar a sociedade.

João Pedro Tavares admite parecer utopia, mas diz ser possível fazê-lo. E conta que como consultor da Accenture partilhou estes valores com a sua equipa, tendo obtido múltiplas reações, acabando por pedir ajuda por saber ser muito difícil dizer sempre a verdade. “Faltamos à verdade por medo, por receio...”. O resultado foi transformador. “A equipa passou a ter índices de confiança muito mais elevados. Um comportamento que passou também para os clientes”, afirma.


Quando confrontado com a crise da Igreja Católica no mundo, diz que esta sempre esteve em crise: “o seu fundador morreu na cruz”. Mas avança que a crise é a verdadeira oportunidade de mudança para os 1,4 mil milhões de cristãos no mundo. “Onde há crise há esperança!”, defende.

Em crise está também a demografia nacional. A população portuguesa está envelhecida e os jovens portugueses procuram cada vez mais oportunidades lá fora, cerca de 30% dos jovens qualificados decidem emigrar. João Pedro Tavares considera extraordinário que sejam conquistadores como a nossa história, e que mais tarde regressem ao país com uma experiência mais rica. O problema é a perda de vínculo, e admite ser uma questão de fundo a ser repensada. Com seriedade, porque, afinal, 25% dos filhos dos portugueses emigrados já nascem no estrangeiro. “É fundamental reformular a economia. Não podemos olhar para as empresas e demonizar o lucro. As empresas precisam de ser sustentáveis. A finalidade das organizações é distribuir valor de uma forma justa”. A boa notícia é que os jovens estão a fazer as empresas mudar. “A economia de posse deu lugar a uma economia de partilha. São uma enorme oportunidade de crescimento e transformação do nosso país”.

Portugal tem outro problema grave em mãos: a pobreza, isto porque 30% das famílias que trabalham são pobres. “Há um semáforo de avaliação de pobreza nas empresas e queremos que os líderes sejam responsáveis por isso” e lamenta que durante a campanha eleitoral as medidas dos vários partidos tenham sido avulsas não resolvendo o problema de fundo. “Quando falo aos líderes cristãos pergunto-lhes: quantas pessoas trabalham na vossa empresa? Quantas famílias? Quantas crianças? Quantos idosos? Quantos deficientes? Quantas estão em stress económico, social, educacional e ao nível da saúde? Estas questões têm de fazer parte da realidade empresarial”, defende. No entanto, João Pedro Tavares realça que as empresas em Portugal estão despertas para o tema da responsabilidade social.

Quanto ao salário mínimo, na sua opinião o problema é que um quarto dos que trabalham recebem essa retribuição mínima. “Portanto, não é a exceção, é a regra, e essa é uma das visões curtas que temos”, afirma. Além disso, a economia portuguesa precisa de ganhar competitividade e de ser mais produtiva. “Trabalhamos mais do que no Norte da Europa e produzimos menos”, lamenta. Por fim, defende que Portugal tem de começar a pagar a horas.

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