Ser ou Não Ser

“Na Sonae temos mulheres à frente de grandes entrepostos logísticos, funções que eram associadas a homens. Nós sabemos o poder que isso tem”

O retalho em Portugal está à frente do quadro regulatório da União Europeia, diz Isabel Barros, administradora executiva da Sonae MC, mas quanto à descarbonização é preciso acelerar o passo. Já Mariana Pereira da Silva, responsável de sustentabilidade do grupo, garante que a Sonae MC está atenta à cadeia de valor, às metas ambientais e o empoderamento de mulheres em lugares de liderança e setores tradicionalmente associados a homens. Oiça aqui a conversa com as duas gestoras no podcast Ser ou Não Ser

A desigualdade salarial e a disparidade de acesso a cargos de chefia entre homens e mulheres é ainda uma realidade. Para Isabel Barros, administradora executiva da Sonae MC, os diagnósticos estão feitos em Portugal, na Europa e no Mundo. Na sua opinião, os estudos não divergem muito de país para país, por isso acredita que as quotas são necessárias. “Até em Portugal, se não fossem as quotas (mesmo que não gostemos delas) não teríamos a evolução que temos tido” e lembra que, segundo um estudo da consultora McKinsey, por cada 100 homens promovidos e contratados como gestores apenas 82 mulheres são promovidas. “Na Sonae MC tínhamos o nosso próprio enviesamento. Olhámos para a equipa de seleção e recrutamento e criámos targets (objetivos) para evitar o enviesamento em determinadas funções, logo à entrada”. A administradora diz ainda que hoje a empresa tem mulheres à frente de grandes entrepostos logísticos e criou mentoria de mulheres para mulheres, mas considera que falta mais ação.

Quanto ao tema da descarbonização, realça que há grandes intenções, mas com alguma dificuldade lá chegaremos. “Prefiro grandes targets para 2030 com roadmaps (roteiros) claros do que grandes neutralidades para 2050 sem roadmaps para os atingirmos”, diz.

Mariana Pereira da Silva, responsável de sustentabilidade da Sonae MC, garante que a empresa está atenta à cadeia de valor e que utiliza a ferramenta MCfootprint para ajudar os produtores a medir a sua pegada carbónica e hídrica, orientando-os e comparando-os com outros fornecedores. Além disso, diz que o grupo dá incentivos e melhores condições aos fornecedores que estão mais comprometidos com a sustentabilidade.


José Fernandes

O excesso e a complexidade de legislação imposta pela União Europeia é outro dos temas abordados na conversa com as duas responsáveis do grupo Sonae.

No que respeita à sustentabilidade, Isabel Barros salienta que há legislação produzida mas não executada, e explica que das 166 iniciativas lançadas no âmbito do Pacto Ecológico Europeu, apenas 58 foram concluídas. “Temos de refletir sobre isto. Não que esteja contra, mas temos de acelerar o ritmo”, afirma. No entanto, diz que as empresas do retalho, em Portugal, vão à frente do quadro regulatório. Mariana Pereira da Silva complementa, dizendo que há mais de 250 certificações de sustentabilidade em vigor. “É preciso ter um doutoramento para perceber cada uma”, observa.

A circularidade será um dos caminhos para a sustentabilidade, mas Isabel Barros revela que na Sonae MC “os negócios de circularidade são ainda ‘perdócios’. São experiências para ir ao encontro do desejo dos clientes”. Mariana Pereira da Silva diz ainda que os consumidores do retalho estão atentos e que num estudo que a Sonae fez recentemente concluiu que as pessoas se preocupam em primeiro lugar com o aumento de custo de vida e, em segundo, com as alterações climáticas. A conclusão de que 40% dos consumidores se sente pouco informado sobre estes temas revela a importância de investir em literacia. Isabel Barros termina com uma frase de Cláudia Azevedo, presidente executiva da Sonae: “não é possível ter bons negócios num mau planeta”. 

José Fernandes

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