Há cada vez mais interesse em perceber de que modo é que a alimentação pode afetar a saúde mental. Estudos recentes mostraram que alterações na dieta podem ter um efeito positivo em pessoas com depressão. Em entrevista ao podcast "Que Voz é Esta?", Gabriela Ribeiro, especialista em nutrição clínica e professora na Nova Medical School, em Lisboa, explica que esta relação existe mesmo antes do nascimento, uma vez que a saúde da mãe influencia a biologia da criança. “O mau estado nutricional da mãe pode causar disfuncionalidades no comportamento do bebé a nível emocional."
Em 2017, foi dado um passo muito importante nesta área, com a publicação, pela primeira vez, de um ensaio clínico (conhecido pela abreviatura SMILES) que mostrou que fazer alterações na alimentação, introduzindo alimentos que integram a conhecida dieta mediterrânica, tem um efeito na diminuição dos sintomas de depressão.
Há várias vias a partir das quais os alimentos podem afetar a saúde mental, sendo muitas delas reguladas pela comunicação que o cérebro e o intestino estabelecem entre si, influenciando-se mutuamente. Os sistemas em causa são o imunitário, o endócrino (composto por glândulas que têm como função a secreção de hormonas) e o nervoso. "Cada um destes sistemas engloba uma série de vias que vão ser afetadas pelos micróbios que temos no intestino", e que constituem a nossa microbiota intestinal, explica a autora de vários estudos sobre comportamento alimentar.
Para que essa influência seja positiva e resulte em benefícios para a nossa saúde mental é necessário garantir uma boa microbiota, estando identificados alimentos que contribuem para tal. Destacam-se, entre outros, a fruta, os legumes, os cereais integrais e as leguminosas, pois fornecem fibras dietéticas associadas a efeitos antioxidantes e anti-inflamatórios, e que, através da sua transformação pela microbiota intestinal, podem ter um efeito positivo na saúde mental. Os alimentos e bebidas fermentadas estão igualmente associados a benefícios - e, ao longo deste episódio, a docente explica porquê.
Gabriela Ribeiro antecipa ainda que portas é que a investigação sobre a alimentação e a saúde mental pode abrir, nomeadamente no que diz respeito ao desenvolvimento de fármacos e suplementos alimentares, e à implementação de novas intervenções clínicas. "A nutrição deve ser uma prioridade na prevenção e tratamento da doença mental, a par da terapia e dos fármacos."
“Que voz é esta?” é o nome do podcast do Expresso dedicado à saúde mental. Todas as semanas, as jornalistas Joana Pereira Bastos e Helena Bento dão voz a quem vive com ansiedade, depressão, fobia ou outros problemas de saúde mental, ouvindo igualmente os mais reputados especialistas nestas áreas. Sem estigma nem rodeios, fala-se de doenças e sintomas, tratamentos e terapias, mas também de prevenção e das melhores estratégias para promover o bem-estar psicológico. O podcast conta com o apoio científico de José Miguel Caldas de Almeida, psiquiatra e ex-coordenador nacional para a saúde mental.