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O que é o ISIS-K ou Daesh-K, ramo do autoproclamado grupo terrorista Estado Islâmico?

O Estado Islâmico da Província de Khorasan é um ramo do autoproclamado Estado Islâmico com base no Afeganistão que pretende estabelecer um califado muçulmano e que representa uma séria ameaça terrorista.
O que é o ISIS-K ou Daesh-K, ramo do autoproclamado grupo terrorista Estado Islâmico?
Hussein Malla

O grupo jihadista que se autoproclamou Estado Islâmico ou Daesh tem uma ramificação que procura estabelecer um califado muçulmano no Afeganistão, Paquistão, Turquemenistão, Tajiquistão, Uzbequistão e Irão. Segundo os serviços secretos norte-americanos, representa uma ameaça sobretudo para os afegãos, pela rivalidade e ódio contra os talibãs, os novos senhores do Afeganistão.

Mas outros países estão sob a sua ameaça, como demosntrou o recente atentado em Moscovo. Segundo avançou o New York Times, a secreta norte-americana já tinha recolhido informações de que o Daesh-K estava a planear um ataque a Moscovo. Colin Clarke, analista de contraterrorismo disse ao jornal que o Daesh-K estava “obcecado” pela Rússia nos últimos dois anos, "acusando o Kremlin de ter sangue muçulmano nas mãos, por causa das intervenções de Moscovo no Afeganistão, na Tchetchénia e na Síria”.

Quem é o Estado Islâmico da Província de Khorasan?

Pouco depois de o Daesh ter proclamado um "califado" no Iraque e na Síria em 2014, ex-membros do Tehreek-e-Taliban Pakistan (TTP, Talibã do Paquistão) declararam lealdade ao líder do grupo, Abu Bakr al-Baghdadi, morto em outubro de 2019 durante uma operação conduzida pelos Estados Unidos no norte da Síria.

A eles juntaram-se os afegãos desiludidos com os talibãs e que desertaram. No início de 2015, o Daesh reconheceu oficialmente a criação da província (wilaya) de Khorasan.

Khorasan é o nome antigo dado a uma região que abrangia pares do atual Afeganistão, Paquistão, Irão e Ásia Central.

Nesse ano de 2015, o Daesh-K fixou-se no distrito montanhoso de Achin, na província oriental de Nangahrar, a única onde conseguiu de facto estabelecer-se de forma permanente.

Noutros lugares, o grupo entrou em confronto com os talibãs, embora tenha conseguido formar células adormecidas noutras partes do Afeganistão, nomeadamente em Cabul, e também no Paquistão, de acordo com as Nações Unidas.

As últimas estimativas apontam para um mínimo de 500 a alguns milhares de combatentes, de acordo com um relatório do Conselho de Segurança da ONU divulgado em julho.

Ataques cometidos pelo Daesh-K

O Daesh-K reivindicou alguns dos ataques mais mortíferos dos últimos anos no Afeganistão e no Paquistão. Foi responsável pelo massacre de civis em mesquitas, hospitais ou locais públicos.

A 26 de agosto de 2021 cometeu dois atentados ao aeroporto de Cabul que fizeram dezenas de mortos.

O grupo, sunita radical, tem como alvo principal os muçulmanos que considera hereges, em particular os xiitas.

Um ataque em maio de 2020 a uma maternidade num bairro predominantemente xiita em Cabul matou 25 pessoas, incluindo 16 mães e bebés recém-nascidos.

Por onde passa, este grupo deixa um rasto de destruição. Os terroristas disparam, decapitam, torturam e aterrorizam aldeões e deixam espalhadas minas terrestres por explodir.

A (má) relação com os talibãs

Embora sejam dois grupos radicais sunitas, têm diferenças teológicas bem como de estratégia, mas ambos reclamam incorporar o espírito da jihad (guerra santa). Para o Daesh-K os talibãs são apóstatas.

A repressão dos talibãs tem impedido o Daesh-K de se expandir no Afeganistão, ao contrário do que o Daesh conseguiu fazer no Iraque e na Síria.

Em 2019, o exército afegão, após operações conjuntas com os Estados Unidos, anunciou que tinha derrotado o Daesh-K na província de Nangahrar.

De acordo com avaliações dos Estados Unidos e das Nações Unidas, o Daesh-K tem desde então operado sobretudo através de células adormecidas nas cidades, cujos ataques têm sido muito mediatizados.

Como reagiu o Daesh-K à tomada de poder pelos talibãs?

O Daesh-K criticou muito o acordo para retirar as tropas americanas e estrangeiras do Afeganistão concluído em fevereiro de 2020 em Doha entre Washington e os talibãs, acusando-os de terem renegado a causa jihadista.

Depois de terem entrado em Cabul e tomado o poder a 15 de agosto, os talibãs receberam parabéns de vários grupos jihadistas, menos do Daesh-K.

Questionados pela agência France-Presse, dois especialistas ocidentais no que respeita ao Daesh dizem recear que vá acontecer no Afeganistão o mesmo que aconteceu no Iraque em 2011, com o desenvolvimento em simultâneo do grupo Estado Islâmico/Daesh e o ressurgir da Al-Qaeda.

US AIR FORCE

A ameaça concretizada no aeroporto de Cabul

Depois de vários alertas feitos ao longo do mês de agosto, no início do dia 26 de agosto, responsáveis norte-americanos alertaram que o aeroporto onde se concentravam milhares de pessoas a querer sair do Afeganistão estava sob "ameaça direta e iminente" do Daesh-K.

Estados Unidos, Reino Unido e Austrália apelaram aos cidadãos para saírem do aeroporto e se afastarem o mais possível do local de onde, nos últimos dias, aviões de transporte militar de vários países aliados levaram milhares de pessoas, entre as quais muitos afegãos.

No final do mesmo dia 26 de agosto, um duplo atentado bombista fez dezenas de mortos e centenas de feridos no aeroporto de Cabul.

Os talibãs conquistaram Cabul em 15 de agosto, concluindo uma ofensiva iniciada em maio, quando começou a retirada das forças militares norte-americanas e da NATO.

As forças internacionais estavam no país desde 2001, no âmbito da ofensiva liderada pelos Estados Unidos contra o regime extremista (1996-2001) que acolhia no território o líder da Al-Qaeda, Osama bin Laden, principal responsável pelos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001.

A tomada da capital pôs fim a uma presença militar estrangeira de 20 anos no Afeganistão, dos Estados Unidos e aliados na NATO, incluindo Portugal.

Nota: artigo originalmente publicado a 26 de agosto de 2021

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