Desporto

“Oxalá fosse tudo água”, o desejo de Xavi Torres, o nadador que se comparou aos prémios de Ronaldo e Messi

Depois de sete Jogos Paralímpicos e 16 medalhas, aos 49 anos, Xavi Torres, o nadador espanhol que usou um prémio conquistado por Cristiano Ronaldo para brincar com a sua deficiência, escolheu a Ilha da Madeira para se despedir da competição.

“Oxalá fosse tudo água”, o desejo de Xavi Torres, o nadador que se comparou aos prémios de Ronaldo e Messi
Adam Pretty

Vicente Javier Torres Ramis nasceu na ilha espanhola de Palma de Maiorca, em 14 de junho de 1974. Xavi Torres, como é mais conhecido, começou a nadar aos 10 anos, quando os pais o inscreveram na natação. Apesar de, no início, não ter gostado do lado competitivo da modalidade deu nas vistas e classificou-se para um campeonato nacional, mas acabou por não participar.

Já durante a adolescência mudou de ideia e depressa chegou às grandes competições. Ganhou 16 medalhas nos Jogos Paralímpicos, entre 1992 e 2008, conquistando muitos outros prémios. Esta semana, sem ter avisado os colegas, decidiu terminar a carreira.

A brincadeira com o prémio de Cristiano Ronaldo e o de Messi

Em 2016, quando Cristiano Ronaldo recebeu o segundo dos seus três prémios de melhor jogador do ano da UEFA - uma estatueta sem braços, nem pernas -, o espanhol publicou no Twitter uma foto do futebolista com a frase: "Vejo que nada mudou, aqui estou eu nas mãos de Cristiano Ronaldo".

Um ano antes, Xavi Torres, que usa próteses nas pernas e não tem as extremidades dos braços, tinha feito um comentário semelhante, quando o prémio foi entregue ao argentino Lionel Messi: "Um momento! Sou só eu que acho que o troféu que o Messi tem na mão é muito parecido comigo? Exijo uma explicação".

"O otimismo e o bom humor são essenciais na vida de toda a gente. Alguém com deficiência, que tem de procurar soluções a cada momento para as dificuldades que encontra, precisa ainda mais dessas características", assume Xavi Torres, mostrando-se feliz com a evolução que tem visto no desporto de alta competição para pessoas com deficiência.

O agradecimento aos pais

"Ando por aqui há muitos anos, e a evolução tem sido muita. Gosto de ver como os jovens têm cada vez mais oportunidades de crescerem como desportistas", refere, mostrando-se honrado "por todas as experiências vividas no mundo da natação" e agradecendo aos pais que sempre o obrigaram "mais a procurar soluções do que a ver problemas".

O adeus à competição, na qual também conseguiu medalhas e recordes continentais e mundiais, não vai afastar Xavi Torres, politólogo de formação e com um mestrado em direitos humanos, da natação, área na qual trabalha com atletas sem deficiência.

"Gostava de poder ajudar na preparação para os Jogos Paralímpicos Paris2024, e quero continuar a trabalhar com o grupo de natação pura, com o qual colaboro", admite o nadador, que se estreou em Jogos Paralímpicos em Barcelona1992, o evento que elege como "o grande motor da mudança do desporto adaptado em Espanha".

O atleta usa próteses nas pernas e não tem as extremidades dos braços
China Photos

O recorde mundial de nadar 24 horas seguidas

Vicente Javier Torres Jamis, que compete na categoria S5, publicou em 2019 uma biografia com o título "Sem medo de cair", na qual conta muitas aventuras de uma vida, entre as quais o desafio de bater o recorde mundial de nadar 24 horas seguidas, que concretizou em março de 2002.

O conterrâneo do tenista Rafael Nadal, de quem é amigo, refere que em 2012 decidiu deixar a competição, mas lembra que nessa altura nunca disse que seria uma despedida. Regressou sete anos depois, precisamente na Madeira, nos Europeus de 2021, adiados por um ano devido à pandemia de covid-19.

"Depois de tantos anos sem competir, consegui qualificar-me para Tóquio2020. Fui com uma postura muito realista, queria apenas estar, cheguei a finais".

O atleta confessa que só esta semana, já na Madeira, informou os seus colegas de equipa da decisão de terminar a carreira.

Javier Torres em ação durante os 50m peito masculino nos Jogos Paraolímpicos na Austrália
Scott Barbour

“Oxalá tudo fosse água”

Xavi Torres, que recentemente começou a jogar padel, já perdeu a conta às palestras motivacionais que fez para muitas e diferentes plateias, mas conta que, "de há uns tempos para cá", só as faz com fins beneficentes: "Faço-as para os outros, mas também para mim".

O espanhol está também envolvido no projeto Espai Xavi Torres, da Fundação Maiorca Integra, que, através de uma exposição de objetos pessoais e ateliers para crianças, pretende "familiarizar todos para o desporto para pessoas com deficiência e fomentar a inclusão".

"A vida trata-me bem, não posso pedir mais para mim", assume Xavi Torres, manifestando um desejo: "Oxalá tudo fosse água. Lá, a mobilidade reduzida não existe para muitos de nós".


Com Lusa

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