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De onde vem a sensação de déjà-vu?

De onde vem a intrigante sensação de déjà-vu? Ciência e ficção tentam encontrar explicações para este fenómeno que fascina a humanidade desde sempre.

De onde vem a sensação de déjà-vu?
Inês M. Borges

Todos nós já fomos de certeza invadidos por essa sensação surpreendente, irreal, quase mágica: a de já termos vivido o momento presente. Como se todas as frases que estão a ser ditas, os movimentos que estão a acontecer, já tivessem sido vividos. Que estranho fenómeno é este? Há muitas teorias mas poucas certezas.

O déjà-vu, que em francês significa “já visto”, desperta um grande interesse, de escritores a neurocientistas, ou até no cinema.

É um fenómeno que atinge pelo menos 70% da população, afeta sobretudo os adultos jovens, tanto homens como mulheres, sendo a experiência menos frequente a partir dos 40 anos. Parece também que o déjà-vu ocorre com mais frequência em situações de mais cansaço ou stress.

Mas o fenómeno acaba por ser muito difícil de estudar. Como os episódios são imprevisíveis, nunca acontecem num ambiente de laboratório.

Do paranormal ao racional

Várias teorias surgiram desde o final do século XIX numa tentativa de explicação, mais no domínio filosófico e da literatura do que da ciência, que só mais recentemente se debruçou sobre o assunto.

Algumas teorias associavam a sensação ao paranormal, a vidas anteriores e capacidades psíquicas. Outras, mais científicas, classificaram-na como uma disfunção mental ou um problema cerebral.

No início do século XXI, um cientista norte-americano decidiu analisar tudo o que até então se tinha escrito pelo assunto. Professor de Psicologia na Southern Methodist University, em Dallas, Alan Brown concluiu que:

  • cerca de dois terços das pessoas relatam experiências de déjà-vu em algum momento da vida
  • os principais gatilhos para o fenómeno são situações ou lugares, seguido de conversas
  • Também chamou a atenção para a possível associação entre o déjà-vu e certos tipos de crises de epilepsia no cérebro.

Inspirada pelas pesquisas de Alan Brown, a equipa da professora de Psicologia Cognitiva, Anne Cleary decidiu conduzir experiências para testar hipóteses sobre os mecanismos subjacentes ao déjà-vu.

A equipa debruçou-se sobre a teoria que sugere que a sensação tem mais hipótese de ocorrer quando há semelhanças espaciais entre uma situação atual e outra anterior que não foi memorizada conscientemente.

Os resultados revelaram que ambientes com disposições espaciais semelhantes a situações passadas que não foram “gravadas” conscientemente desencadeiam a sensação de que aquele espaço já tinha sido visto antes, quando na verdade era um espaço semelhante.

Num artigo publicado em The Conversation a cientista explica e dá exemplos.

(Mais um) mistério do cérebro por desvendar

No entanto, esta ideia da semelhança espacial é apenas um dos fatores que pode desencadear a sensação de déjà-vu. Há outros estudos em curso que visam aprofundar a compreensão sobre este fenómeno intrigante que fascina a humanidade há tanto tempo.

O déjà-vu, embora ainda envolto em mistério, revela-se um campo de investigação fascinante que combina a ciência tradicional com a exploração de fenómenos da mente humana.

A busca por respostas sobre o déjà-vu prossegue e cada nova descoberta traz luz sobre este curioso e enigmático aspeto da experiência humana e um pouco mais de conhecimento sobre o nosso cérebro ainda tão misterioso.


Algumas curiosidades sobre o fenómeno:

  • Déjà-vu significa em francês “já visto”
  • As crianças têm menos experiências de déjà-vu do que os adultos
  • "Déjà-vu invertido" - o “jamais vu”, fenómeno em que algo familiar parece estranho ou desconhecido.
  • O déjà-vu pode ser mais comum em situações de stresse ou ansiedade.
  • Algumas pessoas relatam experimentar déjà-vu como se estivessem a reviver um sonho
  • Déjà-vu e auras epiléticas - em alguns casos, pessoas com epilepsia podem experimentar déjà-vu como um sintoma de aura antes de uma crise.
  • Mudanças no ambiente, como iluminação ou sons específicos, podem desencadear o déjà-vu.
  • Déjà-vu e pressentimento - algumas pessoas associam o déjà-vu a uma sensação de premonição ou intuição.
  • Déjà-vu coletivo" - fenómeno em que várias pessoas sentem que estão a viver a mesma situação de déjà-vu ao mesmo tempo.
  • Déjà-vu e memórias falsas - alguns estudos sugerem que o déjà-vu pode estar relacionado à criação de memórias falsas no cérebro.

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