Curiosidades da Ciência

Cientistas anunciam a criação do primeiro embrião humano sintético sem óvulo nem espermatozoide

As estruturas sintéticas semelhantes a embriões humanos poderão ajudar a compreender doenças genéticas ou as causas de abortos espontâneos. Mas levantam questões éticas e legais.

Atualmente os modelos criados estão confinados a tubos de ensaio no laboratório. Seria ilegal implantá-los num útero.
Atualmente os modelos criados estão confinados a tubos de ensaio no laboratório. Seria ilegal implantá-los num útero.
Paul Sakuma / AP

Uma equipa de cientistas nos Estados Unidos e no Reino Unido anunciou ter criado as primeiras estruturas semelhantes a embriões humanos a partir de células estaminais, sem a necessidade de óvulos e espermatozoides.

Essas estruturas sintéticas semelhantes a embriões estão nos estágios iniciais do desenvolvimento, não têm coração nem cérebro, por exemplo, e os cientistas dizem que poderão ajudar na compreensão de doenças genéticas ou das causas de abortos espontâneos.

Mas é uma questão complexa que levanta muitas questões tanto legais como éticas.

Embrião sintético semelhante a humano

O anúncio deste trabalho foi feito pela professora Magdalena Żernicka-Goetz, da Universidade de Cambridge e do California Institute of Technology (CalTech), na reunião anual do International Society for Stem Cell Research em Boston, esta quarta-feira. A professora de biologia e engenharia biológica disse que a investigação foi aceite por uma revista científica conceituada, mas que ainda não foi publicada, revelou o The Guardian.

“Conseguimos criar modelos semelhantes a embriões humanos ao reprogramar as células estaminais embrionárias”, disse Magdalena Żernicka-Goetz.

As estruturas semelhantes a embriões que Zernicka-Goetz diz que o seu laboratório criou foram cultivadas a partir de células estaminais embrionárias humanas que foram induzidas a desenvolver-se em três camadas distintas de tecido - células que normalmente desenvolveriam um saco vitelino, uma placenta e o próprio embrião.

As células estaminais embrionárias têm uma capacidade ilimitada para se desenvolverem e evoluírem para 220 tipos de células diferentes no organismo humano – são pluripotentes. Têm sido objeto de numerosas investigações, mas limitadas pelos constrangimentos éticos da produção, e posterior destruição, de embriões.

Zernicka-Goetz disse que, pelo que sabe, esta é a primeira vez que um modelo de embrião humano é criado com estas três camadas de tecido, mas também sublinhou que, embora imite algumas das características de um embrião natural, não possui todas elas.

“Quero salientar que não são embriões humanos. São modelos de embriões. Mas são muito emocionantes porque são muito semelhantes aos embriões humanos e são um caminho muito importante para descobrir a razão de tantas gestações falharem, já que a maioria das gestações falha no estágio do desenvolvimento que construímos estas estruturas".

Questões legais e éticas

É uma investigação que levanta questões legais e éticas em muitos países, incluindo os EUA e o Reino Unido, que não têm leis que regulem a criação de embriões sintéticos.

Neste momento, estes modelos estão confinados a tubos de ensaio no laboratório. Seria ilegal implantá-los num útero e também não é certo se essas estruturas sintéticas têm potencial para continuar a amadurecer além dos primeiros estágios de desenvolvimento.

O ritmo das descobertas neste campo e a crescente sofisticação dos modelos têm preocupado os especialistas em bioética.

“Ao contrário dos embriões humanos resultantes da fertilização in vitro (FIV), onde existe uma estrutura legal estabelecida, atualmente não há regulamentos claros que regem os modelos de embriões humanos derivados de células estaminais. Há uma necessidade urgente de regulamentação para fornecer uma estrutura para a criação e uso de modelos de embriões humanos derivados de células estaminais”, disse James Briscoe, diretor associado de pesquisa do Instituto Francis Crick, em comunicado.

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