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Documento descoberto nas cinzas do Vesúvio revela as últimas horas de vida de Platão

O local onde Platão está enterrado foi finalmente revelado ao ser decifrado um antigo pergaminho carbonizado na erupção do Monte Vesúvio.

Documento descoberto nas cinzas do Vesúvio revela as últimas horas de vida de Platão
Jon Hicks

As últimas horas de vida de Platão, figura chave na história da filosofia ocidental, e pormenores sobre onde o filósofo grego está enterrado, são agora revelados 2 mil anos depois, graças aos avanços da tecnologia.

Uma equipa de investigadores italianos coordenada pelo especialista em papiros Graziano Ranocchia, da Universidade de Pisa, conseguiu decifrar uma parte de uns pergaminhos com quase 2 mil anos, provenientes da biblioteca de Lúcio Calpúrnio Piso Caesonino, sogro de Júlio César.

Estes rolos de papiro ficaram enterrados no ano 79 d.C. numa villa da cidade de Herculano, cidade romana perto de Pompeia, após os deslizamentos de terra provocados pela erupção do Vesúvio. Foram encontrados em 1752, mas em tal estado de carbonização que o seu estudo foi sempre impossível. O progresso da tecnologia tem permitido avanços decisivos nos últimos meses, no âmbito do projeto “GreekSchools” lançado em 2021 pela Universidade de Pisa, revela o Conselho Nacional de Investigação italiano.

A última noite de Platão

O documento decifrado fornece informações sobre as últimas horas da existência do discípulo de Sócrates e mentor de Aristóteles, por volta de 347 ou 348 a.C.

À beira da morte, Platão teria exigido que uma escrava da região da Trácia, na península balcânica, tocasse flauta. Mas, segundo o autor do texto, o filósofo não gostou muito da melodia, criticando abertamente a falta de ritmo.

Onde Platão está enterrado

Um dos pergaminhos carbonizados pela erupção inclui os escritos de Filodemo de Gadara (que viveu entre 110 e 30 a.C.), um filósofo epicurista que estudou em Atenas e mais tarde viveu em Itália. Este texto, conhecido como “História da Academia”, descreve a academia que Platão fundou no século IV a.C..

Sabe-se que Platão morreu em Atenas em 348 ou 347 a.C. e que foi enterrado na Academia, destruída em 86 a.C. pelo general romano Sula. Mas os historiadores não sabiam exatamente onde estava a sepultura no terreno da escola.

“Das notícias mais importantes, lemos que Platão foi sepultado no jardim que lhe foi reservado (uma área privada destinada à escola platónica) da Academia de Atenas, perto do chamado Museion ou sacellum consagrado às musas”, afirmam os investigadores.

Vendido como escravo

O texto também revela que Platão foi vendido como escravo mais cedo do que se pensava, na ilha de Egina, possivelmente em 404 a.C. quando os espartanos conquistaram a ilha, ou alternativamente em 399 a.C., pouco depois da morte de Sócrates.

"Até agora, acreditava-se que Platão tinha sido vendido como escravo em 387 a.C. durante a sua estadia na Sicília, na corte de Dionísio I de Siracusa. Pela primeira vez, conseguimos ler sequências de letras ocultas nos papiros que estavam envoltas em múltiplas camadas, coladas umas às outras ao longo dos séculos, através de um processo de desenrolamento com uma técnica mecânica que revelou fragmentos inteiros de texto", disse Ranocchia.



Novas técnicas e Inteligência Artificial

Com os avanços da tecnologia, os investigadores utilizaram várias técnicas de ponta, incluindo imagens óticas infravermelhas e ultravioletas, imagens térmicas e tomografia para ler o antigo papiro, que agora faz parte da coleção da Biblioteca Nacional de Nápoles.

Ranocchia diz que a capacidade de identificar essas camadas e realinhá-las virtualmente às suas posições originais para restaurar a continuidade textual representava um avanço significativo em termos de recolha de vastas quantidades de informação. Salientou que o trabalho ainda está nos seus estágios iniciais.

Erupção do Vesúvio em 79 d.C.

Domenico Camardo, um arqueólogo no projeto de conservação de Herculano, compara o impacto da erupção de 79 d.C. em Herculano, uma antiga cidade de praia romana próxima de Pompeia, à queda de uma bomba atómica na cidade japonesa de Hiroshima durante a Segunda Guerra Mundial. Tal foi o calor da onda piroclástica produzida pelo Vesúvio – acredita-se ter sido entre 400°C e 500°C – que os cérebros e sangue das vítimas ferveram instantaneamente.

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