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O que faz uma música ficar na cabeça e alguns truques para a silenciar

Tão persistentes quanto irritantes, há melodias que ficam nas nossas cabeças e não querem sair. A ciência explica e dá-nos algumas soluções para acabar com o problema.

O que faz uma música ficar na cabeça e alguns truques para a silenciar
Inês M. Borges

O fenómeno das músicas que ficam “presas na cabeça”, conhecido em inglês como "earworm", é uma experiência comum em que um trecho ou a melodia de uma música continua a tocar repetidamente na mente, mesmo sem a pessoa estar a ouvir ativamente a música.

Existem várias explicações psicológicas e neurológicas para que uma música fique presa na mente, com base em vários estudos, destacamos duas causas principais:

Em primeiro lugar, a nossa memória musical é extremamente poderosa. Ao contrário da memória verbal, processada apenas pelo hemisfério esquerdo do cérebro, a música é captada pelos dois hemisférios e armazenada nos dois lobos temporais, permitindo que persista por mais tempo na memória.

Além disso, a música tem um poder evocativo único. Se uma situação foi associada a uma música pelo nosso cérebro, é muito provável que ela volte a tocar na nossa mente em situações semelhantes.

  • Repetição: muitas músicas “pegajosas” têm elementos repetitivos, como refrões cativantes ou linhas de melodia que se repetem com frequência. A repetição tende a facilitar a memorização e torna a música mais fácil de se lembrar.
  • Simplicidade e facilidade de memorização: músicas com estruturas simples e padrões melódicos claros são mais fáceis de memorizar, o que as torna mais propensas a ficarem presas na mente.
  • Refrões marcantes: os "hooks" são partes da música que são especialmente cativantes ou memoráveis, como são as linhas de refrão.
  • Associações emocionais: músicas que evocam emoções fortes ou que estão associadas a eventos significativos da vida de alguém têm maior probabilidade de se manterem na memória.
  • Exposição repetida da música: quanto mais vezes uma pessoa ouve uma música, maior é a probabilidade de ela ficar presa na mente, porque a familiaridade reforça a memória musical.
  • Processamento inconsciente: às vezes, mesmo que a pessoa não esteja a prestar atenção à música, o cérebro continua a processar os estímulos auditivos e a música pode permanecer na mente como um "eco" dessa experiência.

As músicas com mais probabilidade de ficarem na cabeça, segundo a ciência:

Num estudo da Universidade de Londres, os investigadores analisaram quais as músicas pop que ficavam na cabeça de diversos voluntários e elaboraram um top 10 das músicas mais viciantes.

Títulos que lideram a lista:

  • "We Are the Champions" dos Queen
  • "Y.M.C.A." dos Village People
  • "The Final Countdown" dos Europe

Não é surpreendente que os sucessos do verão, fáceis de memorizar e frequentemente tocados - consequentemente associados a muitas situações que geram lembranças boas -, fiquem a rondar a nossa memória.

Canções simples e repetitivas tendem a ficar mais facilmente presas na cabeça.

Truques para limpar a cabeça dessa música

A maioria dos earworms acaba por “rastejar” para fora da cabeça por conta própria, mas se uma música está a deixá-lo à beira da insanidade, aqui estão algumas dicas para tentar:

1. Cante outra música ou toque outra melodia num instrumento.

2. Mude para uma atividade que distraia o cérebro.

3. Ouça a música até o fim (funciona para algumas pessoas).

4. Ligue o rádio para sintonizar o seu cérebro noutra música.

5. Partilhe a música com um amigo (mas não se surpreenda se se tornar um ex-amigo…)

Leo Correa / AP

Se a música causa arrepios é porque o cérebro é especial

Ouvir uma música e experimentar sensações físicas como ficar arrepiado ou com um "nó na garganta" é raro e único. Demonstra que o cérebro tem características especiais.

A investigação levada a cabo na Universidade de Harvard pretendia determinar como são desencadeados os "calafrios" quando se ouve uma música. O investigador Matthew Sachs examinou 20 estudantes, 10 que afirmavam ter experimentado essas sensações, outros 10 que diziam não ter qualquer reação física.

Através de eletroencefalogramas, o investigador detetou diferenças na estrutura do cérebro - aqueles com uma ligação emocional e física à música tinham um volume mais denso de fibras que ligam o córtex auditivo às áreas que processam as emoções, ou seja, têm uma melhor ligação entre as duas zonas.

Daqui resulta que, quem tem arrepios ao ouvir uma música, tem muito provavelmente emoções muito mais intensas. Além disso, as sensações também podem estar associadas às memórias ligadas a determinada música.

Os resultados deste estudo foram publicados na revista Oxford Academic e citados na Neuroscience News. Embora este estudo tenha sido feito numa pequena escala, Matthew Sachs prossegue a sua investigação que poderá ajudar no tratamento de alguns problemas neurológicos.

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