Curiosidades da Ciência

Pensar muito também cansa, revela a ciência

A sensação de exaustão física depois de um trabalho intelectual intenso não está só na cabeça.

Pensar muito também cansa, revela a ciência

Não é surpresa que o trabalho físico cansa, mas e o trabalho intelectual? Ficar sentado a pensar muito durante horas seguidas também faz a pessoa sentir-se exausta e os cientistas explicam porquê.

Um dia de trabalho intenso com uma série de tarefas mentalmente exigentes pode deixar uma pessoa esgotada e é mais provável que a seguir vá escolher uma noite relaxante a ver televisão do que enfrentar uma nova tarefa difícil. Mais ainda, a probabilidade de preferir uma recompensa menor mas imediata é muito maior do a hipótese longínqua de uma melhor recompensa.

Quando há um trabalho cognitivo intenso e prolongado por várias horas, são produzidas substâncias químicas potencialmente tóxicas que se acumulam na parte do cérebro conhecida como córtex pré-frontal. Isto, por sua vez, atrapalha o funcionamento do cérebro e altera o controlo sobre as decisões, o que leva a pessoa a decidir por ações que não exigem mais esforço, explicam os cientistas num artigo publicado na revista Current Biology.

"Há teorias que sugerem que a fadiga é uma espécie de ilusão inventada pelo cérebro para nos fazer parar o que estamos a fazer e nos voltarmos para uma atividade mais gratificante", diz Mathias Pessiglione, da Universidade Pitié-Salpêtrière, em Paris.

A nossa investigação mostra que o trabalho cognitivo intenso provoca uma verdadeira alteração funcional – uma acumulação de substâncias nocivas. Assim, a fadiga é de facto um sinal para nos fazer parar de trabalhar, mas com um propósito diferente: preservar a integridade do funcionamento do cérebro.

O que é a fadiga mental?

A equipa de Mathias Pessiglione e Antonius Wiehler da Universidade Pitié-Salpêtrière quis perceber como se determina a fadiga mental.

Para determinar o que se passa no cérebro, usaram a espectroscopia de ressonância magnética para monitorizar a química do cérebro ao longo de um dia de trabalho. Analisaram 40 voluntários, divididos em dois grupos: aqueles que tinham uma tarefa em que precisavam de pensar muito e aqueles que tinham tarefas cognitivas relativamente mais fáceis.

  • Viram sinais de fadiga, incluindo reduzida dilatação da pupila, apenas no grupo que teve de pensar muito.
  • As suas escolhas sofreram uma mudança para opções que propunham recompensas a curto prazo com pouco esforço.
  • Tinham níveis mais elevados do neurotransmissor glutamato nas sinapses do córtex pré-frontal do cérebro.

Juntando os dados com os de pesquisas anteriores, os cientistas afirmam que a "acumulação de glutamato torna cada vez mais difícil a ativação do córtex pré-frontal, de modo que o controlo cognitivo é mais difícil após um dia de trabalho mentalmente intenso".

Os cientistas acreditam que a fadiga mental surge para o cérebro parar e conseguir reciclar as substâncias potencialmente tóxicas que surgem da atividade neuronal.

O cérebro não é como um computador que trabalha sem parar

Existirá alguma maneira de contornar essa limitação da capacidade do nosso cérebro para continuar a trabalhar?

"Infelizmente, não", disse Pessiglione. "Recomendo as boas e velhas receitas: descansar e dormir. Há provas de que o glutamato é eliminado das sinapses durante o sono"

O cientista aconselha ainda as pessoas a evitarem tomar decisões importantes quando estão cansadas.

Evitar o esgotamento

Este estudo pode ter outras implicações práticas, como por exemplo, a monitorização da acumulação de glutamato pode ajudar a detetar a fadiga mental grave de forma a ajustar as agendas de trabalho e evitar o esgotamento.

Outra área de interesse é a pesquisa de doenças em que a fadiga é um sintoma, como a síndrome da fadiga crónica. A presença de glutamato pode esclarecer por que os doentes se sentem tão exaustos.

Mas há ainda muitas outras questões em aberto. Os cientistas querem realizar mais estudos para descobrir por que o córtex pré-frontal parece especialmente suscetível à acumulação de glutamato. Também estão curiosos em saber se os mesmos marcadores de fadiga no cérebro podem ajudar na recuperação de doenças, como depressão ou cancro.

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