Saúde Mental

Cogumelos mágicos podem ajudar no tratamento de depressão grave

O composto psicadélico encontrado nos cogumelos mágicos pode ajudar a aliviar a depressão grave quando combinado com psicoterapia, de acordo com um estudo, o que aumenta a esperança de melhoras para casos que falharam com os antidepressivos existentes.

Cogumelos mágicos podem ajudar no tratamento de depressão grave
PETER DEJONG

Há vários anos que os cientistas estudam os efeitos terapêuticos de substâncias alucinogénias, drogas que atuam no cérebro distorcendo a perceção da realidade e que são na generalidade proibidas. Um novo estudo com uma droga baseada num composto de cogumelos alucinógenios vem mostrar que pode melhorar os sintomas de depressão grave quando combinado com psicoterapia até 12 semanas, trazendo uma nova esperança para aqueles a quem falharam os antidepressivos existentes.

O estudo, publicado na revista científica NEJM, é o maior ensaio clínico alguma vez realizado para avaliar o efeito da psilocibina, uma substância psicoativa naturalmente presente em cogumelos alucinogénios. Vem assim colmatar a falta de uma investigação em larga escala, embora mais pesquisa seja necessária.

Uma única dose de 25 miligramas de uma versão sintética da psilocibina reduziu os sintomas de depressão em pessoas para as quais vários tratamentos convencionais falharam.

Estima-se que cerca de 100 milhões de pessoas em todo o mundo sofram de depressão resistente ao tratamento. Substâncias psicadélicas poderão ser assim uma maneira de as ajudar.

"Estado comparável a um sonho"

Os investigadores testaram uma versão sintética da psilocibina desenvolvida pela empresa Compass Pathway, que também financiou os testes.

Um total de 233 pessoas em 10 países participaram no estudo (depois de interromperem qualquer tratamento que estivessem a fazer), ao mesmo tempo que receberam apoio psicológico.

Os voluntários foram divididos em três grupos aleatoriamente recebendo 1 mg, 10 mg ou 25 mg da versão sintética da psilocibina. As sessões duravam entre seis e oito horas e os participantes nunca ficavam sozinhos.

Alguns descreveram estar imersos num "estado comparável a um sonho" do qual se poderiam lembrar, explicou James Rucker, co-autor do estudo.

Um participante necessitou de administração de sedativo durante a sessão, devido à ansiedade. Mas os efeitos secundários observados (dores de cabeça, náuseas, ansiedade...) foram geralmente moderados e desapareceram rapidamente, segundo os investigadores do Institute of Psychiatry, Psychology and Neuroscience do King's College London and South London e Maudsley NHS Foundation Trust.

Dose elevada com a maior eficácia

Três semanas depois, os pacientes que receberam 25 mg de psilocibina apresentaram melhoras significativas em comparação com os que tomaram doses mais baixas e cerca de 30% estavam em remissão.

Este foi um ensaio de fase 2, que tinha como objetivo determinar a dosagem e confirmar a existência de um efeito apropriado.

Os ensaios da fase 3, com mais participantes, devem começar ainda este ano e prolongar-se até 2025. A empresa que produz a versão sintética da psilocibina já está em negociações com os reguladores de medicamentos norte-americano (FDA) e europeu (AMA).

Efeitos secundários e a longo prazo

Duas questões importantes que têm de ser determinadas são os efeitos secundários e a eficácia a longo prazo.

Durante os ensaios da fase 2, três participantes dos que receberam 25 mg tiveram comportamentos suicidas. Nenhum participante dos outros dois grupos exibiu comportamento semelhante.

Tal aconteceu, segundo Guy Goodwin, professor de psiquiatria em Oxford e responsável da Compass Pathways, mais de 28 dias após o tratamento. "Acreditamos que tenha sido um acaso (...) mas só poderemos descobrir fazendo mais experiências", disse.

A questão da eficácia a longo prazo também permanece sem resposta, uma vez que o acompanhamento dos participantes parou três meses depois. Poderão ser necessárias mais doses, pelo que serão testadas duas doses nos próximos ensaios, disse Guy Goodwin.

Como a psilocibina atua no cérebro

Tomar psilocibina leva a um pico de dopamina (conhecida por regular o humor) e outro neurotransmissor que pode promover a plasticidade cerebral, explicou James Rucker.

“Quando o cérebro está num estado de maior flexibilidade, abre-se o que se considera ser uma janela de oportunidade terapêutica que, no âmbito do acompanhamento médico e da psicoterapia, pode ajudar a provocar mudanças positivas nas pessoas”, disse.

A psilocibina promove "mais comunicação entre as regiões do cérebro", acrescentou Nadav Liam Modlin, também coautor do estudo.

A psilocibina - que não é viciante - também é estudada para outras patologias. como stresse pós-traumático, anorexia, ansiedade, vícios, etc..

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