O Futuro do Futuro

Vasco Portugal: Nos supermercados que usam inteligência artificial “é impossível roubar porque o sistema sabe o que tenho no cesto virtual”

A Sensei já tinha a ideia de criar supermercados autónomos bem antes da Amazon, mas foi devido à gigante do comércio eletrónico que o negócio começou a mudar. Hoje, a startup portuguesa dirigida por Vasco Portugal, já conta com mais de 40 supermercados artilhados em cinco países

Vasco Portugal, líder da Sensei, garante que as tecnologias dos supermercados autónomos da Sensei respeitam a privacidade dos consumidores
José Fernandes

Uma loja autónoma e sem caixas registadoras também pode ser uma loja sem roubos. Pelo menos é essa a expectativa de Vasco Portugal, líder da startup Sensei. “Se tirar um produto de uma prateleira e o esconder dentro de um saco, ou o esconder dentro do casaco, é efetivamente um ato de compra na nossa tecnologia. E isso faz com que seja efetivamente impossível a roubar, porque no momento em que chego à saída da caixa, o sistema sabe efetivamente o que é que eu tenho no cesto virtual, independentemente de eu ter guardado esse item”, responde em entrevista ao podcast Futuro do Futuro.

Vasco Portugal, líder da Sensei, está apostado em demonstrar que os profissionais de supermercados podem trocar as caixas registadoras por outras funções que valorizam o negócio
José Fernandes

Com mais de 40 lojas instaladas a operar em cadeias de retalho de cinco países, a Sensei conta já com um investimento de 10 milhões de euros que tem em vista o desenvolvimento de supermercados de nova geração, que estão “artilhados” de múltiplas câmaras e sensores, que recolhem dados e detetam, em tempo real, cada produto retirado das prateleiras através da análise de inteligência artificial – e debitam automaticamente na conta bancária o custo final das compras, quando o consumidor sai, mesmo que tenha guardado as compras no bolso.

Para ilustrar o “antes” e o “depois” dos supermercados autónomos, Vasco Portugal trouxe um som e uma foto para o podcast Futuro do Futuro. No som, é possível escutar o som das máquinas registadoras em funcionamento permanente. A foto foi tirada num supermercado instalado em Itália e tem como protagonista um cliente nonagenário que usou a loja sem grande dificuldades.

Consumidor nonagenário a usar um dos supermercados autónomos que foram instalados pela Sensei em Itália

Vasco Portugal garante que os custos de energia de todos estes equipamentos em funcionamento é “negligenciável” face aos custos típicos de uma supermercado tradicional, e lembra ainda que a Sensei já tira partido da resiliência histórica destes espaços comerciais, que dispõem de UPS (baterias de grande capacidade) para poderem operar sem eletricidade, e redes locais que funcionam mesmo quando a Internet está em baixo.

Sendo uma das marcas de referência no desenvolvimento dos “supermercados 2.0”, a Sensei acaba por ter entre as principais concorrentes a poderosa Amazon que, não só tem vindo a expandir o comércio eletrónico para o segmento dominado pelas tradicionais compras para despensa doméstica, como ainda tem investido em supermercados autónomos, sem caixas registadoras, como a Sensei.

Vasco Portugal recorda os ensinamentos da pandemia de covid-19 que potenciou a lógica de compra em vários vias e canais comerciais, em vez de ter afunilado a oferta na Internet.

“Às vezes preciso do produto já. Eu quero sair porta fora e quero buscar uma água. E isso não vou encomendar online. Às vezes quero efetivamente ver o pão fresco a sair do forno. Às vezes quero ver a carne e escolher a carne que estou a comprar, o peixe que estou a comprar. E isso implica que tenha essa experiência disponível para mim. E às vezes simplesmente quero encomendar para casa”, refere.

Vasco Portugal assegura que a Sensei toma todas as medidas para garantir a privacidade e o anonimato de quem é monitorizado em loja, e também rejeita outro ponto polémico, que está relacionado com o potencial desemprego gerado pela evolução tecnológica. Os profissionais dos supermercados equipados pela Sensei já não se encontram atrás das caixas registadoras, mas podem assegurar outras funções de apoio e esclarecimento nas lojas.

“As pessoas que hoje trabalham numa loja nossa fazem um trabalho muito mais humano, muito mais próximo daquilo que provavelmente eram as minhas memórias de criança de um supermercado. Eu nasci numa terra mais pequena. Quando era mais novo, não havia grandes cadeias de supermercado. Era uma senhora que ficava inclusive com as chaves de casa quando eu saía da escola. E era uma pessoa que no fundo fazia um trabalho que não é necessariamente de caixa”, responde o líder da Sensei, numa entrevista em que perspetiva a entrada na rotina dos supermercados autónomos para os tempos mais próximos.

Hugo Séneca conversa com mentes brilhantes de diversas áreas sobre o admirável mundo novo que a tecnologia nos reserva. Uma janela aberta para as grandes inovações destes e dos próximos tempos.

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