A Beleza das Pequenas Coisas

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“Em 2020 escrevi numa peça o final da democracia em 2028. Prefiro o risco do pessimismo no teatro para ter otimismo na vida”

Quatro anos após a estreia do premiado espetáculo “Catarina e a Beleza de Matar Fascistas”, o atual diretor artístico do Festival de Avignon, em França, Tiago Rodrigues, acaba de publicar o seu texto da peça em livro, pela Tinta da China. Nesta conversa, feita no rescaldo do espetáculo “Na Medida do Impossível”, sobre as experiências limite de profissionais humanitários em situações impossíveis, o encenador e dramaturgo Tiago Rodrigues, Prémio Pessoa em 2019, reflete sobre as revoluções que faltam fazer para a saúde da democracia, nos 50 anos do 25 de Abril. Ouçam-no nesta conversa em podcast com Bernardo Mendonça

Quantas vezes o que achava impossível de acontecer no cenário político e na sociedade portuguesa se tornou, afinal, possível? Quantas vezes o mundo pareceu impossível de suportar, pelas guerras, pela fome, pela crise, pelos extremismos, pela polarização, pela desesperança e violência, pelas renovadas ameaças à democracia e à liberdade?

E quantas vezes uma notícia, um acontecimento - uma certa candidatura ou resultado eleitoral - pareceu sair de uma peça de teatro ou de um filme?

O encenador, dramaturgo e atual diretor artístico do Festival de Avignon, em França, Tiago Rodrigues, há muito que escolheu o teatro para refletir sobre a vida, a sociedade, o mundo e sobre o melhor e o pior da humanidade.

Os seus espetáculos são sempre um acontecimento. Entre dezenas deles, vale a pena destacar o “Sopro”, de 2019, que homenageava Cristina Vidal, a última mulher ponto do Teatro Nacional D Maria II, que durante mais de 25 anos foi o sopro invisível de tantas atrizes e atores.

Mas há uma outra peça escrita e dirigida por si, que certamente se inscreveu num dos espetáculos mais importantes, necessários e disruptivos do teatro português contemporâneo.

Tem como título “Catarina e a Beleza de Matar Fascistas”, que provocou polémica ainda antes de estrear, só pelo nome, e que desde 2020 tem esgotado salas, recebido prémios, e originado um rico e intenso debate sobre o que importa fazer para defender a democracia. E sobre as novas ameaças ultra radicais de direita agora que se celebram os 50 anos do 25 de abril.

O texto de Tiago Rodrigues deu entretanto origem a um livro que acaba de ser lançado, pela Tinta da China, e que parece ser um oráculo dos tempos funestos que vivemos e do que poderá ainda vir a acontecer com a liberdade em Portugal.

A peça centra-se numa família que tem por tradição matar fascistas, ritual que a mais nova de todos, Catarina, se recusa a cumprir.

O espetáculo levanta questões como: “Há lugar para a violência na luta por um mundo melhor? Podemos violar as regras da democracia para melhor a defender?” A peça termina com um longo e manipulador discurso de um membro de um partido ultra populista de direita, então no poder, que em 2020 tinha apenas um deputado, mas que conseguiu chegar aos 117, alcançando maioria absoluta.

E quase sempre, em todas as noites, house pessoas a abandonar a sala, outras que gritaram com fúria para o palco, outras que se contorciam na cadeira, ou que se levantaram por ser insuportável aguentar o que escutavam. Uma experiência social em teatro sem memória no nosso país. Vida, teatro, vida. O teatro a tomar o pulso ao momento que vivemos e a servir de espelho e de lente para interpelar o público, que se via forçado a entrar no jogo.

Tiago revela neste podcast o processo de construção desta peça, as discussões e dúvidas, e as situações surpreendentes que foram acontecendo ao longo da carreira deste espetáculo.

Um abanão de todo o tamanho provocado por Tiago Rodrigues a relembrar que o teatro, e a arte no geral, também pode servir para isto. Também deve servir para isto. Para refletir sobre o estado das coisas. Nesta conversa, Tiago Rodrigues abre o pano e revela o bastidor e as próprias dúvidas que foram assaltando a equipa até à estreia.

Esta conversa com Tiago Rodrigues, atual diretor do festival de Avignon, em França, que antes foi diretor do Teatro Nacional D. Maria II, acontece no rescaldo do seu último espetáculo “Na medida do Impossível”, que esteve até há poucos dias no palco da Culturgest, elaborado a partir de entrevistas com pessoas que trabalham no Comité Internacional da Cruz Vermelha e nos Médicos Sem Fronteiras.

Uma peça que resgata a experiência de profissionais humanitários para falar das suas vivências nas condições limite em que trabalham diariamente.


Como administrar um campo de refugiados? Como lidar com as escolhas de vida ou morte? Como continuar quando sabem que não vão mudar o mundo? O que os move? Há esperança em quem trabalha em cenários de violência e desesperança? Tiago responde a tudo isto.

E mais. Dá conta de como está a ser a experiência de ser emigrante em França, e diretor do maior Festival de Teatro do mundo, e afirma que faz teatro para combater a solidão, pelo encontro com os outros, e que tem sempre um pé na primavera.

Como sabem, o genérico é assinado por Márcia e conta com a colaboração de Tomara. Os retratos são da autoria de Matilde Fieschi. E a sonoplastia deste podcast é de João Ribeiro.

Até para a semana e boas escutas!

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