Quando falamos de poluição pensamos no exterior, fumos de fábricas, de carros… mas o interior das nossas casas tem vários poluentes escondidos. E são muitos os que viajam à boleia dos nossos sapatos.
Provavelmente limpamos os sapatos se pisarmos lama ou algo mais nojento. Mas quando chegamos a casa, tiramos os sapatos antes de entrar? Muitas pessoas não o fazem, nem pensam no que levam para casa a arrastar nas solas dos sapatos.
Os cientistas que estudam o assunto avisam-nos que é melhor prestarmos atenção a isso e começarmos a deixar todos os sapatos à porta antes de entrarmos em casa.
Uma equipa de químicos ambientais da Austrália estuda há mais de uma década os espaços interiores e os contaminantes aos quais as pessoas estão expostas dentro das suas próprias casas. Desenvolveu o programa DustSafe para perceber de onde vêm os contaminantes encontrados no interior das nossas casa.
O que temos dentro de casa?
O material que se acumula dentro de casa não é só o pó ou os pelos deixados pelos animais de estimação: cerca de um terço da sujidade vem de fora, trazida pelo vento ou pelas solas dos sapatos – capazes de recolher tudo o que estiver no chão. E lá pelo meio veem muitas vezes microorganismos nada benéficos, como patógenos resistentes a medicamentos, incluindo agentes infecciosos muito difíceis de eliminar.
Alguns contaminantes encontrados dentro de casa:
- Bactérias resistentes a antibióticos
- Produtos químicos desinfetantes para ambiente doméstico
- Microplásticos
- Substâncias polifluoroalquiladas (PFAS), os “produtos químicos eternos” por causa de sua longa vida útil e tendência em permanecer no corpo sem se degradar. São usados numa infinidade de produtos industriais, domésticos e em embalagens de alimentos
- Elementos radioativos
- Toxinas cancerígenas dos resíduos do asfalto e desreguladores endócrinos dos produtos químicos da relva.
Os primeiros dados transcontinentais sobre sujidade doméstica
Investigadores de vários países juntaram-se num projeto para o registo dos primeiros dados globais sobre a sujidade doméstica, o primeiro esforço para um único estudo.
Pessoas de 35 países aspiraram as suas casas e enviaram os resíduos para universidades em diferentes países, onde foram testados para vestígios de metais potencialmente tóxicos - como arsénico, cádmio e chumbo.
Esses contaminantes – especialmente o chumbo, uma neurotoxina perigosa – são inodoros e incolores. Não é fácil saber se estamos expostos a chumbo apenas no exterior de casa ou por causa das canalizações de água revestidas a chumbo ou se este metal está também nos solos de madeira da nossa sala de estar.
Os vários estudos entretanto realizados demonstram que há uma ligação muito forte entre o chumbo presente em sua casa e o que está no solo do seu jardim.
Correntes de ar, os nossos sapatos, as patas dos cães e dos gatos trazem-no para dentro das nossas casas.
Antecipar problemas para evitá-los
Daí a importância de garantir que os materiais do ambiente exterior permaneçam onde estão.
Algumas dicas:
- usar esfregona em vez de vassoura e um pano húmido para o pó em vez de um pano seco
- lavar roupas de trabalho separadamente
Sapatos versus pantufas em casa
Existe alguma desvantagem em andar em casa sem sapatos? Além do clássico e doloroso pisar de Legos, do ponto de vista da saúde ambiental não há desvantagens.
Ao deixar os sapatos à porta de casa estamos também a deixar lá foram muitos agentes patogénicos potencialmente perigosos.
Todos nós sabemos que a prevenção é muito melhor do que o tratamento. Tirar os sapatos é uma ação de prevenção básica e fácil para muitos de nós.
Não é preciso um lar esterilizado
Resta a questão da “síndrome do lar esterilizado”, que se refere ao aumento dos índices de alergia em crianças. Alguns afirmam que está ligado a lares excessivamente estéreis.
De fato, um pouco de sujidade chega a ter um papel benéfico, os estudos indicam que ajuda a desenvolver o sistema imunitário e reduz o risco de alergias.
Mas há formas mais eficazes e menos repugnantes de o conseguir do que andar dentro de casa com os sapatos sujos, como simplesmente passear e aproveitar o ar fresco da rua.