Saúde e Bem-estar

Eliminar uma bactéria pode ser a solução para a endometriose

Resultados de uma investigação demonstram que o tratamento com antibiótico pode ser uma alternativa aos tradicionais métodos com terapias hormonais ou cirurgia.

Eliminar uma bactéria pode ser a solução para a endometriose
skaman306

Uma infeção por um determinado grupo de bactérias pode estar ligada à endometriose, uma condição dolorosa que afeta até 10% das mulheres e meninas em idade reprodutiva, revelam cientistas da Universidade de Nagoya, no Japão. E eliminar esse micróbio com antibiótico deverá ser um método eficaz de tratar a doença.

Num estudo que envolveu 155 mulheres no Japão, foram encontradas bactérias da classe Fusobacterium no útero de cerca de 64% das mulheres com endometriose e em 7% sem a doença.

Foram também realizadas experiências com ratinhos de laboratório infetados com Fusobacterium que mostraram que o tratamento com um antibiótico pode reduzir o tamanho e a frequência das lesões associadas à endometriose.

Os investigadores sublinham que têm de ser realizadas mais experiências antes desta descoberta, publicada na revista científicaScience Translational Medicine, poder ser usada para desenvolver tratamentos para a endometriose.

Lesões dolorosas

A endometriose afeta uma em cada dez mulheres entre 15 e 49 anos. O sintoma mais comum é a dor, que pode ser intensa e pode causar infertilidade.

Os tratamentos incluem terapias hormonais, que também atuam como contracetivos, e cirurgia para remover as lesões - procedimentos que podem ter efeitos secundários, nomeadamente, impactos significativos numa gravidez.

É causada pela migração de tecido do revestimento do útero, chamado endométrio, para outras partes do corpo – na maioria das vezes para órgãos na região pélvica, como ovários ou trompas de Falópio – onde se agarra e vai crescendo.

Causa frequentemente lesões nos órgãos reprodutivos e está associada à redução da fertilidade. E pessoas com lesões nos ovários têm um risco acrescido de desenvolver cancro do ovário.

“Queremos encontrar novas terapias. Mas primeiro temos que saber a razão pela qual as pessoas sofrem de endometriose”, diz Yutaka Kondo, biólogo especializado em cancro da Universidade de Nagoya e coautor do artigo.

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Fusobacterium

Estas bactérias encontradas no útero de cerca de 64% das mulheres com endometriose que participaram no estudo são frequentemente encontradas na boca, intestino e vagina e têm sido associadas a outros problemas, como doenças das gengivas.

Mas ao mesmo tempo, certas espécies desta bactéria são capazes de viver pacificamente nos nossos organismos sem nos causar mal nenhum.

“Espécies da classe Fusobacterium são conhecidas por fazerem parte da microbiota do trato gastrointestinal e oral e têm uma relação simbiótica com os seus hospedeiros”, explicam os cientistas.

Uma esperança nos antibióticos

As atuais opções de tratamento para a endometriose são baseadas em terapia hormonal, como a supressão da ovulação a longo prazo, ou a remoção cirúrgica de lesões.

No entanto, "criar um ambiente relativamente hipoestrogénico pode levar a efeitos adversos e as mulheres não podem engravidar durante o tratamento”, dizem os cientistas

"O tratamento cirúrgico é geralmente necessário quando não se consegue tratar a dor pélvica. No entanto, há uma alta taxa de reincidência da doença após a remoção cirúrgica de lesões".

A descoberta desta equipa sugere que atacar e eliminar as Fusobacterium com antibiótico não hormonal pode ser eficaz para a endometriose nas mulheres com a infeção.

“A erradicação dessa bactéria com antibióticos pode ser uma abordagem para tratar a endometriose em mulheres com a infeção por Fusobacterium e essas mulheres podem ser facilmente identificadas através de esfregaço vaginal ou uterino”, diz Kondo.

O Departamento de Obstetrícia e Ginecologia do Hospital Universitário de Nagoya está neste momento a fazer ensaios clínicos do tratamento com antibióticos em pacientes humanos com endometriose.

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