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O trajeto da Estónia: das ocupações russa e soviética a país emergente da União Europeia

A história deste país báltico é marcada por uma mistura de influências culturais e ocupações ao longo dos séculos. Desde a adesão à UE e à NATO em 2004, tem sido reconhecida pelo seu rápido desenvolvimento económico e tecnológico.

O trajeto da Estónia: das ocupações russa e soviética a país emergente da União Europeia
PETRAS MALUKAS

A Estónia é um dos países que protagonizou o maior alargamento da União Europeia há 20 anos.

A história deste país báltico é marcada por uma mistura de influências culturais e ocupações ao longo dos séculos, incluindo da Suécia, da Rússia e, por último, da União Soviética.

Após a I Guerra Mundial, a Estónia declarou independência em 1918, tornando-se uma República democrática. No entanto, a independência foi efémera. Em 1940 foi ocupada pela União Soviética. Após um breve período de ocupação nazi, a Estónia foi novamente ocupada pela União Soviética até 1991. A independência foi restaurada em 1991, com o colapso da União Soviética.

Desde então, a Estónia tem sido uma democracia parlamentar, aderiu à União Europeia e à NATO em 2004 e tem sido reconhecida pelo seu rápido desenvolvimento económico e tecnológico.

Décadas de dependência soviética

O percurso da Estónia é de disputas e ocupações, da reconquista da independência em 1991, após décadas de dependência soviética, e início de um processo de integração na União Europeia (UE) há 20 anos.

Depois de séculos sob domínio de Dinamarca, Suécia e até Rússia, em 24 de fevereiro de 1918 a Estónia apresentou a sua declaração de independência, mas a Segunda Guerra Mundial coartou a soberania deste país do Báltico, primeiro com a invasão da União Soviética, em 1940, a ocupação da Alemanha Nazi um ano mais tarde e a reocupação por parte de Moscovo em 1944.

A Cortina de Ferro ergueu-se e assim ficou até 1991, quando a dissolução do bloco soviético abriu caminho para a reconquista da independência. Quebrar com um passado de perda de soberania impunha-se, por isso a Estónia iniciou o caminho para aderir à União Europeia e fazer parte do último grande alargamento do bloco comunitário.

FMI dá “aval” à Estónia em 2000

Em setembro de 2000 o Fundo Monetário Internacional (FMI) deu conta de que a Estónia "tinha como prioridade a integração na UE" e que estava a fazer uma "rápida transição para uma economia de mercado e integração na economia mundial".

Para isso contribuiu, de acordo com o FMI, um Acordo de Associação de 1998, que estabeleceu um diálogo permanente entre a Comissão Europeia de Jacques Santer e Tallinn.

O FMI chegou a fazer um paralelismo com Portugal, Espanha e a Irlanda para descrever a relação entre os custos e benefícios da adesão da Estónia à UE, notando que os três países registaram "um crescimento rápido" depois de integrarem o bloco comunitário e que o mesmo era expectável para o país do Báltico.

Corrupção, uma herança soviética

Mas havia um obstáculo difícil de ultrapassar: décadas de corrupção e dependência de Moscovo, fruto da ocupação soviética.

"Não havia outra maneira, tínhamos de fazer as reformas que tinham pedido antes de integrarmos a União Europeia", sustenta a primeira-ministra da Estónia, Kaja Kallas, em entrevista à agência Lusa.

A primeira-ministra reforça que era do interesse do país "acabar com a corrupção": "Os investidores confiam na nossa economia quando confiam no Estado de Direito".

"Foi difícil para nós, na década de 1990… Quando estávamos sob ocupação, a União Soviética normalizou a corrupção. Era OK roubar do Estado, já que o Estado era ocupante. De certa maneira, prejudicávamos o regime roubando o regime. Quando alcançámos a nossa liberdade, de repente deixou de ser 'OK roubar do Estado. Era nosso! Por isso é que hoje somos um dos países que mais luta contra a corrupção", sustentou.

Das negociações à adesão à UE

As negociações para a adesão da Estónia decorreram entre 1998 e 2002.

De acordo com um relatório do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Estónia, de 2009, também foi importante explicar à União Europeia os benefícios da integração da Estónia.

Ethel Halliste, secretária de imprensa do Ministério dos Negócios Estrangeiros entre 1997 e 1999 e secretária de imprensa da missão da Estónia para a UE entre 1999 e 2003, descreveu um processo que implicava informar a população estónia e outras partes interessadas no estrangeiro de todas as etapas do processo, "apresentando o país e criando uma imagem positiva entre os Estados-membros da UE".

Internamente, o Governo, ainda a atravessar um processo de transição democrática que precisava de consolidação, ficou responsável por insistir na vontade de fazer parte da UE.

Seguiram-se uma série de eventos em universidades e grupos de reflexão, com jornalistas convidados, para implantar a ideia de que o país estava pronto para aderir à União, revelou Ethel Halliste.

Concretizada a adesão, a Estónia procurou uma maneira de quebrar com o estigma que persistia por ser um dos países mais periféricos.

20 anos como parte da UE e da NATO

Praticamente 20 anos depois de aderir, a Estónia destaca-se no mapa dos 27 por ser o país no mundo com mais startups "unicórnio" (as que estão avaliadas em mais de mil milhões de euros) 'per capita'.

Para esta conquista contribuíram a população pequena (cerca de 1,3 milhões de pessoas), um grande desenvolvimento tecnológico e incentivos à inovação, a par de um ambiente propício para empresas que queiram fixar-se no país.

A proximidade à Rússia - são pouco mais de 200 quilómetros até à fronteira - também levou o país a continuar a investir na área da defesa.

Em 2023, a Estónia investiu 2,96% do seu produto interno bruto (PIB) em defesa, bem acima dos 2% de mínimo exigido pela Organização do Tratado do Atlântico Norte e é o quarto país que mais investe nesta área no conjunto dos 32 países da aliança político-militar, à qual se juntou também em 2004.

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