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As pessoas com esquizofrenia não são incapazes nem perigosas

Estamos em 2024 e continuamos a usar o termo esquizofrénico fora de contexto. Quer seja como insulto ou para ridicularizar, usar esquizofrénico como adjetivo faz com que o estigma associado a esta doença aumente, e isso só dificulta o apoio a quem realmente tem um diagnóstico de esquizofrenia.

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A esquizofrenia é uma doença psiquiátrica crónica que afeta cerca de 1% da população em todo o mundo, surgindo habitualmente entre o final da adolescência e o início da idade adulta.

O diagnóstico, tipicamente, faz-se numa altura em que os sintomas se tornam mais exuberantes e evidentes, apesar de muitas vezes já termos presentes alguns sinais mais subtis, com impacto no funcionamento habitual da pessoa.

Os sintomas

Os sintomas característicos da esquizofrenia podem ser classificados como sintomas positivos e negativos, mas não é no sentido de serem coisas boas ou más. Falamos de sintomas positivos porque implica o aparecimento de alterações de comportamento. E negativos quando se trata da redução ou ausência de características presentes em pessoas saudáveis.

Os sintomas positivos da esquizofrenia incluem delírios, que são crenças irrealistas ou fantasiosas, como ideias de perseguição ou conspiração que não se explicam no contexto cultural. Inclui também alucinações, que levam os doentes a ouvir vozes de pessoas, ou ver coisas que não existem no mundo exterior; e também alterações do comportamento e desorganização do pensamento, isto faz com que o discurso seja por vezes difícil de compreender, por ser incoerente e com pouca lógica.

Já nos sintomas negativos falamos da perda de competências. Por exemplo, a perda de motivação, perda de capacidade de se relacionar com outras pessoas, perda de prazer, ou perda de raciocínio lógico e de prestar atenção. Tudo isto tem inevitavelmente um enorme impacto na função do dia a dia, promovendo um isolamento social progressivo.

Para além dos sintomas positivos e negativos, podem estar presentes outros sintomas emocionais, como ansiedade e depressão.

O diagnóstico

Não sabemos exatamente porque acontece, mas sabemos que depende de vários fatores, como a genética, fatores relacionados como o neurodesenvolvimento, fatores ambientais, exposição ao stress e o consumo de drogas, especialmente quando feito numa idade jovem.

Não existe um exame específico para confirmar que se trata de uma esquizofrenia, e os exames que se fazem servem essencialmente para excluir outras causas que expliquem o quadro clínico como doenças neurológicas.

O tratamento

O tratamento tem como objetivo melhorar os sintomas e alterações de função. Isto inclui medicação, psicoterapia, reabilitação cognitiva e intervenções de suporte social. Apesar de não haver uma cura, com tratamento adequado e reabilitação podemos ter remissão e controlo dos sintomas na grande maioria dos doentes, e isto melhora de uma forma significativa a qualidade de vida.

O importante é que se deixe de estigmatizar esta doença, e que se desmistifique a ideia de que pessoas com esquizofrenia serão para sempre incapazes ou até que podem ser perigosas e imprevisíveis. Até porque a maioria dos doentes não são violentos ou perigosos, e há até estudos que mostram que não só as pessoas com esquizofrenia não são mais perigosas que a restante população, como até têm maior risco de serem vítimas de violência ou abuso.

Se conhece alguém que precisa de ajuda, ou se algum destes sintomas lhe deixou dúvidas, fale com um profissional de saúde especializado.


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