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Caça ao valioso e alucinogénio mel dos Himalaias: uma viagem de alto risco

As montanhas do Nepal, conhecidas pela sua beleza natural, atraem um milhão de turistas todos os anos e oferecem algo extraordinário. Mel. Um dos mais estranhos do mundo. Para chegar até ele, vários aldeões arriscam a vida.

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Esta é uma viagem apenas para os mais experientes, mais corajosos e mais valentes. Os repórteres da Rudaw arriscaram e participaram na tradição da “Caça ao Mel Louco”.

O primeiro destino é uma aldeia no sopé dos Himalaias. A aldeia fica a cerca de 1500 quilómetros de Katmandu. A viagem de carro dura dois dias. As estradas são muito difíceis, estreitas e são construídas ao longo de grandes falésias. Um pequeno erro pode ser desastroso. O que vale é que os locais conhecem bem o terreno.

Quando chegam à aldeia são considerados hóspedes sagrados. Uma mulher mais velha, que sabe que vão à procura de mel, abençoa-os com um colar e reza por uma viagem segura. Todos conhecem bem o perigo que representa uma caçada, mesmo contando com a ajuda dos homens mais experientes da terra.

“Às vezes também damos às galinhas doentes”

No dia seguinte preparam mais uma viagem. A aldeia chama-se Tanji. Situa-se a cerca de mil metros acima do nível do mar, aninhada entre colinas imponentes.

As abelhas que vivem na zona alimentam-se da flor de rododendro (uma flor de alta altitude), recolhem o néctar dessa flor e produzem um mel ligeiramente tóxico que contém grayanotoxinas e que pode causar intoxicações quando consumido. Na aldeia é utilizado para vários fins, incluindo medicinais e recreativos. Acreditam que é um remédio para uma série de problemas de saúde.

“Consumimo-lo com moderação. Em excesso causa vómitos, náuseas e embriaguez. Misturamos pequenas quantidades com água e tomamos para a gripe, constipações e febre. E, às vezes, também damos às galinhas doentes”.

“A zona está cheia de sanguessugas que se agarram à pele das pessoas”

Procurar mel é muito perigoso. Os caçadores de mel no Nepal arriscam frequentemente a vida para o recolher. Descem penhascos, usando cordas e cestos feitos de bambu. Este ano uma pessoa caiu de um penhasco e o copo ainda não foi encontrado. As muitas quedas, os mosquitos, as abelhas e os violentos ataques de sanguessugas são apenas alguns dos perigos com que têm de lidar.

A caminhada prossegue e é um autêntico desafio. A zona está cheia de sanguessugas que se agarram à pele das pessoas e se alimentam de sangue.

“Elas fixam-se no corpo e sugam o sangue. Só as sentimos quando já beberam bastante sangue”.

Um caçador aguenta 22 picadas de abelha?

Através de binóculos e com a ajuda de um drone da equipa de reportagem o grupo tenta localizar uma colmeia. Consegue, mas a caçada fica para o dia seguinte. Todos passam a noite ao relento, atentos aos leopardos que existem na zona. A boa notícia é que choveu, por isso há menos mosquitos.

Bem cedo começa uma nova caminhada. Cerca de 20 homens da aldeia, cada um com uma função específica, dirigem-se à colmeia para a recolha do mel. Tudo é tratado ao pormenor. A preparação é longa, é um trabalho conjunto, com a supervisão dos mais velhos. Os mais novos ficam com as tarefas mais pesadas.

Os homens de meia idade fazem a colheita. Krishna Gauley, com 15 anos de experiência, desce descalço e sem luvas. Logo que a colmeia é mexida, saem milhares de abelhas. Krishna usa um pau para as afastar. Diz que se for picado até 22 duas vezes terá apenas dores e algum inchaço, mas se for mais do que isso ficará doente.

O mel é recolhido em duas épocas no ano: de outubro a novembro ou de maio a julho.

“Sabe a mel e a uma espécie de carne”

As abelhas dos Himalaias vivem entre 2500 a 3000 mil metros acima do nível do mar. São a maior espécie de abelhas do mundo. Medem cerca de três centímetros. O favo de mel contém larvas de abelha. Dizem que é muito nutritivo.

Numa primeira análise, o repórter da Rudaw, depois de trincar um favo de mel diz que “sabe a mel e a uma espécie de carne”. Não muito tempo depois avisou o grupo que sentia um desconforto no estômago. O mel demora entre 20 minutos a uma hora a provocar sintomas e não há maneira de saber qual a dose segura.

Já de regresso à aldeia, os caçadores retiram o mel dos favos com as próprias mãos. A operação rendeu 500 gramas de mel louco. Cada 200 gramas vale 400 dólares (cerca de 370 euros).

“Sinto-me como se o corpo estivesse a pairar”

Sobre os efeitos alucinogénio, só mais tarde, em terra firme e perto do hospital, o repórter arrisca perceber o que o mel provoca no organismo.

“Agora sinto-me mais leve como se o corpo estivesse a pairar. O meu corpo sente-se relaxado como com outras substâncias, mas é fascinante como o mel pode ter um efeito tão grande no corpo humano”.

Da viagem ficam algumas quedas, várias sanguessugas agarradas à pele e uma picada de abelha na cara de um dos elementos da equipa de reportagem. Uma experiência dura mas certamente inesquecível.

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