Desporto

Opinião

Liderança do Sporting é obra do Macaco

Opinião de João Rosado. Desde a detenção de Fernando Madureira, os 15 pontos desperdiçados pelos dragões davam para partilharem o topo... pelo menos até logo à noite.
Liderança do Sporting é obra do Macaco
Diogo Cardoso

O discurso do envergonhado Diogo Costa no final do FC Porto-Famalicão que deixou os anfitriões a 15 pontos do Sporting não foi apenas um discurso mas também mais uma prova de que na Invicta abundam as razões para se pensar com urgência no recrutamento de outro grande guarda-redes para 2024/25.

Diogo é de longe o ativo mais interessante para os dragões e, atendendo à produção no campeonato, só um milagre evitará que a nova administração da SAD escape à obrigatoriedade de vender o camisola 99. Sem vislumbrar realisticamente a Liga dos Campeões e com as dificuldades de tesouraria que tanto têm contribuído para animar a batalha eleitoral, parece inevitável a transferência de um produto do Olival que pode bater recordes de encaixe.

Como tem sido reconhecido, só um superagente como Jorge Mendes poderá garantir a saída do jogador pela cláusula de rescisão, embora os 75 milhões de “franquia” tenham ficado um pouco mais baratos depois das declarações do jovem internacional português no último sábado. Em evidente desconforto perante o resultado (2-2), Diogo Costa não maquilhou os sentimentos e deu a entender que todo o plantel precisa de aconselhamento psicológico, recomendando a tudo e todos um olhar para “dentro”, para as profundezas de um balneário que colapsou do pescoço para cima.

Um pouco ou bastante a exemplo do que se verifica com Sérgio Conceição, o dono das redes portistas sabe que está numa situação em que se limita a contar os dias para o fim de ciclo e não tem razões para temer qualquer espécie de represálias por ter colocado as luvas na ferida.

Por muito que as palavras desempoeiradas e sinceras do atleta representem um desencontro com a normativa comunicacional do Dragão, o clube é o primeiro interessado na sua saída a preço “louco” e isso só se consegue sem criar atritos com a Gestifute e sem dificultar a auscultação semanal de Roberto Martínez.

Curiosamente, face à lesão do craque que nasceu na Suíça e cresceu em Vila das Aves, é fácil prever que amanhã os azuis e brancos entrem em campo com Cláudio Ramos no onze. O frente a frente com o Vitória corresponde à segunda mão da meia-final da Taça de Portugal e, apesar de o treinador já ter alternado os dois principais guarda-redes nesta competição, a verdade é que, no desafio disputado em Guimarães, os visitantes venceram (gentileza de Pepê a meias com Bruno Varela) e não sofreram golos com o ex-Tondela entre os titulares.

Eurasia Sport Images

PEDROTIANO E PRETORIANO

Perante tudo o que aconteceu no fim de semana, qualquer decisão técnica para o duelo desta quarta-feira teria sempre uma importância capital. Não está somente em causa o apuramento para a final da única prova que o vice-campeão pode conquistar esta temporada, está em causa o regresso do FC Porto à condição de mero desafiador do poder emergente dos adversários minhotos.

O próprio Sérgio Conceição, quando disse no pós-Famalicão que “querem meter a região norte fora do mapa do sucesso desportivo”, voltou a erguer a bandeira da regionalização político-desportiva, recuperando fantasmas que os adeptos mais novos só conhecem das estórias contadas pelos avós sobre a lenda José Maria Pedroto e que ressuscitam ideais associados aos primeiros mandatos do atual presidente.

Sérgio Conceição
HUGO DELGADO

Antes de Jorge Nuno Pinto da Costa chegar ao poder, no revolucionário abril de 1982, a terminologia futebolística nacional aceitava que depois de atravessar a ponte sobre o Douro o FCP já perdia por 3-0. Quatro décadas depois, dezenas de títulos depois (sete deles no plano internacional, esmagando a concorrência interna), a equipa divide o terceiro lugar na Liga Betclic com o Sporting de Braga, tem menos 30 (!) golos marcados que o Sporting Clube de Portugal e arrisca-se a ficar a 18 (!) pontos de Rúben Amorim caso os leões vençam esta noite o desafio em atraso com o... Famalicão.

Só em desperdício caseiro, o FC Porto já deitou fora qualquer coisa como 12 pontos, em contraste com a tolerância 0 decretada em Alvalade e os 4 pontos que o Benfica deixou escapar na Luz. Incapaz esta temporada de completar 4 vitórias seguidas no campeonato, o plantel de Conceição começou a despedir-se verdadeiramente do título nos dois últimos meses, em coincidência com o desencadear da Operação Pretoriano.

A SEU ABEL PRAZER

A partir do dia em que Fernando Madureira, o líder histórico dos Super Dragões, recebeu ordem de detenção, os portistas libertaram 15 pontos para os adversários, iniciando-se a série com um empate ante o Rio Ave. Após o nulo com os homens de Vila do Conde, seguiu-se uma derrota em Arouca (2-3), um empate (1-1) em Barcelos, desaires no Estoril (1-0) e na receção (1-2) ao Vitória, terminando a espiral com o sublinhado 2-2 intramuros diante do “Fama” dirigido por Armando Evangelista.

Octavio Passos/GETTY Images

Não terá sido por conta desta curiosa ilação que Madureira, mais conhecido por Macaco, mereceu repetida referência elogiosa de Pinto da Costa na última entrevista à SIC, mas o que é certo é que a esta hora (e pelo menos até às 22h00 de Portugal continental...) o FC Porto estaria em igualdade pontual com o Sporting se tivesse preservado no cofre esses preciosos 15 pontos.

Diogo Cardoso

E, sim, teria de esperar para ver se logo Evangelista seria capaz de travar Gyokeres e companhia, em semirrepetição da tremenda desfeita de sábado.

Longe vão os tempos em que Jorge Nuno, na ressaca da final da Taça das Taças perdida ante a Juventus, se sentou nos bancos de trás do autocarro do Botafogo e tentou contratar o Diogo Costa de 1984. Pensava que estava prestes a convencer um novo e grande guarda-redes e afinal o alvo abordado era um... treinador chamado Abel Braga.

Esse mesmo, o que entrou em Portugal pelo Rio Ave e que só começou a impor-se no discurso azul e branco ao serviço do Famalicão.

Últimas notícias
Mais Vistos
Mais Vistos do