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Di María tem de dar aquele murro

Opinião de João Rosado. Mais do que nunca o Benfica precisa de um jogador que tem feito o que quer.
Di María tem de dar aquele murro
FILIPE AMORIM

É o mês de todas as eleições. E tal como na política, o mês de todas as negociações. O FC Porto vai a votos no dia 27 para escolher Pinto da Costa ou André Villas-Boas como presidente. No dia seguinte, após a receção dos dragões ao Sporting, a Liga já começará a desenhar o vencedor. O Liverpool também não deixará para maio a decisão sobre o sucessor de Jurgen Klopp, e quanto ao Benfica é legítimo pensar-se que os desafios com o Olympique de Marselha vão definir o caminho de Roger Schmidt em 2024/25.

O segundo desafio com os franceses na Liga Europa está marcado para o próximo dia 18, o que sugere ao engenheiro alemão uma mãozinha do destino que em nada fica a dever à mão que Vata estendeu para o Mundo há já 34 anos.

No dia 18 de abril de 1990, um golo marcado de forma irregular pelo avançado angolano permitiu ao onze de Sven-Goran Eriksson vencer por 1-0 uma constelação de estrelas (Mozer, Waddle, Francescoli, Papin) e apurar-se pela segunda vez em dois anos para a final da Taça dos Campeões Europeus. Num Estádio da Luz a rebentar pelas costuras, com mais de 120 mil espetadores, o longo braço do homem que o sueco colocou no relvado aos 52 minutos ditou a lei que hoje seria chumbada pelo VAR e quase de certeza pelos treinadores que só gostam de arriscar em período de descontos.

Schmidt, como toda a gente sabe, pertence a este lote e, honra e coerência lhe sejam reconhecidas, também nunca foi um defensor do VAR. Muito menos nos dias que correm, com a imagem do punho de Di María no rosto de Pedro Gonçalves a encher as salas portuguesas, salvaguardando-se a eventual exceção da Cidade do Futebol.

TRATAMENTO DE ANGEL…

Os dois jogadores que fabricaram os dois primeiros golos do dérbi de sábado em Alvalade acabaram por protagonizar um dos episódios que marcam a temporada e sobretudo a temporada do campeão português. A beneficiar de um estatuto ímpar no clube e até no contexto nacional, Angel Di María já se permitiu a quase tudo, de evidentes manifestações de desagrado nos momentos em que foi substituído a atitudes intoleráveis para com os árbitros assistentes.

Assim que se iniciou o campeonato ficou claro que o internacional argentino não iria tolerar um tratamento que o “vulgarizasse” perante os demais, ou seja, exigiu sempre um conjunto de privilégios que o distinguissem no balneário e acompanhassem a distância cavada na folha salarial. Com uma remuneração anual que chega quase aos 10 milhões de euros (valores brutos) e que dobra a do segundo jogador mais bem pago do plantel (emprestados à parte), Di María tem-se revelado simultaneamente uma solução e um problema.

Dentro de campo o talentoso esquerdino responde com um número de golos (15) e de assistências (11) que estão longe de embaraçar, mas também denota carências e comportamentos que fragilizam a equipa e em primeiro lugar a liderança daquele que foi escolhido para suceder ao interino Nelson Veríssimo. As inúmeras perdas de bola, a quase incorrigível tendência para ignorar as tarefas de apoio defensivo e a visível dificuldade em manter um ritmo alto durante o jogo são lacunas que “Fideo” tem denunciado e que tornam incompreensível o grau de tolerância demonstrado pelo técnico.

Não por acaso, Gonçalo Guedes foi obrigado a sair para o Villarreal e extremos como Tiago Gouveia e Benjamín Rollheiser, para já não falar do apagamento a que foi votado durante algum tempo David Neres, têm pago uma elevada fatura face à utilização excessiva de Di María, com a agravante de o atleta adquirido no mercado de inverno ao Estudiantes ter implicado uma taxa de compra obrigatória que atingirá os 9,5 milhões de euros.

... E SEM REMÉDIO PARA CASPER

Aos 24 anos, ou seja, com mais seis que o também argentino Gianluca Prestianni (ex-Velez Sarsfield), Rollheiser tem estado permanentemente na sombra e a menos que a sua “explosão” até junho proporcione grandes conquistas, não se percebe a urgência de um recrutamento que tem contribuído somente para o aumento da temperatura no banco. Marcos Leonardo e Álvaro Carreras são outros dois exemplos de reforços que geraram muita expectativa em janeiro e que na prática nem sequer foram capazes de se impor perante concorrentes como Casper Tengstedt e Fredrik Aursnes, este último a mais feliz das contratações feitas nos dois últimos anos independentemente do desperdício inerente à sua utilização como lateral-esquerdo.

Gualter Fatia

A SAD benfiquista, desde que Roger Schmidt entrou na Luz, já gastou mais de 200 milhões de euros, o que significa que se arrisca a terminar 2023/24 com um saldo desportivo bastante escasso face ao investimento. Não revalidando o título, o Benfica pode acabar por mostrar aos adeptos apenas a Supertaça erguida em agosto nas barbas de Sérgio Conceição, o que resultaria num custo de cem milhões de euros por cada troféu na “era teutónica”.

FILIPE AMORIM

No outro lado da Segunda Circular, o rácio desce para metade... se o Sporting concluir a 34.ª jornada no primeiro lugar. Frederico Varandas despendeu 53 milhões de euros em aquisições em 2022/23 e ganhou... zero, enquanto na presente temporada foi um pouco mais longe, gastou 60 milhões, e está em óbvias condições de encomendar as faixas. Caso os leões sejam outra vez campeões (repetindo o feito de 2020/21), o preço da proeza em Alvalade aproximar-se-ia dos cem milhões de euros, isto balizando temporalmente com o ciclo do treinador estrangeiro ao serviço do grande rival.

MIGUEL A. LOPES

Claro que se o Benfica arrebatar a Liga Europa (e a matemática não proíbe ainda tudo na Liga portuguesa), ninguém vai fazer e pedir estas contas a ninguém e muito menos a Rui Costa. Mas, para alimentar o sonho de ganhar a segunda prova europeia, é preciso eliminar o Marselha e depois esperar pelo “sobrevivente” do duelo entre duas instituições que fazem parte do léxico recente de Rúben Amorim, a velha Atalanta e... o novo Liverpool.

Parece ser, atendendo aos últimos resultados, um cenário demasiado exigente para as águias. Se calhar, precisam muito mais do que uma mão de Vata. Precisam do melhor braço do melhor Di María para desferir um Olympique KO.

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