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Gyokeres nos 23 de Martínez

Opinião de João Rosado. No lote dos finalistas de Marienfeld, 22 nomes deixam uma única dúvida ao selecionador de Portugal.
Gyokeres nos 23 de Martínez
Gualter Fatia

Viktor Gyokeres e Gonçalo Inácio podem ser pela primeira vez esta temporada adversários. Mais do que uma possibilidade, é quase uma inevitabilidade quando Portugal receber a Suécia no próximo dia 21.

Seria escandaloso que Jon Dahl Tomasson, o primeiro selecionador estrangeiro da equipa nórdica, voltasse a fazer história... excluindo o melhor marcador (19 tentos) da Liga portuguesa do lote de convocados para Guimarães, onde, curiosamente, Inácio festejou o único remate certeiro que evidencia no campeonato.

Herdeiro da braçadeira de capitão depois da saída de Sebastián Coates no recente 3-0 imposto em Arouca, o jovem Gonçalo, em 2023-24, tem até mais golos por Portugal do que ao serviço de Rúben Amorim na competição que o Sporting lidera.

De quinas ao peito, o central bisou frente ao Luxemburgo e, face ao critério que foi seguido nas convocatórias durante a caminhada exemplar rumo ao Europeu, tudo leva a crer que a inclusão do canhoto não oferece discussão nem no âmbito da dupla operação de março nem no da fase final que se disputará em junho.

Daqui a quatro dias, quando anunciar a lista de eleitos para os desafios de preparação com os escandinavos e na Eslovénia, Roberto Martínez dificilmente provocará grandes surpresas no que respeita ao bloco defensivo, e mesmo que isso represente uma “injustiça” para determinados jogadores (Diogo Leite, Toti Gomes, Nuno Santos...), o facto de estar cada vez mais perto do Euro de certeza que acentuará a aposta no núcleo duro do costume.

Do meio-campo para a frente... o quadro não é exatamente igual. Por aquilo que têm feito, os Franciscos com ares de Messi, a começar por Trincão, e os Jotas com ar de Grealish podiam, sem favor, fazer parte da elite nacional, um pouco à semelhança do que sucede com o naturalizado Galeno.

Jota Silva, autêntico sósia do citizen Jack Grealish, até beneficiaria de estar em casa no duelo com Gyokeres, enquanto Francisco Conceição podia lembrar-se de que foi no castelo do Vitória que em novembro ofereceu três pontos ao pai graças a um golo e a uma assistência no apertado triunfo do FC Porto por 2-1.

UMA OPORTUNIDADE NA CIDADE…

Aliás, se a ida à seleção dependesse em exclusivo da forma, os grandes desequilibradores da principal prova doméstica estariam muitas vezes à cabeça das alternativas, independentemente das circunstâncias e das lesões que afetam alguns dos atletas que estão habituados a ocupar todas as cadeiras nos corredores laterais.

A juntar à indisponibilidade de Rafa Silva, que há algum tempo apresentou a sua renúncia para se concentrar em absoluto naquela que parece ser a última aceleração com a camisola do Benfica, a condição física do bracarense Ricardo Horta e dos “ingleses” Diogo Jota (Liverpool) e Pedro Neto (Wolverhampton) oferece neste momento um contexto raro para outros protagonistas vislumbrarem uma episódica aparição na Cidade do Futebol.

Honra lhe seja feita, o selecionador, incansável e irrepreensível no desfile mediático, faz questão de salientar em cada entrevista que o grupo não está fechado e tem ele próprio nesta sexta-feira a derradeira oportunidade de oferecer a lembrança de uma vida àqueles que estão proibidos de sonhar com um bilhete para a Alemanha.

Partindo do princípio de que nada de anormal vai acontecer, 22 dos 23 nomes que o técnico catalão tem de enviar para a UEFA, já como escolhas finais, estão definidos. Com Matheus Magalhães eternamente esquecido no Sporting de Braga e Rui Silva (Real Bétis) a estacionar ao lado do companheiro William Carvalho em segunda fila, o trio de guarda-redes será composto por Diogo Costa (FC Porto), Rui Patrício (AS Roma) e José Sá (Wolverhampton).

... E NENHUMA NO MEIO-CAMPO

João Cancelo (FC Barcelona) e Diogo Dalot (Manchester United) garantem solidez e acutilância na lateral-direita, na linha do que sucede no flanco esquerdo com Raphael Guerreiro (Bayern Munique) e/ou Nuno Mendes (PSG). Além do mencionado Gonçalo Inácio, o contingente de defesas centrais comportará Pepe (FC Porto), Rúben Dias (Manchester City) e António Silva (Benfica), cabendo a Danilo Pereira (PSG), João Palhinha (Fulham) e Rúben Neves (Al Hilal) o papel de médio-defensivo.

Da Arábia Saudita (Al Nassr) virá também Otávio, responsabilizando-se Vitinha (PSG) e João Neves (Benfica) pelo sinal de juventude num meio campo liderado pelo cada vez mais influente Bruno Fernandes (Manchester United).

Cristiano Ronaldo (Al Nassr), o mais indiscutível dos indiscutíveis, será a referência numa linha atacante disputada por Gonçalo Ramos (PSG), Rafael Leão (Milan) e João Félix (FC Barcelona), sempre com o inimitável Bernardo Silva a pincelar as linhas de orientação nos atalhos para a baliza adversária.

Não sobra um centímetro quadrado para mais ninguém. Autorizados apenas 23 convocados para a fase final do Campeonato da Europa, Martínez, atendendo a todas as decisões que tomou no apuramento perfeito (10 vitórias em 10 jogos, 36 golos marcados e dois sofridos), só consegue arranjar espaço para Diogo Jota ou Pedro Neto caso abdique de um dos laterais-esquerdos.

Por também já ter jogado como... defesa-direito sob as ordens de Thomas Tuchel, Rapha Guerreiro pode partir em vantagem sobre Nuno Mendes (que ainda por cima está a regressar agora de prolongadíssima lesão), sendo conveniente recordar que Cancelo e Dalot, se for preciso, dão conta do recado à esquerda, paredes meias com um tal... Gonçalo Inácio.

Assim, no dia em que o sucessor de Fernando Santos divulgar os 23 finalistas, talvez fosse prudente pedir emprestada a célebre “máscara” a Viktor Gyokeres. Sempre ajudaria a esconder o desconforto de quem pela primeira vez vai estar na pele de adversário de todos aqueles craques que não têm lugar no quartel-general de Marienfeld.

Não veja, mister, esta sugestão como uma possibilidade. Antes como uma... inevitabilidade.

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