Viktor Gyokeres e Gonçalo Inácio podem ser pela primeira vez esta temporada adversários. Mais do que uma possibilidade, é quase uma inevitabilidade quando Portugal receber a Suécia no próximo dia 21.
Seria escandaloso que Jon Dahl Tomasson, o primeiro selecionador estrangeiro da equipa nórdica, voltasse a fazer história... excluindo o melhor marcador (19 tentos) da Liga portuguesa do lote de convocados para Guimarães, onde, curiosamente, Inácio festejou o único remate certeiro que evidencia no campeonato.
Herdeiro da braçadeira de capitão depois da saída de Sebastián Coates no recente 3-0 imposto em Arouca, o jovem Gonçalo, em 2023-24, tem até mais golos por Portugal do que ao serviço de Rúben Amorim na competição que o Sporting lidera.
De quinas ao peito, o central bisou frente ao Luxemburgo e, face ao critério que foi seguido nas convocatórias durante a caminhada exemplar rumo ao Europeu, tudo leva a crer que a inclusão do canhoto não oferece discussão nem no âmbito da dupla operação de março nem no da fase final que se disputará em junho.
Daqui a quatro dias, quando anunciar a lista de eleitos para os desafios de preparação com os escandinavos e na Eslovénia, Roberto Martínez dificilmente provocará grandes surpresas no que respeita ao bloco defensivo, e mesmo que isso represente uma “injustiça” para determinados jogadores (Diogo Leite, Toti Gomes, Nuno Santos...), o facto de estar cada vez mais perto do Euro de certeza que acentuará a aposta no núcleo duro do costume.
Do meio-campo para a frente... o quadro não é exatamente igual. Por aquilo que têm feito, os Franciscos com ares de Messi, a começar por Trincão, e os Jotas com ar de Grealish podiam, sem favor, fazer parte da elite nacional, um pouco à semelhança do que sucede com o naturalizado Galeno.
Jota Silva, autêntico sósia do citizen Jack Grealish, até beneficiaria de estar em casa no duelo com Gyokeres, enquanto Francisco Conceição podia lembrar-se de que foi no castelo do Vitória que em novembro ofereceu três pontos ao pai graças a um golo e a uma assistência no apertado triunfo do FC Porto por 2-1.
UMA OPORTUNIDADE NA CIDADE…
Aliás, se a ida à seleção dependesse em exclusivo da forma, os grandes desequilibradores da principal prova doméstica estariam muitas vezes à cabeça das alternativas, independentemente das circunstâncias e das lesões que afetam alguns dos atletas que estão habituados a ocupar todas as cadeiras nos corredores laterais.
A juntar à indisponibilidade de Rafa Silva, que há algum tempo apresentou a sua renúncia para se concentrar em absoluto naquela que parece ser a última aceleração com a camisola do Benfica, a condição física do bracarense Ricardo Horta e dos “ingleses” Diogo Jota (Liverpool) e Pedro Neto (Wolverhampton) oferece neste momento um contexto raro para outros protagonistas vislumbrarem uma episódica aparição na Cidade do Futebol.
Honra lhe seja feita, o selecionador, incansável e irrepreensível no desfile mediático, faz questão de salientar em cada entrevista que o grupo não está fechado e tem ele próprio nesta sexta-feira a derradeira oportunidade de oferecer a lembrança de uma vida àqueles que estão proibidos de sonhar com um bilhete para a Alemanha.
Partindo do princípio de que nada de anormal vai acontecer, 22 dos 23 nomes que o técnico catalão tem de enviar para a UEFA, já como escolhas finais, estão definidos. Com Matheus Magalhães eternamente esquecido no Sporting de Braga e Rui Silva (Real Bétis) a estacionar ao lado do companheiro William Carvalho em segunda fila, o trio de guarda-redes será composto por Diogo Costa (FC Porto), Rui Patrício (AS Roma) e José Sá (Wolverhampton).
... E NENHUMA NO MEIO-CAMPO
João Cancelo (FC Barcelona) e Diogo Dalot (Manchester United) garantem solidez e acutilância na lateral-direita, na linha do que sucede no flanco esquerdo com Raphael Guerreiro (Bayern Munique) e/ou Nuno Mendes (PSG). Além do mencionado Gonçalo Inácio, o contingente de defesas centrais comportará Pepe (FC Porto), Rúben Dias (Manchester City) e António Silva (Benfica), cabendo a Danilo Pereira (PSG), João Palhinha (Fulham) e Rúben Neves (Al Hilal) o papel de médio-defensivo.
Da Arábia Saudita (Al Nassr) virá também Otávio, responsabilizando-se Vitinha (PSG) e João Neves (Benfica) pelo sinal de juventude num meio campo liderado pelo cada vez mais influente Bruno Fernandes (Manchester United).
Cristiano Ronaldo (Al Nassr), o mais indiscutível dos indiscutíveis, será a referência numa linha atacante disputada por Gonçalo Ramos (PSG), Rafael Leão (Milan) e João Félix (FC Barcelona), sempre com o inimitável Bernardo Silva a pincelar as linhas de orientação nos atalhos para a baliza adversária.
Não sobra um centímetro quadrado para mais ninguém. Autorizados apenas 23 convocados para a fase final do Campeonato da Europa, Martínez, atendendo a todas as decisões que tomou no apuramento perfeito (10 vitórias em 10 jogos, 36 golos marcados e dois sofridos), só consegue arranjar espaço para Diogo Jota ou Pedro Neto caso abdique de um dos laterais-esquerdos.
Por também já ter jogado como... defesa-direito sob as ordens de Thomas Tuchel, Rapha Guerreiro pode partir em vantagem sobre Nuno Mendes (que ainda por cima está a regressar agora de prolongadíssima lesão), sendo conveniente recordar que Cancelo e Dalot, se for preciso, dão conta do recado à esquerda, paredes meias com um tal... Gonçalo Inácio.
Assim, no dia em que o sucessor de Fernando Santos divulgar os 23 finalistas, talvez fosse prudente pedir emprestada a célebre “máscara” a Viktor Gyokeres. Sempre ajudaria a esconder o desconforto de quem pela primeira vez vai estar na pele de adversário de todos aqueles craques que não têm lugar no quartel-general de Marienfeld.
Não veja, mister, esta sugestão como uma possibilidade. Antes como uma... inevitabilidade.