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Schmidt sai pela porta 18

Opinião de João Rosado. Há um ano o treinador do Benfica renovou até 2026 e os custos de um despedimento recomendam um único caminho
Schmidt sai pela porta 18
Diogo Cardoso

Um dia depois de ter apagado as velas dos 120 anos e prestes a entrar em Alvalade para disputar a meia-final da Taça de Portugal, o Benfica informou o País de que a SAD tinha fechado o primeiro semestre de 2023/24 com um lucro de 18 milhões de euros.

As boas notícias do departamento financeiro não tiveram nenhuma espécie de impacto no gabinete técnico de Roger Schmidt, nem sequer provocando uma onda especial de motivação em noite de dérbi eterno. Horas depois do comunicado enviado à CMVM (Comissão do Mercado de Valores Mobiliários) que relevava as conquistas da equipa de gestão face a igual período do exercício anterior (perdas de 13,3 milhões de euros), os encarnados não evitaram a derrota frente ao Sporting e fizeram durante a primeira parte uma exibição completamente falida.

Por capricho tático e/ou por imposição dos rivais, os 45 minutos iniciais no jogo da Taça e toda a atuação no último domingo diante do FC Porto deram a entender que existe no campeão nacional uma incompreensível dificuldade para lidar com muito dinheiro e com uma gama de soluções que faz inveja à concorrência digna desse nome.

Se é fácil perceber que os 18 milhões de lucro anunciados com pompa e circunstância pela SAD foram bastante suportados na transferência de Gonçalo Ramos para o PSG (65 milhões de euros que podem crescer até aos 80), também não custa reconhecer o esforço desenvolvido pela administração para apresentar alternativas que colmatassem a saída do jovem goleador.

Aurelien Meunier - PSG

No duelo com Rúben Amorim, a ideia de um ataque até ao minuto 60 sem um avançado de referência provocou danos consideráveis na eliminatória, apesar de elementos como Casper Tengstedt, Arthur Cabral e Marcos Leonardo se terem apresentado no banco. Cara a cara com Sérgio Conceição, foi a vez de David Neres fazer companhia no lote de suplentes aos dois compatriotas, sem esquecer a presença de Álvaro Carreras, outro dos reforços do mercado de inverno que ficou privado da titularidade tanto em Alvalade como no Dragão.

Diogo Cardoso

JOGO DO GATO E DO MORATO

Sem ser possível escrutinar no exterior todas as razões que levam Roger Schmidt a escolher certos jogadores, não deixa de causar espanto que o mesmo homem que na época do título lidou com um investimento recorde e não se amedrontou com a venda de Enzo Fernández revele nesta altura tantas cautelas e se mostre tão condicionado pela estratégia dos maiores adversários.

Em pleno dérbi, Rafa foi o ponta de lança improvisado até à entrada de Tengstedt, com a defesa ainda a beneficiar da presença de Alexander Bah na direita, “autorizando” a colocação do incansável Fredrik Aursnes como lateral-esquerdo mas... por pouco tempo. Ao definir três dias depois o onze para o clássico que custou a humilhante goleada de 5-0, Schmidt, privado de Bah, devolveu Aursnes à direita e conseguiu imaginar um flanco competente com o adaptado Morato como lateral-esquerdo e o lento Kokçu como médio-ala.

Eurasia Sport Images

Perante um FC Porto ávido de “vingança” pela perda da Supertaça e pela derrota a contar para a sétima jornada do campeonato, as águias, estrategicamente, encheram a casa da família Conceição, com Sérgio a deliciar-se com o adivinhável aproveitamento por parte de Pepê do escasso ritmo do internacional turco (o melhor... 10 do plantel) e o felino Francisco a esfregar as mãos atendendo ao central que lhe tinha saído na rifa.

Um pouco à semelhança do que já tinha acontecido com o Sporting, no Porto foi preciso chegar o intervalo para o técnico benfiquista dar a mão à palmatória e emendar o que era passível de emenda. Florentino acabou por fazer a segunda parte no lugar de Kokçu e, apesar de a expulsão de Otamendi ter tido a sua influência (nada comparável ao que se viu na Luz quando o portista Fábio Cardoso foi expulso logo aos 19 minutos...), durante a curta fase em que 11 estiveram contra 11 saltou à vista que o meio-campo visitante nunca poderia ser injetado pelo futebol a diesel que escorre dos pés de veludo de João Mário.

RANGERS DOS DENTES

A única boa notícia para o universo encarnado, conforme a estrutura se apressou a reconhecer ainda no relvado do Dragão, é que nesta quinta-feira o Glasgow Rangers oferece uma possibilidade de redenção que no limite até pode proporcionar uma conquista histórica em Dublin.

Na partida que será transmitida pela SIC e correspondente aos oitavos de final da Liga Europa, ver-se-á até que ponto os últimos resultados e sobretudo o grande desastre da Invicta proporcionaram as devidas lições e vão forçar a recolocação das peças certas nos lugares certos e sempre a ranger os dentes em sinal de superação.

Rui Costa, que há um ano prolongou até 2026 o contrato com todo o “staff” liderado pelo engenheiro alemão vindo do PSV Eindhoven, de certeza que não se contentará com um mero pedido de desculpas formulado pelo balneário. Só em reforços nas duas últimas janelas de transferências, o presidente do Benfica gastou mais de cem (102) milhões de euros, verba ligeiramente aquém daquela (114 milhões de euros) que marcou o tudo ou nada da primeira temporada que cumpriu do princípio ao fim na qualidade de dirigente máximo.

Gualter Fatia

Feitas as contas, Roger Schmidt já “custou” 216 milhões de euros em contratações, e no que toca ao salário individual, caso cumpra o que foi estipulado na cerimónia de renovação, vai totalizar em junho de 2026 uma despesa de... 18 milhões de euros, fora os impostos.

Isto fecha, para já, a porta a qualquer hipótese de despedimento.

A SAD, no que toca a operações desse calibre, está mais habituada a apresentar lucros.

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