Rúben Amorim disputa hoje o jogo mais importante da carreira. Pode ser um exagero, pode ser visto como uma mentira do 2 de abril, mas não deixa de ter um grande fundo de verdade.
O treinador do Sporting joga no Estádio da Luz a derradeira possibilidade de chegar à final da Taça de Portugal e, consequentemente, de ganhar o título que lhe falta no plano interno e lhe enche os sonhos.
Campeão nacional na primeira temporada que cumpriu de princípio a fim em Alvalade, vencedor de uma Supertaça também em 2020/21 e com três conquistas consecutivas na Taça da Liga (a última em 2021/22), o míster Amorim só ainda não foi capaz de fazer a festa na tribuna de honra do Jamor.
Nessa medida, o homem que lidera o campeonato também se perfila como uma espécie de Jorge Jesus 2. Goste muito, pouco ou nada de comparações, Rúben tem em comum com o seu velho mestre uma paixão indisfarçável pela Taça, com a particularidade de ambos terem erguido o troféu há 10 longos anos.
A culminar uma época que permitiu às águias recuperar a estima derretida na desastrosa campanha de 2012/13 (perdeu tudo o que havia para perder, Liga Europa inclusive), o Benfica derrotou o Rio Ave por 1-0, com o entusiástico JJ no banco e o menos exuberante Rúben Amorim como médio defensivo dos encarnados. Por coincidência ou não com esse papel no meio-campo, o camisola 6 foi o primeiro a ser substituído no onze lisboeta, proporcionando a André Gomes 35 minutos de atuação antes da viagem de luxo até Valência.
Além do (agora) atleta do Everton, também Enzo Pérez (11 jogos disputados este ano com as cores do Estudiantes) e Rodrigo Moreno (avançado do Al Rayyan) acompanharam Nuno Espírito Santo (o timoneiro da nau vila-condense) no projeto concebido por Peter Lim e Jorge Mendes no Mestalla, permitindo ao emblema da Comunidade Valenciana apresentar-se na edição 2014/15 de La Liga como um autêntico embaixador do futebol português.
João Cancelo e Filipe Augusto (mais um que participou pelos rio-avistas na final do Jamor em 2014) também faziam parte de um plantel que contemplava Nicolás Otamendi, Rodrigo de Paul (dupla da seleção argentina campeã do Mundo em 2022) e um tal... João Pereira, lateral-direito que acabou por se mudar no mercado de inverno para Hanôver depois de 0 minutos de utilização e de outro zero nas negociações para renovar contrato.
Se tivesse adivinhado como iria correr-lhe a quinta época ao serviço do Benfica, provavelmente o atual técnico dos leões também teria sido seduzido por alguma proposta do mercado estrangeiro, apesar de nunca lhe ter sido detetado um latejante espírito de emigrante. Logo depois de ter conquistado como futebolista a Taça de Portugal, o antigo casapiano andou pela equipa B da Luz e terminou 2014/15 com somente 12 desafios pela categoria principal, denunciando uma curva descendente dentro dos relvados que contrasta com tudo aquilo que neste momento se pode imaginar a propósito do seu futuro à beira das quatro linhas.
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No fundo, é só uma questão de se perceber qual das megacompetições agrada mais ao jovem (39 anos) treinador que cedo provou não dominar apenas a arte de imitar o peculiar vocabulário de Jesus nas rocambolescas palestras no balneário. Com contrato com o Sporting até 2026 e constantemente sugerido na imprensa internacional como cabeça de lista a algum dos lugares mais invejados na Premier League e na Bundesliga, Amorim há muito que revelou a disposição de sair de Portugal em maio deste ano, parecendo estar em condições de escolher entre instituições do calibre de um PSG, de um Manchester United, de um Liverpool ou até de um Bayern Munique, sem esquecer as insinuantes e contraditórias palavras de Deco enquanto diretor desportivo de um FC Barcelona à procura de alguém com estaleca suficiente para o pós-Xavi Hernández.
As últimas notícias não apontam muito para a hipótese de o Sporting receber 20 milhões de euros pela cedência do ex-Sporting de Braga a um clube espanhol (do Valência para cima, claro) e tudo indica que a etapa que se segue pode mesmo ser iniciada em Anfield, até porque Xabi Alonso fez questão de dizer que vai continuar a dar muitas dores de cabeça aos adversários do Bayer Leverkusen e Jurgen Klopp, muito antes disso, fez questão de dizer que nos próximos meses não estará para continuar a tomar “aspirinas” no banco dos Reds.
Ainda será preciso esperar algum tempo para tudo ficar esclarecido, quanto mais não seja porque tanto Liverpool como Sporting lutam ferozmente para preservar até ao fim as lideranças nos respetivos campeonatos. Nas próximas horas e nos próximos dias, os únicos Reds que vão ocupar os planos de Rúben são aqueles que Roger Schmidt escolher logo à noite e também no sábado.
O dérbi a contar para a 28.ª jornada realizar-se-á em Alvalade, o que significa que a segunda mão da meia-final da Taça de Portugal vai fazer esta terça-feira Amorim entrar pela última vez na Luz na condição de adversário. Não é um exagero, não é uma mentira de 2 de abril e não deixa de ter um grande fundo de verdade…