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"Semear nuvens": foi esta a causa das chuvas intensas no Dubai?

É raro chover nos Emirados Árabes Unidos e noutras partes da Península da Arábia, conhecida pelo seu clima desértico seco. Mas esta semana, os Emirados foram atingidos pelas maiores chuvas dos últimos 75 anos.

Dubai, Emirados Árabes Unidos
Dubai, Emirados Árabes Unidos
Amr Alfiky

Os Emirados Árabes Unidos e Omã foram atingidos esta semana por chuvas torrenciais que bateram recordes, inundaram autoestadas e edifícios, congestionaram o trânsito, fecharam escolas e deixaram milhares de pessoas presas nas suas casas.

Em Omã, pelo menos 20 pessoas morreram. Nos Emirados Árabes Unidos, o dilúvio fez uma vítima mortal.

Estas foram as chuvas mais intensas nos Emirados dos últimos 75 anos, superando todos os recordes desde que começaram a recolher dados de precipitação, em 1949. O pico foi registado no emirado de Al Ain, onde a precipitação atingiu 254 mm de chuva em menos de 24 horas.

"Semear nuvens", pode ter sido esta a causa?

É raro chover nos Emirados Árabes Unidos e noutras partes da Península da Arábia, conhecida pelo seu clima desértico seco. No verão, as temperaturas podem chegar aos 50 graus Celsius.

Talvez pela raridade da situação, os Emirados e Omã não têm sistemas de drenagem para lidar com as chuvas intensas, o que se traduz na inundação de estradas.

Perante as chuvas torrenciais desta semana, surgiram questões sobre a possibilidade de terem sido causadas pelo processo de "semear nuvens", um método frequentemente usado pelos Emirados, segundo a agência Reuters.

Mas o que é "semear nuvens" e como é feito o processo? Produtos químicos são implantados nas nuvens para aumentar a chuva, em locais onde a escassez de água é uma preocupação.

Sais com propriedades higroscópicas (que atraem água) são libertados abaixo de uma nuvem durante uma missão de rotina do processo de semear nuvens, a 31 de janeiro de 2024 em Al Ain, Emirados Árabes Unidos.
Andrea DiCenzo

Os Emirados Árabes Unidos, localizados numa das regiões mais quentes e secas do planeta Terra, têm liderado os esforços para "semear nuvens" e aumentar a precipitação.

No entanto, a agência meteorológica do país garantiu à Reuters que não "semearam nuvens" antes da tempestade que atingiu os Emirados.

Então foram as alterações climáticas?

Os especialistas ouvidos pela agência de notícias afirmam que as chuvas torrenciais aconteceram, provavelmente, devido ao sistema climático exacerbado pelas alterações climáticas.

Segundo os cientistas, o aumento global das temperaturas está a levar a eventos climáticos mais extremos em todo o mundo, como as chuvas intensas registadas durante esta semana nos Emirados Árabes Unidos e Omã.

"As chuvas provenientes de tempestades, como as observadas nos Emirados Árabes Unidos nos últimos dias, estão a aumentar com o aquecimento [global]. Isto porque a convecção, que é a forte corrente ascendente nas tempestades, fortalece-se num mundo mais quente", diz Dim Coumou, professor da Universidade de Vrije, em Amsterdão.

Não é possível "semear nuvens" do nada

Friederike Otto, professora da Imperial College London, afirma que as chuvas estão a tornar-se cada vez mais intensas em todo o mundo à medida que o clima aquece, porque uma atmosfera mais quente pode reter mais humidade.

Para a especialista, é errado dizer que a causa da tempestade foi o processo de "semear nuvens".

"'Semear nuvens' não pode criar nuvens do nada. O processo 'incentiva' a água que já está no céu a condensar-se mais rapidamente e a soltar-se em certos locais. Então, primeiro, é preciso humidade. Sem isso, não haveria nuvens", explica.

A climatologista Gabi Hegerl garante que as chuvas torrenciais, como as que caíram na Península da Arábia, vão, muito provavelmente, piorar em muitas regiões devido aos efeitos das alterações climáticas.

Quando as condições são perfeitas para as chuvas torrenciais, há mais humidade no ar, então chove mais. Essa humidade extra ocorre porque o ar está mais quente, o que se deve às alterações climáticas causadas pelo homem, explica.

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