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Maus-tratos em lar na Lourinhã: "Não podemos dormir descansados com imagens como estas"

Mauro Paulino, comentador SIC, pede "coragem" aos agentes políticos para que encontrem respostas para os idosos, num país em que a população está cada vez mais envelhecida.

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A Segurança Social ordenou, esta quarta-feira, o fecho do lar “Delicado Raminho”, na Lourinhã. A entidade realizou uma inspeção ao lar – na sequência da reportagem da SIC – e notificou os familiares dos utentes sobre o encerramento do espaço. Mauro Paulino, psicólogo e comentador SIC, diz que é necessária “coragem” para procurar respostas para as pessoas na terceira idade.

“Nós não podemos dormir descansados com imagens como estas que foram trazidas a público pela reportagem da SIC”, disse o comentador em entrevista à Edição da Manhã.

O comentador lembra que, em determinados casos, a Segurança Social “sabe de instituições clandestinas” que acolhem idosos, mas “não as podem fechar porque não têm onde colocar estes idosos”. Sublinha também que há pessoas idosas nos corredores dos hospitais, depois de terem tido alta, “até se conseguir uma vaga num lar que tenha capacidade de resposta”.

“Estamos a falar de um problema de violência estrutural e de violência política relativamente às pessoas idosas. É necessário ter a coragem de procurar medidas e de criar respostas sociais capazes de dar resposta a uma população que está mais envelhecida – conforme nos demonstram os dados sócio demográficos”, afirma.

Mauro Paulino cita dados da Organização Mundial de Saúde para reforçar a importância desta questão: “A própria OMS diz que uma em cada seis pessoas idosas poderá viver uma experiência de maus-tratos.”

A rede familiar e o contexto económico dos idosos

O comentador Mauro Paulino identifica um conjunto de “obstáculos” para a identificação e regulação dos maus-tratos em pessoas idosos. A rede familiar é um dos principais fatores que pode contribuir para a denúncia destes casos. Através de visitas regulares, os familiares podem identificar este tipo de situações.

O psicólogo deixa alguns sinais de devem ser tidos em conta na hora de escolher o lar certo para um familiar idosos:

  • Quantidade de profissionais: é importante que o lar tenha um número de funcionários suficientes para que haja rotatividade de quem presta os cuidados e, desta forma, evitar uma sobrecarga “que possa levar a momentos de irritação e descontrolo para com as pessoas idosas”
  • Formação dos profissionais: prestadores de cuidado com formação estarão mais preparados para lidar com as várias situações que os idosos necessitam
  • Estar alerta a indicadores físicos: os familiares devem ter em atenção “marcas que podem sugerir que os idosos estejam amarrados” ou o aparecimento de “úlceras de pressão que sugerem que o idoso não está a ser cuidado da melhor forma”
  • Um regime de visitas abertas: Mauro Paulino sublinha a importância de poder haver visitas dos familiares aos lares “com a regularidade que for desejável”, uma vez que a “rede familiar é essencial para o conforto emocional destes idosos”.

O comentador reconhece, no entanto, que o fator económico pode ser um entrave à denúncia de maus-tratos em idosos, uma vez que, “muitas vezes, as famílias não têm condições de procurar uma resposta com outras condições”.

“A população envelhecida requer cuidados de enfermagem, médicos, de intervenção muito expressivos que depois encarecem os custos que estão envolvidos nestas situações”, lembra Mauro Paulino.

Além disso, as incapacidades cognitivas – seja demência ou Alzheimer – fazem com que os idosos não consigam denunciar este tipo de maus-tratos. Situações de receio de represálias e retaliações podem também estar na origem do silêncio.

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