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As ambiciosas missões espaciais previstas para 2024

Dar uma volta à Lua ou pousar uma sonda numa lua de Marte, sobrevoar Vénus ou defender o nosso planeta de “agressões” extraterrestres, estas são algumas das missões espaciais mais interessantes previstas para este ano.

As ambiciosas missões espaciais previstas para 2024
ESA

O ano 2024 promete ser prolífico em missões espaciais. Entre viagens ambiciosas à nossa Lua ou às luas de Marte e Júpiter, sobrevoar Vénus à procura de vida, uma antevisão do ano emocionante que se avizinha no espaço.

Na primeira metade do ano, haverá quatro tentativas de pousar na Lua – duas dos EUA, uma do Japão e uma da China – e cada uma destas missões, se for bem sucedida, fará História.

A segunda metade do ano contará com a estreia do foguetão europeu Ariane 6, outra viagem ao asteroide Dimorphos, uma missão para avaliar a habitabilidade da lua gelada de Júpiter, Europa, e a primeira tripulação a viajar até perto da Lua em mais de 50 anos.

Sondas na Lua

Duas empresas privadas norte-americanas, a agência espacial do Japão e a da China querem pousar na Lua este ano. Se alguma for bem sucedida, será a primeira vez desde que o programa Apollo terminou, há mais de 50 anos, que uma nave espacial pousa na Lua.

Módulo Lunar Peregrine

A 8 de janeiro, a Astrobotic lançará o seu módulo Peregrine, em forma de caixa com quatro “patas”, a partir de Cabo Canaveral, Florida. Se tudo correr conforme o planeado, a nave pousará a 23 de fevereiro em Sinus Viscositatis - Baía da Viscosidade - onde trabalhará durante oito dias.

Equipada com 20 cargas de diversas entidades governamentais e privadas, esta nave espacial será a primeira a estudar uma mancha enigmática conhecida como Gruithuisen Domes, a região adjacente ao local de pouso, montes que parecem ter sido criados a partir de magma rico em sílica. Mas os cientistas não conseguem explicar como se podem ter formado na Lua sem água e sem placas tectónicas.

Módulo da Intuitive Machines

A segunda missão norte-americana à Lua, IM-1 da Intuitive Machines, será lançada em meados de fevereiro, depois de ter sido adiada devido às condições meteorológicas desfavoráveis previstas para a janela de lançamento original de 12 a 16 de janeiro.

A missão leva a bordo a sonda Nova-C até ao limite da cratera Malapert A, perto do polo sul da Lua.

O "atirador lunar" do Japão

A 20 de janeiro, a Agência de Exploração Aeroespacial do Japão (JAXA) planeia pousar o seu módulo robótico Smart Lander for Investigating Moon (SLIM), o “atirador lunar”, no lado visível da Lua.

O seu objetivo é chegar a 100 metros do local de aterragem, a margem da cratera de impacto Shioli, para recolher mais informações sobre como a Lua se formou.

Se for bem sucedido, o Japão será o quinto país a pousar uma nave na Lua, depois da União Soviética, dos EUA, da China e da Índia.

China no lado escuro da Lua

Em maio, a China planeia enviar a nave espacial Chang'e 6 para recolher rochas do outro lado da Lua.

Embora a agência espacial da China não tenha revelado o local preciso onde a sonda vai pousar, a região de aterragem deverá ser a Bacia Aitken no Polo Sul, uma bacia de impacto com 4 mil milhões de anos e a maior área que está bem preservada do outro lado da Lua. Acredita-se que as amostras recolhidas nesta região sejam provenientes do manto lunar e podem conter informações sobre a evolução inicial da Lua, da Terra e talvez até de todo o Sistema Solar.

A sonda chinesa Chang'e 4 pousou na Lua a 3 de janeiro de 2019 e levou sementes de algodão, colza, batata, ovos de mosca da fruta e algumas leveduras.

Voo inaugural do Ariane 6

A Agência Espacial Europeia (ESA) quer que o ano de 2024 marque o regresso autónomo da Europa ao espaço com o voo inaugural do novo foguetão Ariane 6.

Depois de vários atrasos, o voo inaugural do Ariane 6 está previsto entre 15 de junho e 31 de julho.

Com este novo foguetão, que se encontra agora em testes finais, será possível chegar à órbita terrestre e ao espaço profundo, o que facilita a navegação europeia, a observação da Terra, os programas científicos e de segurança.

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O regresso do Vega-C

No outono serão retomados os voos do Vega-C, um lançador de tamanho médio que tem tido alguns problemas.

Com o Vega-C e o Ariane 6, a Europa quer garantir o acesso autónomo ao espaço, novas possibilidades de missões, incluindo operações de regresso à Terra com o veículo de reentrada espacial ESA Rider.

Missão de defesa planetária Hera

Com lançamento previsto para o final de 2024, a missão espacial Hera levará uma sonda a viajar até Didymos, um sistema de dois asteroides próximo da Terra, onde deverá chegar no final de 2026.

Esta primeira missão europeia de defesa planetária é a segunda parte de um projeto iniciado pela NASA com a sonda DART que, em setembro de 2022, colidiu com um asteroide para desviá-lo.

Dimorphos, uma lua na órbita de um dos asteroides, tornou-se assim no primeiro objeto no Sistema Solar a ter sua órbita deslocada pelo esforço humano de forma mensurável.

Em colaboração com a NASA, Hera vai fazer o estudo detalhado sobre o pós-impacto da sonda norte-americana DART em Dimorphos.

Colisão da missão DART da NASA com Dimorphos (à direita), a pequena lua do sistema binário Didymos (à esquerda).
ESA-Science Office

Euclid vai explorar o lado escuro do Universo

Neste início de ano está prevista a divulgação dos primeiros dados científicos da missão Euclid, a sonda europeia lançada para explorar a composição e a evolução da matéria escura e da energia escura.

A missão partiu em julho de 2023 e em agosto já tinha revelado as primeiras imagens.

Japão explora lua marciana

Há décadas que os astrónomos estão intrigados com as origens das duas luas de Marte, Phobos e Deimos: podem ser apenas asteroides capturados ou podem ser fragmentos de Marte resultado da colisão de um asteroide na superfície do planeta há muito tempo.

Para saber mais, o Japão planeia lançar em setembro uma missão a Phobos, a maior das duas luas, para recolher amostras, a missão Martian Moon eXploration (MMX).

A nave de três módulos alcançará primeiro a órbita do planeta vermelho em 2025. Espera-se que depois entre na órbita de Phobos e pouse durante umas horas na lua um módulo para recolher cerca de 10 gramas de material da superfície. A MMX regressará com a amostra e pousará em 2029 numa instalação militar australiana chamada Zona Proibida de Woomera.

NASA vai a Europa

Apesar de ser mais pequena que a nossa Lua, acredita-se que a lua de Júpiter Europa tenha um oceano de água salgada sob a sua superfície gelada com o dobro de água que os oceanos da Terra.

Para saber se este pequeno mundo pode albergar vida tal como a conhecemos, a NASA planeia lançar a missão Europa Clipper em outubro.

Em vez de orbitar diretamente a própria Europa, a sonda entrará numa órbita em torno de Júpiter em 2030, de modo a passar a maior parte do tempo fora da intensa radiação do gigante gasoso e passar esporadicamente por Europa para observações da estrutura oceânica e da composição química.

Artemis II: mais um passo para o regresso do ser humano à Lua

Em novembro está previsto o lançamento da missão Artemis II, a segunda parte do ambicioso projeto de levar seres humanos à Lua mais de 52 anos depois.

Esta missão será a primeira a enviar astronautas para perto da Lua desde 1972. Durante a viagem de 10 dias à volta da Lua, quatro astronautas – três da NASA e um da Agência Espacial Canadiana – vão testar a funcionalidade da nave espacial Orion.

A ESA participa na missão com o módulo de serviço construído na Europa - European Service Module - que fornece energia e propulsão para a nave espacial Orion e também fornecerá água e ar para os astronautas.

A tripulação da Artemis II: Jeremy Hansen, Victor Glover, Reid Wiseman e Christina Hammock Koch
AP Photo/Michael Wyke

SpaceX planeia lançar 150 missões este ano

A SpaceX de Elon Musk quer estabelecer novos recordes de voos espaciais este ano. Em 2023 lançou 96 missões orbitais, um salto em relação ao recorde do ano anterior de 61, estabelecido um ano antes. Este ano tem outra meta ambiciosa.

“No próximo ano, queremos aumentar a taxa de voo para cerca de 12 voos por mês, ou 144 voos”, disse William Gerstenmaier, vice-presidente da SpaceX, a18 de outubro numa audiência de o Subcomité de Espaço e Ciência do Senado dos EUA.

Cerca de dois terços dos lançamentos da SpaceX em 2023 foram dedicados à construção de Starlink, a constelação de satélites para fornecimento de internet, tendência que deverá manter-se este ano uma vez que a rede ainda não está completa.

Starlink conta atualmente com 5.230 satélites, a SpaceX tem permissão para colocar 12.000 satélites na órbita terrestre baixa (LEO) e já pediu autorização para lançar mais 30.000..

Das 96 missões orbitais da SpaceX no ano passado, 91 foram realizadas pelo seu foguetão Falcon 9 e o poderoso Falcon Heavy foi responsável pelas outras cinco. Mas 2023 também contou com dois voos de teste do lançador que a SpaceX acredita que vai operar uma revolução nos voos espaciais – o Starship, o maior e mais poderoso foguetão alguma vez construído.

O Starship é a escolha da SpaceX para um dia ir a Marte. É constituído, além do módulo para a tripulação, por um primeiro andar denominado Super Heavy. O conjunto terá um total 120 metros de altura e terá capacidade para transportar 100 toneladas a bordo.

A NASA também escolheu este foguetão para levar astronautas até meio caminho da Lua no âmbito do programa Artemis.

A missão Artemis 3 - a que levará de facto pessoas para a Lua - está prevista para 2025.

Missão privada a Vénus

Já a terminar 2024 está prevista a missão do Rocket Lab e do MIT a Vénus que tem como objetivo procurar material orgânico, possível indicador de vida, na atmosfera do planeta.

A nave Venus Life Finder, equipada com uma sonda construída em parceria com o Instituto de Tecnologia de Massachusett (MIT), partirá a 30 de dezembro para chegar a Vénus uma ano e meio depois. Uma vez lá chegada, a sonda lançará um instrumento nas nuvens venusianas que transmitirá daods à sonda para catalogar moléculas e determinar se alguma delas indica existência de vida.

Ilustração do planeta Vénus
ESO/M. Kornmesser & NASA/JPL/Caltech
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