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Sonda Euclid da ESA revela primeiras imagens a cores de galáxias distantes

A sonda europeia lançada em agosto revela as primeiras imagens de estrelas e galáxias na sua missão de recolher dados sobre a matéria escura e a energia escura que regem o Universo.

Galáxia Oculta, Galáxia espiral IC 342 ou Caldwell 5
Galáxia Oculta, Galáxia espiral IC 342 ou Caldwell 5
ESA/Euclid/Euclid Consortium/NASA

O telescópio espacial europeu Euclid, o detetive que vai investigar o “lado escuro” do Universo, revelou as suas primeiras imagens a cores do cosmos. Segundo a ESA, “nunca um telescópio conseguiu criar imagens astronómicas tão nítidas de uma tão grande área do céu e tão longe no Universo distante”.

São cinco imagens que "ilustram todo o potencial de Euclid e mostram que o telescópio está pronto para criar o mapa 3D mais extenso do Universo e revelar alguns de seus segredos ocultos", explica a ESA.

Euclid tem como objetivo investigar como a matéria escura e a energia escura influenciam a formação e evolução do Universo como o conhecemos atualmente. Ao que tudo indica, 95% do nosso cosmos é feito dessas misteriosas entidades, mas não entendemos o que são porque a sua presença causa apenas mudanças muito subtis na aparência e nos movimentos das coisas que conseguimos ver.

Para revelar a influência “obscura” no Universo visível, durante os próximos seis anos, Euclid irá observar as formas, distâncias e movimentos de milhares de milhões de galáxias até 10 mil milhões de anos-luz. E ao fazer isso, criará o maior mapa cósmico 3D alguma vez feito.

Matéria escura e energia escura

A matéria escura e a energia escura compõem 95% do Universo, mas a sua natureza permanece um grande mistério para os cientistas. Enquanto a primeira garante a coesão das galáxias, a energia escura provoca a expansão do Universo.

“A matéria escura une as galáxias e faz com que girem mais rapidamente do que a matéria visível pode explicar; a energia escura está a impulsionar a expansão acelerada do Universo. Euclid permitirá, pela primeira vez, que os cosmólogos estudem estes mistérios escuros juntos,” explica a directora de Ciência da ESA, professora Carole Mundell.

Graças ao mapa 3D que irá criar, o telescópio permitirá a realização de medições precisas sobre a distribuição das galáxias e sobre a expansão do Universo, que terá começado há seis mil milhões de anos.

As galáxias observadas vão permitir viajar no tempo até 10 mil milhões de anos atrás - o tempo necessário para que a sua luz chegue até nós.

A esperança dos astrónomos é que Euclid seja capaz de detetar os vestígios deixados pela matéria escura e pela energia escura à medida que as galáxias se formam.

“Euclid vai permitir um avanço na nossa compreensão do cosmos como um todo e estas imagens requintadas mostram que a missão está pronta para ajudar a responder a um dos maiores mistérios da física moderna", afirma Carole Mundell.

Viagem de 1,5 milhões de quilómetros

O Euclid descolou da Florida a 1 de julho a bordo do foguetão Falcon 9, da empresa aeroespacial norte-americana SpaceX. Após uma viagem de quatro semanas, o telescópio europeu, com a participação da NASA, chegou ao seu destino a cerca de 1,5 milhões de quilómetros da Terra, para um ponto estável do sistema Terra-Sol, designado Ponto de Lagrange 2 (L2).

O Euclid tem dois instrumentos a bordo: um gerador de imagens de luz visível (VIS) e um espetrómetro de infravermelho próximo (NISP). O primeiro serve para determinar a forma precisa das galáxias, o segundo, a sua distância.

O telescópio europeu revelou as primeiras imagens de teste a 1 de agosto, para verificar o funcionamento dos instrumentos científicos e para calibrá-los.

As imagens de Euclid: o “deslumbrante limiar da escuridão”

Esta terça-feira 7 de novembro, Euclid ofereceu-nos cinco espectaculares imagens do cosmos que mostram as suas capacidades: sejam estrelas brilhantes ou ténues galáxias, as observações de Euclid mostram a totalidade desses objetos celestes de forma extremamente nítida.

“Nunca vimos imagens astronómicas como estas com tanto detalhe. São ainda mais bonitas e nítidas do que esperávamos e até nos mostram novas características de áreas do Universo que já conhecíamos. Agora estamos prontos para observar milhares de milhões de galáxias e estudar a sua evolução ao longo do tempo cósmico,” afirma René Laureijs, cientista do Projecto Euclid da ESA.

O aglomerado de galáxias Perseu

“Esta incrível imagem captada por Euclid é uma revolução para a astronomia. A imagem mostra 1000 galáxias do aglomerado de Perseu e mais outras 100.000 galáxias longínquas em segundo plano”, explica a ESA.


Aglomerado de galáxias Perseu
ESA/Euclid/Euclid Consortium/NASA

Muitas destas ténues galáxias nunca tinham sido vistas, algumas estão tão distantes que a sua luz demorou 10 mil milhões de anos a chegar até nós. Esta é a primeira vez que são captadas numa única imagem tantas galáxias Perseu e com um nível de pormenor tão elevado.

Perseu é uma das estruturas mais massivas do Universo que se conhece, localizada a “apenas” 240 milhões de anos-luz da Terra.

Os astrónomos já demonstraram que aglomerados de galáxias como Perseu só se podem ter formado porque existe matéria escura no Universo, porque é o elemento que as mantém unidas.

Euclid observará numerosos aglomerados de galáxias como Perseu através do tempo cósmico, revelando esse elemento “escuro” que os mantém unidos. Ao fazer o mapa da distribuição e as formas destas galáxias, os astrónomos poderão descobrir mais sobre como a matéria escura moldou o Universo que vemos hoje.

Galáxia espiral IC 342 ou Galáxia Oculta


Ao longo da sua missão, o nosso detetive do Universo escuro irá obter imagens de milhares de milhões de galáxias, revelando a influência invisível que a matéria escura e a energia escura têm sobre elas.

Uma das primeiras galáxias que Euclid observou é a ‘Galáxia Oculta’, também conhecida como IC 342 ou Caldwell 5.

Graças à sua visão infravermelha, Euclid já descobriu informações cruciais sobre as estrelas desta galáxia, que é semelhante à nossa Via Láctea.

Galáxia Oculta, Galáxia espiral IC 342 ou Caldwell 5
ESA/Euclid/Euclid Consortium/NASA

Galáxia irregular NGC 6822

Para criar um mapa 3D do Universo, Euclid observará a luz de galáxias até 10
mil milhões de anos-luz. A maioria das galáxias do Universo primordial não são perfeitas espirais, são irregulares e pequenas.

A primeira galáxia irregular anã que Euclid observou é NGC 6822 e está localizada nas proximidades da Via Láctea, a apenas 1,6 milhão anos-luz da Terra.

Galáxia irregular NGC 6822
ESA/Euclid/Euclid Consortium/NASA

Aglomerado globular NGC 6397

Esta imagem brilhante mostra a visão de Euclid de um aglomerado globular chamado NGC 6397. Este é o segundo aglomerado globular mais próximo da Terra, localizado a cerca de 7.800 anos-luz de distância.

Aglomerados globulares são coleções de centenas de milhares de estrelas mantidas juntas pela gravidade.

Atualmente não há outro telescópio além de Euclid que consiga captar um aglomerado globular inteiro e distinguir tantas estrelas ao mesmo tempo. Estas estrelas contam-nos a história da Via Láctea e dão pistas sobre onde está localizada a matéria escura.

Aglomerado globular NGC 6397
ESA/Euclid/Euclid Consortium/NASA

A Nebulosa Cabeça de Cavalo

Euclides mostra-nos uma espetacular panorâmica da Nebulosa Cabeça de Cavalo, também conhecida como Barnard 33 que faz parte da constelação de Órion.

Com as novas observação de Euclid a este berçário de estrelas, os cientistas esperam encontrar muitos planetas, até agora invisíveis, com a massa de Júpiter
na sua infância celestial, bem como jovens estrelas.

Portugal participa na missão

Portugal participa no projeto desde 2012, faz parte de um consórcio que foi criado para desenvolver, construir e explorar o telescópio. O consórcio Euclid é constituído por mais de 2.000 cientistas de 300 institutos em 13 países europeus, EUA, Canadá e Japão

De Portugal são oriundos cientistas, engenheiros e empresas que contribuem para a missão em diversos domínios, desde o controlo das operações de voo até ao fabrico de diversos componentes do telescópio espacial e ao planeamento das observações.

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