Abusos na Igreja Católica

Entrevista SIC

Abusos na Igreja: distúrbios psicológicos ficam para sempre "sobretudo se não intervencionados"

Foram recebidos pela Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica 512 testemunhos validados, com base nos quais foi possível identificar "um número mínimo" de 4.815 vítimas.

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Entre os testemunhos de vítimas de abusos sexuais na Igreja, há quem admita que nunca conseguiu esquecer o que sofreu. Mauro Paulino, psicólogo clínico, explica que os distúrbios psicológicos podem ficar para sempre "sobretudo se não intervencionados".

Existe uma necessidade de procura de ajuda, principalmente quando a pessoa tem de lidar com a dor sozinha, eventualmente com o receio de afirmar essas situações à família, diz Mauro Paulino.

"Com o tempo o sofrimento emocional aumenta, por isso a necessidade das pessoas procurarem ajuda."

Após a divulgação do relatório, é "essencial que a igreja passe aqui uma mensagem de que as vítimas têm agora uma oportunidade de beneficiar dessa ajuda", afirma Paulino.

O trabalho realizado pela comissão é "um passo essencial" que marca a transição entre " aquilo que era a descredibilização continuada das vítimas para uma tentativa de punir os agressores e de auxiliar quem sofreu durante anos".

Mauro Paulino caracteriza os espaços onde maioritariamente ocorreram os abusos, que são "espaços de controlo do agressor, que eles sentiam que estavam no seu domínio, que ali conseguiam manipular, mesmo que alguém visse ou fosse pedir satisfações".

Tratam-se de locais que são de "conforto ao agressor para continuar a manter a atividade criminosa", porque a maioria dos abusos não foi um único abuso, "foram reiterados".

O "silêncio cúmplice durante vários anos de líderes católicos", que tinham a responsabilidade de trazer para justiça estes casos para que pudessem ser investigados, fez com que este passo ficasse por fazer, diz o psicólogo, que acredita que há vítimas que "só daqui a mais tempo poderão ter a coragem de vir dizer tudo aquilo que sofreram".

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