24 de Abril de 1974
22h55 - A primeira senha da Revolução
Emissores Associados de Lisboa. Lisboa, Avenida Elias Garcia – A voz de João Paulo Dinis anuncia aos microfones dos Emissores Associados de Lisboa:
“Faltam cinco minutos para as vinte e três horas. Convosco, Paulo de Carvalho com o Eurofestival 74, ‘E Depois do Adeus’', de José Niza.
Era o primeiro sinal para que as unidades militares aderentes iniciassem os preparativos da sua participação nas operações militares a desencadear pelo Movimento das Forças Armadas.
E DEPOIS DO ADEUS
Quis saber quem sou
O que faço aqui
Quem me abandonou
De quem me esqueci
Perguntei por mim
Quis saber de nós
Mas o mar
Não me traz
Tua voz
Em silêncio, amor
Em tristeza e fim
Eu te sinto, em flor
Eu te sofro, em mim
Eu te lembro, assim
Partir é morrer
Como amar
É ganhar
E perder
Tu vieste em flor
Eu te desfolhei
Tu te deste em amor
Eu nada te dei
Em teu corpo, amor
Eu adormeci
Morri nele
E ao morrer
Renasci
E depois do amor
E depois de nós
O dizer adeus
O ficarmos sós
Teu lugar a mais
Tua ausência em mim
Tua paz
Que perdi
Minha dor que aprendi
De novo vieste em flor
Te desfolhei…
E depois do amor
E depois de nós
O adeus
O ficarmos sós.
25 de Abril de 1974
00h20: É emitida a segunda senha da Revolução.
Na Rádio Renascença, na Rua Capelo em Lisboa – Paulo Coelho é o locutor de serviço no programa “Limite”.
Soa a voz previamente gravada de Leite de Vasconcelos através dos emissores da Rádio Renascença a ler a primeira quadra da canção “Grândola, Vila Morena”, de José Afonso.
Está em marcha a operação militar “Fim de Regime” liderada por capitães do Movimento das Forças Armadas (MFA) para derrubar o regime ditatorial de Marcello Caetano.
Mas não foram apenas estas músicas que “fizeram” a Revolução de Abril, tantas outras expressam o sentimento de liberdade que os portugueses tanto ansiavam e conseguiram, numa revolução feita de cravos e não de espingardas.
Seleção de algumas músicas para celebrarmos juntos o dia histórico.
“Liberdade”, de Sérgio Godinho
A canção foi composta por Sérgio Godinho em parceria com José Mário Branco Foi lançada em 1974, no contexto pré-Revolução dos Cravos e reflete o desejo do povo português por liberdade e justiça.
“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, José Mário Branco
Com base num poema de Luís Vaz de Camões, do século XVI, José Mário Branco adaptou o poema para o contexto político da época, transformando-o num hino de resistência e esperança. A letra da música evoca a ideia de que, apesar das dificuldades e das injustiças, as vontades podem mudar e um novo tempo pode surgir.
“Tourada”, de Fernando Tordo
Composta por Fernando Tordo e com letra de Ary dos Santos em 1970 é uma metáfora poética que critica a ditadura do Estado Novo. A música denuncia a violência, a opressão e a hipocrisia do governo, enquanto evoca um sentimento de resistência e esperança por tempos melhores.
“Trova Do Vento Que Passa”, de Adriano Correia de Oliveira
Canção composta por António Portugal a partir de um poema de Manuel Alegre em 1963.
“O Povo Unido Jamais Será Vencido”, Luís Cília
Escrito por Sergio Ortega Alvarado e os Quilapayún antes do golpe de Estado fascista no Chile que depôs Salvador Allende, em 1973, “El Pueblo Unido Jamás Será Vencido” tornou-se um dos hinos da resistência chilena e da esquerda internacional. Em 1974 a banda chilena, na altura exilada em França, acompanhou Luís Cília, que também vivera em França durante a ditadura salazarista, nesta versão portuguesa da canção.
“Tanto Mar”, de Chico Buarque
Homenagem de Chico Buarque ao povo português e à sua luta pela liberdade e democracia, mas também um manifesto de solidariedade e resistência nos tempos sombrios da ditadura militar no Brasil.