50 anos do 25 de Abril

Portugal à beira da revolução: o contexto histórico que levou ao 25 de Abril de 1974

Como se vivia em Portugal na década de 1970: da ditadura do Estado Novo e as restrições à liberdade de expressão às más condições de vida da população e a prolongada guerra colonial.

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Em 1970, Portugal encontrava-se há quase quatro décadas mergulhado num regime ditatorial conhecido como Estado Novo, liderado pelo autoritário António de Oliveira Salazar e posteriormente por Marcello Caetano.

Um regime ditatorial que naturalmente se caracterizou pela repressão política, censura e falta de liberdade de expressão. As restrições à liberdade de expressão eram severas, com a censura a controlar de perto os meios de comunicação, limitando a disseminação de informações e suprimindo qualquer forma de oposição ao governo. Críticas ao regime eram punidas com prisão, tortura ou exílio.

Funcionário do Arquivo Nacional da Torre do Tombo abre o arquivo sobre a antiga polícia política PIDE-DGS, em Lisboa, quinta-feira, 24 de Abril de 1997.
LUISA FERREIRA

Uma das peças-chave do aparelho repressivo do Estado Novo era a polícia política, a PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado). Esta organização era responsável por vigiar e reprimir qualquer forma de dissidência política, utilizando métodos brutais de interrogatório, prisão e tortura contra os opositores do regime. O clima de medo e intimidação instaurado pela PIDE contribuiu para a manutenção do poder autoritário do Estado Novo e para a supressão de qualquer tentativa de resistência.

Economicamente, o país enfrentava dificuldades significativas. A economia portuguesa estava estagnada, com altas taxas de desemprego, pobreza e uma distribuição desigual de riqueza. A falta de desenvolvimento e modernização contribuía para um clima de insatisfação generalizada. As condições de vida da maioria dos portugueses eram precárias, com acesso limitado a serviços básicos como saúde e educação. A população rural, em particular, sofria com a falta de infraestruturas e oportunidades de emprego, enquanto a classe trabalhadora enfrentava baixos salários e más condições de trabalho.

Este cenário de opressão política e dificuldades económicas criou um caldeirão de descontentamento popular, que acabaria por culminar na Revolução dos Cravos em 25 de abril de 1974. Este evento histórico marcou o fim do regime ditatorial e o início de uma nova era de democracia e liberdade em Portugal.

Instruções de censura em exposição no Museu do Aljube Resistência e Liberdade
Horacio Villalobos / Corbis via Getty Images

As raízes da Revolução: causas do levantamento militar de 25 de Abril

A Revolução dos Cravos foi o culminar de décadas de repressão política, guerra colonial em África, a supressão de direitos e da democracia.

A prolongada guerra colonial em África, nomeadamente nos territórios de Angola, Moçambique e Guiné-Bissau, foi uma das principais causas do levantamento militar. Esta guerra drenou os recursos e a moral do país, resultando em perdas humanas significativas e custos económicos insustentáveis.

O descontentamento crescente entre os soldados enviados para combater e o da população em geral alimentou o desejo de mudança.

A repressão política e social exercida pelo Estado Novo, a falta de liberdade de expressão, a censura aos meios de comunicação e a perseguição aos opositores políticos criaram um clima de medo e silêncio que não podia ser sustentado indefinidamente.

A população portuguesa ansiava por participação política genuína e pelo respeito dos seus direitos fundamentais. As injustiças acumuladas ao longo dos anos convergiram para os acontecimentos que se desencadearam na madrugada de 25 de Abril.

Os protagonistas da Revolução: o papel decisivo dos líderes militares do MFA e dos aliados políticos e sociais

A Revolução de 25 de Abril de 1974 em Portugal não teria sido possível sem o papel crucial desempenhado pelos líderes militares do Movimento das Forças Armadas (MFA), bem como pelas organizações políticas e sociais que apoiaram o levantamento.

Soldados do Movimento das Forças Armadas (MFA) nas ruas de Lisboa após o 25 de Abril de 1974
Henri Bureau / Getty

O MFA emergiu como o catalisador da mudança, composto por oficiais de várias patentes que estavam descontentes com o rumo político e social do país sob o regime ditatorial do Estado Novo. Estes líderes militares, como Otelo Saraiva de Carvalho, Vasco Lourenço e Salgueiro Maia, entre outros, conceberam e executaram meticulosamente o plano para derrubar o Governo e restaurar a democracia em Portugal.

Além dos líderes militares, as organizações políticas desempenharam um papel vital no apoio e mobilização do povo português. O Partido Comunista Português (PCP), há muito tempo reprimido pelo regime do Estado Novo, emergiu como uma força poderosa durante a revolução, ajudando a organizar manifestações, greves e outras formas de resistência popular, tendo mais tarde desempenhado um papel na consolidação da democracia.

Os movimentos de libertação colonial, como o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), a FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) e o PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde), também desempenharam um papel significativo, tanto no apoio à revolução como na luta pela independência dos territórios coloniais portugueses em África.

Em conjunto, estes protagonistas uniram-se para derrubar um regime opressivo e abrir caminho para uma nova era de democracia, liberdade e justiça social em Portugal e nos territórios coloniais.


Jean-Claude FRANCOLON
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