Depois de três votações durante o dia e noite desta terça-feira, o Parlamento não conseguiu eleger o presidente da Assembleia da República. O que se segue?
O Parlamento volta agora a reunir-se em plenário esta quarta-feira, às 12:00, para uma nova votação. Para tal, os partidos têm até às 11:00 para apresentar os candidatos.
Porque há um impasse?
A legislatura arrancou esta terça-feira com uma missão: eleger o presidente da AR, mas, para isso, é preciso (algum) consenso. E tudo apontava para tal. Aguiar-Branco (PSD) concorria sozinho e o cenário esperado era o de uma maioria à Direita. Mas o Chega travou a eleição.
Surpresa (e impasse) no dia 1 da nova legislatura: será este um vislumbre do resto da governação?
Depois de uma pausa, o plenário concordou em seguir para segunda votação, dando tempo, antes disso, para os partidos se reunirem e apresentarem novos candidatos.
Entraram, nessa altura, na corrida - para além de Aguiar-Branco (PSD) - Francisco Assis (PS) e Manuela Tender (Chega). A esta altura, tudo fazia prever um novo impasse. E assim foi. À segunda votação, nenhum dos candidatos conseguiu maioria (116 votos).
Seguiram, para uma segunda volta (e terceira votação) os dois mais votados: o candidato do PSD e o do PS, com o Chega a ter nas mãos o poder de desbloquear a eleição.
Mas quando tudo parecia poder indicar um consenso à Direita para eleger Aguiar-Branco, o Chega votou em branco (e em peso) e manteve o Parlamento em suspenso.
Os resultados da terceira votação
- Francisco Assis (PS): 90 votos
- Aguiar-Branco (PSD): 88 votos
- Votos em branco: 52 votos
Significa isto que os deputados do Chega voltaram a travar a eleição de Aguiar-Branco. Com o apoio do grupo parlamentar de André Ventura, Aguiar-Branco teria conseguido 138 votos, mais do que o necessário (116) para ser eleito.
António Filipe, o presidente em exercício durante a primeira sessão desta legislatura, deu por terminado o dia com um toque de humor: "Queria anunciar que, apesar da minha inusitada permanência em funções, não vou pernoitar na residência oficial", o que motivou uma gargalhada geral no plenário.
Mas, à saída do plenário, poucos se mostraram satisfeitos com o resultado.
André Ventura acusou o PSD de “arrogância” e de “não ceder”, insistindo na disponibilidade do Chega para um entendimento à Direita. Por sua vez, o PSD lamentou o desfecho e mostrou-se disponível para dialogar (com todos).
Rui Rocha acusou Ventura de manter o Parlamento “refém de uma birra” e, à Direita, também Nuno Melo lamentou o “número de circo”.
Já o deputado socialista Eurico brilhante Dias revelou que o PS nunca foi contactado para um acordo para eleger o novo presidente da Assembleia da República e lembrou que os socialistas apresentaram um candidato que venceu nas votações por duas vezes.
À Esquerda, o PCP considerou "lamentável" a sucessão de acontecimentos e o Livre atirou ‘culpas’ para o PSD: "Ouvimos a direita a falar de uma realidade paralela como se tudo isto fosse imprevisível. O que o PSD quis foi manter a sua ambiguidade e seu silêncio até ao limite do insustentável".
Inês de Sousa Real, deputada única do PAN, pediu ao PSD que se aproxime de uma "escolha democrática" que permita eleger o presidente da Assembleia da República.
Primeiro dia terminado. Em aberto continua o nome de quem ocupará o lugar da segunda figura do Estado. Há poucas convergências, mas, sobretudo, poucas certezas sobre quem será e quando será eleito.