Ser ou Não Ser

José Macário Correia: “Muitos autarcas preferem fazer rotundas do que tapar os buracos dos tubos das redes municipais”

Para o presidente da Associação de Regantes do Sotavento Algarvio, a resolução da seca no Algarve passa pela construção de novas barragens. José Macário Correia critica os 30% de água desperdiçados devido às ruturas nas redes municipais e lamenta ainda que o país esteja entregue a “gaiatos”. Oiça a conversa no podcast Ser ou Não Ser

Deixou a vida política para ser agricultor no Algarve: “estou a produzir alimentos, é o meu contributo para a sociedade”, diz José Macário Correia. No entanto, lamenta que nos próximos anos parte da mão-de-obra da agricultura seja estrangeira. “Algarvios a trabalhar na apanha da laranja não conheço nenhum!”. Aponta ainda o desequilíbrio nos pagamentos: “quem compra paga a pronto aos donos da cadeia de supermercados, mas quem produz a fruta e pagou o gasóleo, a mão-de-obra e os adubos tem de esperar pelo dinheiro, é assim que funciona”.

O antigo secretário de Estado do Ambiente de Cavaco Silva e ex-presidente da Câmara Municipal de Tavira acredita que a seca no Algarve se pode resolver com a construção de mais barragens. Além da Foupana, que está em projeto, destaca ainda as ribeiras do Vascão, de Oeiras, de Carreiras, de Limas e de Terges e Cobres. Todas abaixo do Alqueva.

Na sua opinião, os afluentes do Guadiana têm condições para armazenar água e fazer com que esta seja consumida em toda a zona do Sotavento. Aponta os problemas de escassez de água ao facto de, nos últimos anos, Portugal ter tido “governos de gaiatos, de moços pequenos. Os estadistas, os estrategas e as pessoas com capacidade de decisão desapareceram”, diz Macário Correia, sublinhando ainda que a governação dos últimos anos assistiu ao problema da seca e não tomou nenhuma decisão relevante.

TOMAS ALMEIDA

Macário Correia critica ainda o projeto da dessalinizadora prevista para a zona de Albufeira, no Algarve. “Foi pensada para 25 milhões de euros. Depois passou para 50 e o concurso prevê um preço base de construção de 90 milhões de euros para 2026, mas na minha opinião vai acabar nos 200 milhões de euros”, afirma. O antigo secretário de Estado do Ambiente vai mais longe: “200 milhões para produzir 16 hectómetros de água via dessalinização? Vale mais comprar água engarrafada”. Para o antigo autarca, enquanto se puder recorrer à água doce não se devia investir na dessalinização devido ao impacto que a salmoura tem no mar.

As câmaras municipais também não fogem à sua mira. “Se no Algarve não houvesse as ruturas nas redes municipais, a água podia ser 30% mais barata”, contabiliza, lamentando que os consumidores algarvios estejam a pagar a incompetência dos seus autarcas. “Vemos 25 hectómetros cúbicos de água por ano a ir para o lixo. Água que dava para regar 8 mil hectares de terra”. O agricultor algarvio diz também que, a nível europeu, as “tratoradas” vão continuar, uma vez que a política agrícola tem perdido para a política ambiental e lamenta que o Ministério da Agricultura em Portugal esteja desfeito.

Episódios
Últimas notícias
Mais Vistos
Mais Vistos do