Geração 70 em Podcast

“Para mim a luta contra o fascismo era passado. A minha desilusão é saber que as minhas filhas vão ser confrontadas com essa luta”

Na semana dos 50 anos do 25 de Abril, Bernardo Ferrão recebe no Geração 70 o arquiteto Tiago Mota Saraiva, numa conversa sobre política, o crescimento do Chega e do ódio. Oiça aqui o podcast

José Fernandes

Nasceu em 1976, cresceu e viveu no Estoril. O pai foi artista gráfico e plástico e desenhou alguns dos autocolantes da coleção de José Pacheco Pereira. Em criança passava tardes nos centros de congressos do PCP. Foi através do partido que os pais se conheceram, numa associação de moradores.

Da infância recorda as longas viagens de carro que faziam “atrás do pai”, no mini vermelho da família. Foi assim que conheceu o país. As viagens eram longas, não havia autoestradas e “se calhar ainda bem!”, confessa.

É filho de comunistas, mas nunca foi pressionado a entrar no partido. Com 18 anos, em 1994, seguiu as pisadas dos pais e tornou-se militante do PCP - até hoje.

José Fernandes

As artes sempre estiveram na família e o avô bem que tentou impingir a arquitetura ao pai, mas sem sucesso. Foi a escolha do neto e está muito ligada ao pensamento comunista, ao “sonho de construção de uma sociedade igual”.

“Se não fosse arquiteto seria matemático”. Sempre que pensa no momento em que percebeu que queria ser arquiteto lembra-se do bloco de desenhos de “casas de luxo” de um colega de escola de quem até tinha “um certo medo”.

É uma profissão incerta. Já na faculdade os colegas comentavam que só queriam um atelier aos 50 anos. Trabalha muito para o Estado e confessa que os pagamentos são demorados. “Passo grande parte da minha vida nessa dor, fica difícil sustentar um escritório e as pessoas que trabalham comigo”, conta.

José Fernandes

Fez parte da equipa responsável pela reconstrução de casas em Pedrógão, depois dos incêndios, e recorda a “pressão” que teve para “despachar tudo” porque o “Presidente Marcelo queria inaugurar”. “O valor da arquitetura é sempre muito desqualificado”, confessa.

É também professor na Universidade de Lisboa e nos últimos anos tem sido muito crítico do peso que o turismo tem em Portugal. “Há sempre um receio de entrarmos numa turismofobia, mas as sociedades estão, todas elas, feitas e viradas para o turismo”, explica.

Acredita que a partir da habitação “podemos salvar a democracia”. Reconhece que é um problema que afeta muitos portugueses e recorda os tempos do cavaquismo e do PER, onde, acredita, que “foram construídas casas que estão agora a ser intervencionadas”.

“Habitação não é só o que está da porta de casa para dentro. Viver em comum é habitação e falhámos no desenho das cidades”, continua.

José Fernandes

Na semana dos 50 anos do 25 de Abril, Bernardo Ferrão recebe no Geração 70 o arquiteto Tiago Mota Saraiva, numa conversa sobre política, o crescimento do Chega e do ódio. Oiça aqui o podcast.

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