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Afinal, que motivos tem o Daesh para atacar a Rússia?

Há precisamente uma semana, a esta hora, quatro homens armados entravam numa sala de concertos num centro comercial nos arredores de Moscovo e disparavam sobre quem lhes aparecesse à frente. Ao todo, morreram 143 pessoas. Mas afinal, que motivos tem o Daesh para atacar a Rússia?

Afinal, que motivos tem o Daesh para atacar a Rússia?
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Foi há uma semana. Passava pouco depois das 17:30 quando, nos arredores de Moscovo, quatro homens armados entravam num dos maiores centros comerciais da zona. Lá dentro, milhares de pessoas aguardavam por um concerto no Crocus City Hall.

Sem dó nem piedade, abriram fogo sobre quem se lhes atravessou à frente e também sobre quem se escondeu. Vídeos filmados por sobreviventes mostraram os corpos que se iam amontoando à passagem do grupo.

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O ataque terrorista fez 143 mortos e, um dia depois, o Daesh reivindicou a sua autoria. O ramo afegão do autoproclamado Estado Islâmico - o "ISIS-K" - afirmou que as vítimas eram cristãs e matá-las fazia parte do conflito do grupo com "os Estados que combatem o Islão", mas os motivos da organização terrorista parecem ser muito mais complexos.

Eis algumas implicações deste ataque:

Por que razão o Daesh atacou a Rússia?

O Daesh não costuma fazer distinção entre os países do mundo, considerando-os todos alvos legítimos por serem habitados por não muçulmanos ou governados por apóstatas, mas a Rússia inspira um ressentimento especial, segundo o especialista do Crisis Group, Jerome Drevon.

A invasão do Afeganistão pela União Soviética em 1979 e a década de ocupação que se seguiu ainda suscitam a fúria de muitos jihadistas, tal como as duas guerras da Rússia na Chechénia, em 1994 e 2000.

Mais recentemente, o envolvimento ativo de Moscovo no apoio ao regime sírio envolveu numerosos confrontos com o grupo terrorista, nomeadamente na cidade de Palmira, que o poder aéreo russo ajudou as forças do regime de Bashar al-Assad a recapturar.

Ao longo do último ano, a Rússia também criou alianças com juntas militares no Sahel, apoiando-as nos esforços para controlar vários grupos militantes, incluindo a filial do EI na região.

A filial do Daesh no Afeganistão esteve envolvida?

Os responsáveis ocidentais tendem a considerar o "ISIS-K", sediado no Afeganistão e no Paquistão, como o afiliado mais capaz de perpetrar ataques fora da sua área de atuação imediata.

Desde que os talibãs assumiram o controlo do Afeganistão, o "ISIS-K" levou a cabo vários ataques fora do país.

“A realização de ataques em países estrangeiros é uma forma de projetar poder e preservar a relevância do ”ISIS-K", mesmo quando o grupo perde combatentes e território no Afeganistão", afirmou o especialista Jerome Drevon, do Crisis Group.

Segundo o Crisis Group, a Rússia e outros países têm mantido diálogos informais com responsáveis talibãs, em parte com o objetivo de compreender melhor o “ISIS-K”.

O ataque está relacionado com a guerra da Ucrânia?

Sem apresentar provas, o Presidente Vladimir Putin disse que os quatro homens que a Rússia acredita serem os atiradores estavam a tentar fugir por uma "janela" na fronteira russo-ucraniana.

Um porta-voz dos serviços secretos militares ucranianos considerou esta alegação absurda, uma vez que os suspeitos teriam de atravessar uma frente ativa repleta de soldados e polícias secretos russos.

"Em todo o caso, o ataque parece estar fora de sincronia com a tática da Ucrânia para se defender da invasão total da Rússia", sublinha Drevon.

A Ucrânia, que tem capacidade para atacar a retaguarda da Rússia com mísseis e ataques de 'drones', nunca recorreu a ataques propositadamente em grande escala contra civis, como os que o Daesh e os seus afiliados têm levado a cabo.

Que implicações poderá ter o ataque para a Rússia a nível interno?

Na Rússia, o ataque é suscetível de reforçar ainda mais a posição do Kremlin. O Kremlin poderá também utilizá-lo como justificação para novas medidas repressivas contra figuras da oposição e restrições à governação local e às liberdades civis, como foi visto em 2004, quando Putin aboliu a eleição direta dos governadores em resposta ao ataque de Beslan, quando homens armados cercaram uma escola, causando centenas de mortes.

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