50 anos do 25 de Abril

Memória coletiva: como deve ser lembrado o 25 de Abril e o Estado Novo?

Uma sondagem no âmbito das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril revela a opinião dos portugueses sobre a forma como deve ser lembrado o regime político do Estado Novo, o próprio evento revolucionário e a transição para a democracia.

Memória coletiva: como deve ser lembrado o 25 de Abril e o Estado Novo?

No âmbito das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, foi realizada uma sondagem pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa) e do Iscte – Instituto Universitário de Lisboa (Iscte-IUL) para a SIC e o Expresso para determinar “As atitudes dos portugueses em relação ao 25 de abril de 1974 e às mudanças sociais e políticas ocorridas nos últimos 50 anos”.

A primeira questão deste inquérito foi colocada antes de os inquiridos saberem exatamente a temática do estudo.

Foram apresentados seis factos históricos, perguntando-se qual deles o inquirido considerava “o mais importante para a História de Portugal”.

Em 2024, 65% escolheram o 25 de abril de 1974, tal como nos estudos anteriores de 2004 e 2014, com um aumento significativo na percentagem de inquiridos que selecionaram este facto como sendo o mais importante da História do país.

O perfil sociodemográfico dos inquiridos

Do ponto de vista sociodemográfico, a escolha do 25 de abril de 1974 como “o mais importante para a História de Portugal” foi mais alta entre mulheres, com mais de 44 anos e que vivem com maiores dificuldades, e mais baixa entre os inquiridos que completaram o ensino superior.

No que diz respeito às características sociopolíticas, os inquiridos que afirmaram simpatizar com o PS tendem a selecionar o 25 de abril de 1974 mais frequentemente do que os que disseram que simpatizam com o PSD ou com o Chega.

Apesar de a maioria dos inquiridos que se posicionam ideologicamente à direita indicarem o 25 de abril de 1974 como o facto mais importante da história de Portugal, esta opinião é ainda mais frequente entre os que se posicionam ao centro e, especialmente, à esquerda.

Como devia passar à história o regime político que existia antes do 25 de Abril?

"Pela sua experiência própria ou por aquilo em que ouviu falar, como acha que devia passar à história o regime político que existia antes do 25 de Abril?"

Questionados sobre como pensam que o Estado Novo devia ser recordado, os inquiridos escolheram nos três estudos que é “um período que teve mais coisas negativas que positivas”.

Depois de uma quebra em 2014, face a 2004, na proporção dos que olham para o regime anterior de forma mais negativa que positiva, em 2024 o grupo dos que expressam esta opinião voltou a representar exatamente metade dos inquiridos.

Por outro lado, apenas um em cada cinco inquiridos considera que se tratou de “um período com mais coisas positivas que negativas”.

O perfil sociodemográfico dos inquiridos

Não há grandes diferenças entre subgrupos criados com base nas características sociodemográficas ou sociopolíticas dos inquiridos no que diz respeito há ideia de que o regime anterior ao 25 de abril teve “mais coisas negativas que positivas”.

Ainda assim, esta resposta é escolhida sobretudo por aqueles que vivem bem ou até confortavelmente com o rendimento do seu agregado familiar e com menor frequência entre aqueles que referem ter dificuldades.

Quanto mais elevado é o nível de instrução dos inquiridos, maior a propensão para acharem que o regime anterior tinha “mais coisas negativas que positivas”.

Como devia passar à História o 25 de Abril?

"Como acha que o 25 de Abril devia passar à História: como algo que teve consequências mais positivas que negativas, tão positivas como negativas, ou mais negativas que positivas?"

Nos três anos de estudos mais de metade dos inquiridos exprime a opinião de que o 25 de Abril deveria passar à História como tendo tido “consequências mais positivas que negativas”.

No entanto, a última sondagem revela que há um aumento gradual da proporção daqueles que consideram que o 25 de Abril teve consequências “tão positivas como negativas”, ideia partilhada atualmente por cerca de um terço dos inquiridos.

O grupo de inquiridos que tem uma visão predominantemente negativa das consequências do 25 de Abril mantém-se, desde 2014, nos 10%. Apenas 2% dos inquiridos afirmaram não saber ou recusaram responder a esta pergunta neste inquérito de 2024.

O perfil sociodemográfico dos inquiridos

Apesar de a opinião maioritária em todos os grupos analisados ser a de que o 25 de abril teve “mais consequências positivas que negativas”, encontramos algumas diferenças entre grupos sociodemográficos e sociopolíticos.

Por exemplo, esta é uma opinião mais frequentemente escolhida pelos inquiridos com nível de instrução mais elevado, cujo rendimento permite viver sem dificuldades, e que têm entre 25 e 44 anos, especialmente em comparação com quem tem menores níveis de instrução, maior dificuldade em viver com o rendimento do seu agregado e mais de 65 anos, respetivamente.

Quanto à simpatia partidária, os inquiridos que simpatizam com o PS têm maior propensão para avaliar de forma predominantemente positiva as consequências do 25 de Abril que quem não tem simpatia por nenhum partido ou quem simpatiza com o Chega ou com o PSD. A expressão desta opinião tende a ser mais frequente entre aqueles que se posicionam à esquerda do que entre os que se posicionam ao centro ou à direita.

A forma como se levou a cabo a transição para a democracia é motivo de orgulho?

"Acha que a forma como se levou a cabo a nossa transição para a democracia constitui um motivo de orgulho para os portugueses?"

Quatro em cada cinco inquiridos consideram que a forma como se levou a cabo a transição para a democracia é “motivo de orgulho para os portugueses”.

Há uma tendência para que esta opinião seja ligeiramente mais comum hoje do que era há 20 anos. Ao mesmo tempo, a proporção dos que dizem não saber ou recusam responder é, em 2024, mais baixa que há 10 ou há 20 anos.

O perfil sociodemográfico dos inquiridos

Existe um considerável consenso entre subgrupos sociodemográficos e sociopolíticos em relação a esta questão, mas algumas tendências são dignas de nota.

Por um lado, os idosos, os menos escolarizados e os que reportam dificuldades em viver com o rendimento do seu agregado familiar são ligeiramente menos propensos a achar que os portugueses se devem orgulhar do modo como ocorreu a transição para a democracia, quando comparados com os homens, os inquiridos com idades intermédias (25-44 e 45-64 anos), os detentores de um diploma do ensino superior e os que expressam avaliações mais positivas sobre rendimento de que dispõem, respetivamente.

Em termos sociopolíticos, quem não simpatiza com nenhum partido é tendencialmente menos propenso a concordar com esta afirmação do que quem afirma simpatizar com o PS, com o PSD ou com o Chega.

Ficha Técnica

. Estudo coordenado pelo ICS e pelo ISCTE

. Universo de indivíduos de ambos os sexos, com idade igual ou superior a 18 anos e capacidade eleitoral ativa, residentes em Portugal, selecionados através do método de quotas

. Informação recolhida através de entrevista direta e pessoal na residência dos inquiridos

.Trabalho de campo realizado pela GfK Metris entre 20 de março e 4 de abril de 2024

. Contactados 4239 indivíduos elegíveis

. 1206 entrevistas válidas

. Margem de erro máxima de +/- 2,8%, com um nível de confiança de 95%

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