Saúde Mental

Vamos falar de saúde mental

Porque é importante e muitas vezes desvalorizada. Porque devemos cuidar dela. E porque sem ela surgem as perturbações mentais que afetam a vida de milhões de pessoas no mundo.

Vamos falar de saúde mental
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O que é a saúde mental?

Estima-se que uma em cada cinco pessoas em Portugal tenha uma doença mental. A depressão é a que mais afeta os portugueses. As "doenças invisíveis" são muitas vezes a razão pela qual as pessoas são vítimas de olhares e comentários discriminatórios de colegas, amigos e familiares.

Em algum momento das nossas vidas já devemos ter ouvido a expressão: “mente sã, corpo são”. Não é por acaso, devemos mesmo cuidar de ambas, tanto a saúde física como a saúde mental, de igual forma.

O psiquiatra Vítor Cotovio sublinha que: "sem saúde mental, a outra também fica comprometida".

Aquilo que se passa na nossa mente acaba por ser, de alguma forma, um intermediário da qualidade relacional que nós estabelecemos entre os vários órgãos e sistemas do corpo e, por outro lado, também um intermediário da nossa relação connosco e com os outros.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, não existe uma definição oficial para o termo saúde mental. No entanto, a organização refere-se a um "estado de bem-estar no qual o indivíduo tem consciência das suas capacidades, pode lidar com o stress habitual do dia-a-dia, trabalhar de forma produtiva e frutífera, e é capaz de contribuir para a comunidade em que se insere".

Ao longo dos anos, a saúde mental de um indivíduo pode sofrer várias alterações que são influenciadas por acontecimentos, relações, experiências, fatores biológicos, entre outras coisas. É por isso importante manter-se alerta, cuidar do corpo e da mente, não ter medo de pedir ajuda a profissionais qualificados se necessitar e não ter vergonha de abordar o assunto. Porque sem saúde mental, surgem as perturbações mentais.

A 10 de outubro, celebra-se o Dia Mundial da Saúde Mental, mas é imporante que o tema não seja esquecido durante todos os outros dias.

Os sinais de alerta

Isolamento, alienação, apatia, preocupação, medo e tristeza, cansaço, ansiedade e agressividade são palavras que podem estar associadas a perturbações da saúde mental.

As manifestações que remetem para eventuais problemas de saúde mental são muitas, mas, de acordo com o bastonário dos psicólogos, há pequenos sinais que podem ser de alerta. É, por isso, fundamental estar atento.

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Francisco Miranda Rodrigues lembra que é importante estar atento quando se sente “aquela ansiedade generalizada que não passa” e quando não se consegue perceber como é que se sai dessa sensação.

"Se nós começamos, durante muito tempo, a ter uma irritabilidade que nos prejudica nas relações com os outros ou a ter problemas com o sono”, o psicólogo considera que são situações que nos devem fazer despertar.

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Este artigo identifica algumas das perturbações mentais que afetam milhões de pessoas no mundo, tanto homens como mulheres, em idade adulta ou mesmo em crianças, e dá a conhecer os seus sintomas.

Perturbações mentais mais comuns

Esquizofrenia

A esquizofrenia é um transtorno mental grave que afeta cerca de 20 milhões de pessoas no mundo. É uma doença que afeta o funcionamento do cérebro e consequentemente os comportamentos, pensamentos e emoções.

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A doença é por norma diagnosticada no fim da adolescência/início da idade adulta. No entanto, também pode manifestar-se em idades mais avançadas. Se a esquizofrenia não for detetada cedo e devidamente tratada, pode tornar-se incapacitante.

Apesar de ser uma doença crónica, o devido acompanhamento e tratamento facilitam aos doentes a sua integração social e profissional.

Sintomas mais frequentes da esquizofrenia: alucinações; delírios; isolamento social; paranoia; apatia; irritabilidade; dificuldade em concentrar-se; tristeza constante ou depressão; alterações emocionais; dificuldade em sentir ou expressar emoções e desinteresse pelas atividades do dia-a-dia.

Perturbação Bipolar

A perturbação bipolar, também conhecida como Doença Maníaco-Depressiva, é caracterizada por variações drásticas de humor e afeta cerca de 45 milhões de pessoas no mundo. A perturbação bipolar tem início durante a adolescência ou início da idade adulta e permanece durante toda a vida.

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Os doentes bipolares passam por crises repetidas de depressão e mania. As crises de depressão são caracterizadas por um estado profundo de tristeza, apatia e inquietação. Já os episódios maníacos apresentam estados de humor elevados nos quais as pessoas se sentem muito felizes e com mais energia que o normal.

A duração das crises varia: pode durar dias, semanas ou até meses. Em alguns casos é possível prever quando vão acontecer. É por isso fundamental que os doentes diagnosticados com doença bipolar sejam acompanhados por profissioanis de saúde especializados.

SINTOMAS DURANTE EPISÓDIOS DEPRESSIVOS

  • Insónias;
  • Tristeza profunda;
  • Pensamentos suicidas;
  • Fadiga e perda de energia;
  • Diminuição do desejo sexual;
  • Dificuldade em tomar decisões;
  • Alterações do apetite e do peso.

SINTOMAS DURANTE EPISÓDIOS MANÍACOS

  • Humor elevado;
  • Energia excessiva;
  • Reação excessiva a estímulos;
  • Diminuição da necessidade de dormir;
  • Sentimentos eufóricos e crenças irrealistas;
  • Abuso de drogas e comportamentos paranoicos;
  • Aumento da vontade sexual, comportamento desinibido com escolhas inadequadas.

Depressão

A depressão é caracterizada por estados de angústia e tristeza profundas. A tristeza, tal como a felicidade ou a frustação, são emoções que são vividas por todas as pessoas e que são momentâneas. Não quer isto dizer que quando estamos tristes, estamos com uma depressão.

O psiquiatra Vítor Cotovio explica que o quadro deve ser avaliado tendo em conta quatro critérios: "o sofrimento que a pessoa sente, a intensidade do quadro, a persistência do quadro no tempo e, por fim, aquilo que é a disfuncionalidade que quase atravessa a vida daquela pessoa".

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A depressão pode apresentar-se em diferentes graus de gravidade e, regra geral, afeta mais as mulheres do que os homens.

A Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental refere que a depressão afeta "cerca de 20% da população portuguesa". É a doença mental que mais afeta os portugueses. A Organização Mundial da Saúde considera-a a principal causa de incapacidade.

Portugal é o quinto país da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) que mais consome antidepressivos. A taxa de consumo é o dobro de países como a Holanda, a Itália ou a Eslováquia.

A depressão pode ser tratada com recurso a medicação ou psicoterapia, ou ainda uma combinação entre ambas.Tal como outras doenças, quanto mais cedo a depressão for diagnosticada, mais eficaz será o tratamento.

Sintomas mais frequentes da depressão: tristeza; fadiga; perda de interesse e prazer nas atividades diárias; alterações do sono, do apetite e do desejo sexual; apatia; crises de choro; sentimentos de culpa, inutilidade e impotência e pensamentos suicidas.

“É IMPORTANTE ADMITIRMOS QUE ESTAMOS DOENTES”

Liliana Campos nasceu em Angola tem 49 anos e é apresentadora de televisão. Com um sorriso fácil, estamos habituados a vê-la, descontraída e quase sempre bem disposta, na condução do programa da SIC Caras Passadeira Vermelha.

Desta vez, no testemunho que aceitou dar à SIC Notícias a propósito da saúde mental, está um pouco mais séria, porque o assunto assim o exige. É no seu camarim que decide falar da doença mental que mais afeta os portugueses: a depressão.

Foi numa consulta à ginecologista, devido a uma menopausa precoce, que lhe foi sugerido que fosse a um psiquiatra. Liliana aceitou e foi falar com a médica Ana Peixinho, que lhe diagnosticou uma depressão. “Tive sorte de ter alguém que olhasse por mim”, conta à SIC Notícias.

A partir do momento que recebeu o diagnóstico, começou logo com a terapêutica e procurou alternativas complementares com um psicólogo. “É importante admitirmos que estamos doentes porque só depois é que conseguimos tratar-nos e tomar conta de nós”, aconselha Liliana.

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Ansiedade

Em algum momento das nossas vidas, podemos sentir-nos mais ansiosos. Ou porque temos uma entrevista de emprego, ou porque estamos a ser submetidos a um determinado exame, ou mesmo quando está prestes a acontecer uma mudança na nossa vida. E além de ansiosos, também sentimos medo.

O psiquiatra Vítor Cotovio explica que o medo "é uma resposta emocional e fisiológica a uma ameaça iminente, real e percecionada. Enquanto a ansiedade é a antecipação de uma ameaça futura".

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Quando a ansiedade é sentida de forma continua, excessiva e sem motivo aparente é sinal de que podemos estar perante um caso de perturbação mental.

Os sintomas da ansiedade são diversos e podem variar de pessoa para pessoa. Em alguns casos podem provocar ataques de pânico.

Sintomas mais frequentes da ansiedade: batimento cardíaco acelerado; insónias; pressão no peito; suores frios; falta de ar; tonturas; dificuldade em regular as emoções; sofrimento por antecipação.

Transtorno obsessivo-compulsivo

O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) é uma doença crónica que se caracteriza por obsessões e comportamentos que são repetidos de forma compulsiva.

Uma pessoa com um transtorno obsessivo-compulsivo costuma ter, de forma recorrente, pensamentos indesejados que não consegue controlar e comportamentos repetidos que podem traduzir-se em lavar as mãos de forma repetida; verificar vezes sem conta se o fogão está desligado; ou estar constantemente a limpar a casa por receio dos germes.

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Por questões de segurança, é comum as pessoas verificarem se as portas ficaram bem fechadas. Não quer dizer por isso que sofra desta patologia. Mas quando as obsessões e os comportamentos compulsivos têm um impacto forte na rotina do indivíduo, pode ser considerado TOC.

É uma doença que interfere de forma significativa nas atividades do dia-a-dia, no trabalho/escola e nas relações com as outras pessoas.

SINTOMAS

Pensamentos obsessivos:

  • Medo de morrer ou ficar doente;
  • Medo da contaminação por germes;
  • Ter pensamentos que não saem da cabeça;
  • Ter as coisas simétricas ou em perfeita ordem;
  • Ver mentalmente e de forma repetida imagens perturbadoras (a morte da família por exemplo).

Comportamentos compulsivos:

  • Lavar as mãos e limpar a casa de forma excessiva;
  • Organizar constantemente objetos por uma determinada ordem;
  • Repetir palavras ou frases para evitar que algo de mal aconteça;
  • Verificar de forma repetida se a porta está fechada e se o fogão ou o gás estão desligados.

"Tenho medos irracionais..."

Eva Monte descreve o que tem sido viver, desde muito jovem, na sombra da Perturbação Obsessiva Compulsiva e da Depressão, esta última devido à exaustão a que a POC a conduzia.

Desde que me lembro de ser, vivo com ansiedade. Só a partir dos meus 13 anos, tenho memórias mais concretas de sintomas relacionados com a Perturbação Obsessiva Compulsiva.

"Tenho medos irracionais sobre contaminar-me com germes, sujidade, detergentes! Cada vez tenho mais cuidado... lavo-me e lavo objetos repetida e cuidadosamente. Evito tocar, evito sair, evito cumprimentar, mas, mesmo assim, o medo e a dúvida não me largam. Cada vez evito mais, cada vez lavo mais… isolo-me e desespero."

Perturbações do comportamento alimentar

A comida. Considerada um bem essencial para a sobrevivência do ser humano, a comida é o fantasma das pessoas com perturbações do comportamento alimentar (PCA). As perturbações do comportamento alimentar têm dois fatores em comum: a preocupação excessiva com a comida e o peso.

Tanto homens como mulheres podem ser afetados pelas PCA, mas é mais frequente nas mulheres durante o período da adolescência e da idade adulta.

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As PCA manifestam-se de forma silenciosa, provocando uma deterioração da saúde física e mental. Não sendo visíveis aos familiares e amigos, tornam-se mais difíceis de serem identificadas.

Os indivíduos que sofrem de perturbações do comportamento alimentar têm dificuldade em reconhecer que estão doentes e, como tal, não pedem ajuda. Mas um diagnóstico precoce e um tratamento adequado para cada caso podem fazer toda a diferença.

Um bom acompanhamento médico e apoio familiar são fundamentais para que o doente tenha uma vida mais estável.

PCA MAIS COMUNS: anorexia nervosa e bulimia nervosa

As pessoas com anorexia nervosa fazem, de forma voluntária, uma restrição rígida de alimentos, apesar do apetite se manter. O medo de engordar faz com que não comam e pratiquem exercício físico em demasia. Em alguns casos, juntam-se a estas práticas longos jejuns.

As pessoas até podem estar saudáveis e com o peso estimado para a altura, mas quando se olham ao espelho veem-se com excesso de peso.

Os doentes que sofrem de bulimia nervosa passam por episódios diferentes: tanto ingerem uma grande quantidade de alimentos num curto espaço de tempo, como surgem momentos em que os doentes tentam compensar o que comeram com recurso ao vómito ou a medicamentos laxantes ou diuréticos.

Consequências da anorexia nervosa nos doentes:

  • Enfraquecimento dos ossos por falta de cálcio;
  • Queda da pressão arterial e pulsação lenta;
  • Cabelos e unhas tornam-se quebradiços;
  • Constipação severa;
  • Depressão.

Consequências da bulimia nervosa nos doentes:

  • Glândulas salivares no pescoço e por baixo da mandíbula incham;
  • Dor de garganta e inflamação crónica;
  • Distúrbios no refluxo gastroesofágico;
  • Desgaste do esmalte dentário;
  • Desidratação severa.

Hiperatividade e défice de atenção

A perturbação de hiperatividade e défice de atenção (PHDA) é uma das perturbações mentais mais comuns que afetam as crianças, apesar de também afetar adultos.

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Muitas vezes, as pessoas com PHDA são descritas como "preguiçosas", "mal comportadas" e que só querem chamar à atenção. É importante sublinhar que estas crianças têm dificuldade em controlar os seus comportamentos e como tal não se trata de preguiça ou mau comportamento. O mesmo se aplica aos adultos.

Existem três grupos de sintomas:

Desatenção

  • Não presta atenção aos detalhes e comete erros descuidados na escola e no trabalho;
  • Dificuldade em seguir instruções até ao fim e concluir tarefas;
  • Evita tarefas que exijam esforço mental;
  • Não ouve quando o outro está a falar;
  • Distrai-se com muita facilidade.

Hiperatividade

  • Energia inesgotável;
  • Necessidade de estar sempre em movimento;
  • Dificuldade em permanecer sentado ou sossegado;

Impulsividade

  • Interrompe os outros com frequência;
  • Dificuldade em controlar impulsos ou esperar pela vez.

A perturbação de hiperatividade e défice de atenção apresenta-se em três formas: desatento - predomínio da falta de atenção; hiperativo - predomínio de sintomas de hiperatividade e impulsividade; combinado - quando estão presentes os três grupos de sintomas (desatenção, hiperatividade e impulsividade).

Sobre estas temáticas, muitas são as perguntas que todos nós, volta e meia, vamos fazendo. Algumas respostas estão num pequeno guia, feito com a colaboração do psicólogo clínico e forense Mauro Paulino, para ajudar quem tem dúvidas sobre questões relacionadas com a saúde mental.

PRECISO DE AJUDA, MAS NÃO SEI COMO PEDIR. O QUE DEVO FAZER?

Pedir ajuda aos amigos, aos familiares, ao médico de família ou ao psicólogo é o grande passo para a recuperação.

Ao longo da História, as pessoas com algum tipo de perturbação mental foram muitas vezes vistas como loucas, uma ideia que tem resistido, mesmo depois dos significativos avanços da ciência.

Nos últimos anos, novas informações dos campos da neurociência e da medicina do comportamento trouxeram avanços à maneira de ver o funcionamento mental.

É possível agora perceber que muitas das doenças mentais são influenciadas por uma combinação de fatores biológicos, psicológicos e sociais.

QUE TRATAMENTO DEVE SER FEITO?

Existem várias formas de tratar doentes com perturbações mentais. A escolha do tratamento e a sua duração são definidos por um profissional especializado e vão sempre depender do quadro clínico de cada paciente.

Em alguns casos, o tratamento não cura, mas ajuda significativamente a reduzir os sintomas. É o caso das pessoas que sofrem de esquizofrenia. Já doenças como a ansiedade ou a depressão têm cura e podem ser tratadas com recurso a medicação, terapias ou ambos.

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