A ansiedade faz-me sentir insuficiente.
Culpada por coisas que nem a mim competem.
Faz-me perder noites em claro a pensar que no dia seguinte algo de errado vai acontecer.
Faz-me esperar o momento do dia em que vou falhar.
Faz-me sentir uma quebra de expetativas.
A ansiedade faz-me sentir um nó na garganta a cada momento em que uma nova fase se inicia na minha vida.
Ela auto sabota-me.
Faz-me querer desistir antes mesmo de ter tentado.
Faz-me sentir como se já tivesse estragado tudo antes mesmo de ter feito algo.
Expor o meu maior inimigo é mais difícil do que eu pensava.
É partilhar sabendo que muitos não entendem.
É ser taxada(o) fraca(o), dramática(o).
É lutar todos os dias.
A ansiedade dói-me o corpo, a cabeça, a alma.
Cansa-me de uma forma inimaginável.
É sentir tudo ao mesmo tempo em que não sinto nada.
É adoecer sem saber o motivo.
É ter crises de choros sem conseguir parar.
É querer tentar tudo, e desistir logo a seguir.
É estar rodeado de pessoas e sentir-se sozinho no meio do nada.
É colocar um sorriso no rosto para esconder a dor.
É não conseguir explicar o que não se consegue controlar.
É esconder-se do mundo, das pessoas.
É estar a fazer o almoço e pensar que a cozinha poderia explodir comigo lá dentro.
É estar a fazer coisas simples, mas a pensar sempre no pior dos cenários.
É sentir-se um peso.
É sentir-se um problema.
É sentir que nos vão dececionar sempre, e aceitar.
É sentir que tudo nos é prioridade, mas que não somos de ninguém.
É tentar ajudar o máximo de pessoas possíveis, mas não aceitar ajuda.
É deixar que os nossos maiores talentos, dons, sejam ofuscados pela ansiedade.
É pensar demais, a todo o tempo.
É ter o corpo todo a tremer, não conseguir respirar, sentir o corpo a parar aos poucos, ter a vista a escurecer e pensar: a ansiedade venceu-te, mais uma vez.
É ter ansiedade por cada milésimo de segundo.
É culpar-se constantemente por não conseguir estar bem quando toda a gente te diz para sorrir.
É culpar-se por não conseguir controlar essa maré de sentimentos.
É pedir desculpas por estar a sofrer, é desculpar-se por ter ansiedade.
É ter a vida finalmente sem crises, e pensar que isso não está certo, que o momento desastroso vai acontecer.
É sentir o caos todo nas minhas costas.
É desculpar-se a toda a hora
É medir as palavras e ensaiar um pequeno roteiro antes de qualquer coisa.
É sentir que não mereço preocupar o outro com a minha dor.
A quarentena veio para testar ainda mais aqueles que sofrem com ansiedade.
Veio testar a solidão.
O medo do agora, do amanhã.
Veio trazer a incerteza.
Mostrar que não temos garantia de nada.
Veio escancarar a necessidade de se falar sobre saúde mental.
Veio intensificar as crises de ansiedade.
Veio intensificar a angústia.
Veio sufocar-nos no nosso próprio lar.
Veio aprisionar-nos na nossa própria rotina.
Veio expor ainda mais as nossas fragilidades.
O vazio que nem sabíamos que cá estava preencheu-nos.
É mais um turbilhão de sentimentos.
Pensar que a vida se está a desfazer, que a cada dia ela se afasta mais e mais.
É superar crises intensas.
É perder os sentidos, simplesmente deixar de respirar e apagar.
É saber que só eu posso tirar-me dali.
É o desejo de me libertar.
É obrigar-me a ser forte.
É um processo longo, doloroso, de muitas recaídas.
Mas é saber que a cada recaída eu levanto-me mais forte.
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