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Tráfico e mendicidade de crianças é "um problema da comunidade"

O psicólogo e comentador SIC Mauro Paulino analisa a situação de tráfico de crianças em Portugal que são colocadas a mendigar para lucro de terceiros. Este é um "problema de comunidade" que necessita de uma intervenção de todos.

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Em Portugal, há crianças compradas por mil euros e colocadas a mendigar. Mauro Paulino, psicólogo e comentador SIC, refere que existe quem as compra, mas também quem é cúmplice através do silêncio.

O tráfico de crianças para a mendicidade faz parte de redes organizadas, sobretudo da Roménia e da Bulgária que compram menores por mil ou dois mil euros no país de origem para explorá-los. Há crianças que são mesmo forçadas a casar e a engravidar.

Para o psicólogo Mauro Paulino existem diferentes nuances para estas circunstâncias que precisam de ser analisadas com cuidado.

"Nós temos que perceber que estas circunstâncias, onde se insere o tráfico de crianças ou mendicidade está associado a um conjunto de outros maus tratos infantis, muitas vezes o abuso sexual, a violência física, cenários em termos de familiares de negligência ou de abandono, de exploração no trabalho", explica Paulino.

Nesta ótica, o psicólogo explica que existem diversas manifestações destes maus tratos infantis, sendo que esta mendicidade de que se fala é apenas um exemplo disso.

É apenas a ponta do icebergue, segundo o Mauro Paulino, sendo que existe uma “complexidade gritante deste fenómeno”.

“Nós temos aqui várias etapas: a família que vende, mas depois como é que é feito o transporte? Como é que é feito um recrutamento destas crianças ou destas famílias? Como é que elas são alojadas? E aqui estamos a falar de um conjunto de ações que é um dos eixos principais de abordagem a este fenómeno”, indaga o comentador SIC.

Para além disso, existem também meios utilizados para manter as crianças sob coação, seja ameaça, força, sequestro e fraude que, frequentemente, estão associados com lucros para terceiros ou benefícios para secundários, que acabam por “permitir e alimentar este fenómeno”.

Para Mauro Paulino, o tráfico de crianças acaba por ser um sintoma da pobreza das famílias.

“Este é um problema da comunidade que não pode continuar a achar que ver uma criança nos semáforos a pedir ou à porta do hipermercado é uma coisa banal, porque seja forçada ou não, nós estamos perante uma situação de perigo para esta criança”, alerta o psicólogo.

Nesse sentido, os devidos meios devem ser ativados, tal como medidas de apoio familiar, caso não seja uma circunstância de mendicidade forçada.

Para o Instituto de Apoio à Criança, esta realidade é a face invisível do tráfico de seres humanos que resulta da pobreza de famílias desestruturadas.

“Essas redes geralmente fazem com que as crianças não tenham ligações, laços, e [assim] é mais fácil penetrar nesses ambientes de miséria extrema”, explica Dulce Rocha, presidente do Instituto de Apoio à Criança.

Apesar de ser um fenómeno complexo de combater, o Instituto de Apoio à Criança diz que não é impossível e defende uma intervenção urgente e concertada.

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