São redes organizadas, sobretudo da Roménia e da Bulgária que compram menores por mil ou dois mil euros no país de origem para explorá-los. Há crianças que são mesmo forçadas a casar e a engravidar.
Segundo o inspetor-chefe da Polícia Judiciária (PJ) do Porto, em declarações ao Jornal de Notícias (JN), os menores ou as adolescentes com bebés ao colo são pedintes que despertam maior compaixão e tornam-se, por isso, alvos mais vulneráveis. São obrigados a angariar no mínimo 30 euros por dia e se não o conseguem sofrem maus-tratos físicos.
Para o Instituto de Apoio à Criança, esta realidade é a face invisível do tráfico de seres humanos que resulta da pobreza de famílias desestruturadas. “Essas redes geralmente fazem com que as crianças não tenham ligações, laços, e [assim] é mais fácil penetrar nesses ambientes de miséria extrema”, explica Dulce Rocha, presidente do Instituto de Apoio à Criança.
"Aquilo que mais nos preocupa é a mendicidade forçada ligada aos processo migratórios muito desestruturados e que acabam por ser uma problemática além fronteiras, sem espaço geográfico definido, com mudança acelerada permanente”, acrescenta Matilde Sirgado, do Projeto Rua - do Instituto de Apoio à Criança.
Apesar de ser um fenómeno complexo de combater, o Instituto de Apoio à Criança diz que não é impossível e defende uma intervenção urgente e concertada.
“Basta haver boa vontade e tem de ser feito trabalho em parceria com as organizações da sociedade civil, as forças segurança", destaca, dando o exemplo do trabalho feito com o Ministério da Administração Interna (MAI) e que através do qual são dados “sinais alerta” e “força à alteração de medidas e políticas e influência na atuação da moldura penal”.
Uma jovem romena contou ao JN a sua história. Foi vendida pela mãe quando tinha 10 anos, violada sucessivamente pelo marido e passou cinco anos escravizada a mendigar e a roubar em supermercados sempre sob vigilância do casal que a comprou e que a espancava.
Foi num desses episódios de maus-tratos, testemunhado pela proprietária de um café que as autoridades foram alertadas e a jovem, já com 17 anos, conseguiu ser libertada do pesadelo em que vivia.
Ao Observatório do Tráfico de Seres Humanos chegaram 12 casos de mendicidade forçada entre 2019 e 2021. Números que para as autoridades ficam muito aquém da realidade.