O bipartidarismo que marcou cinco décadas de democracia parece ameaçado como nunca tinha sido. Ao contrário do que aconteceu em 1985, com o PRD, o crescimento do Chega parece ser estrutural e em linha com o que varre toda a Europa e os Estados Unidos.
No último mês, os que se habituaram a pensar que a extrema-direita nunca teria sucesso no último país a descolonizar e com índices altíssimos de rejeição da classe política, correram a apresentar, com a mesma simplicidade do passado, o cardápio de medidas e soluções para esvaziar a extrema-direita. Como alguns inquéritos sociais já mostravam há vários anos, os portugueses estavam mais do que prontos para aderir a um discurso de rejeição da diferença, seja ela a imigração, dos ciganos ou da classe política. Ventura foi o primeiro a saber interpretar essa disposição e a saber mobilizá-la a seu favor.
As explicações tradicionais, como a económica, que realça os efeitos de quem se sente na margem perdedora da globalização, ou as culturais, que se centram no protesto de quem aspira a um regresso a um “mundo mais simples” e menos progressista, parecem não conseguir explicar a velocidade galopante deste crescimento populista.
O que explica, então, o progresso destas forças? E a velocidade do seu crescimento, numa sincronia quase perfeita em toda a Europa e EUA? Porque é a direita radical a conseguir captar todas as dinâmicas de protestos e a cristalizar-se como uma força incontornável no xadrez político europeu? De onde vem esta raiva que parece ter tomado conta do espaço público?
É mais que uma entrevista, é menos que um debate. É uma conversa com contraditório em que, no fim, é mesmo a opinião do convidado que interessa. Quase sempre sobre política, às vezes sobre coisas realmente interessantes. Um projeto jornalístico de Daniel Oliveira e João Martins. Imagem gráfica de Vera Tavares com Tiago Pereira Santos e música de Mário Laginha. Subscreva (no Spotify, Apple e Google) e oiça mais episódios: