A Beleza das Pequenas Coisas

“Não me coloquem num ‘meme’ do Instagram, as pessoas com deficiência não existem para inspirar os normativos com histórias de superação”

Diana Niepce é bailarina, coreógrafa e escritora e anda há uma vida a desafiar os limites do corpo e a cruzar os caminhos da arte e da vida. Em 2014 foi forçada a reinventar-se quando a meio de um ensaio sofreu uma aparatosa queda de um trapézio que a deixou tetraplégica. Desde aí, a artista tem questionado o preconceito dos outros sobre os corpos com deficiência e voltou aos palcos com novas possibilidades artísticas. Ouça aqui a entrevista no podcast “A Beleza das Pequenas Coisas”, de Bernardo Mendonça

O que pode um corpo? Afinal de contas não somos todos diferentes e imperfeitos? E o que está para além do corpo e da dança? O setor artístico já está preparado para dar palco a corpos com deficiência e a este ‘novo normal’ composto por físicos diversos? O sistema de cotas nos subsídios está a funcionar ou tem algo de perverso?

Estas são algumas das questões colocadas à bailarina e coreógrafa Diana Niepce na primeira parte desta conversa em podcast, na qual afirma:

“O setor artístico ainda não está preparado para artistas com deficiência ou com corpos diversos, usa um sistema de cotas que não funciona e quem avalia o que tem qualidade não faz parte das nossas comunidades. As pessoas sem deficiência continuam a ditar a voz das pessoas com deficiência. Ainda não se deixa as pessoas com deficiência serem líderes das suas próprias narrativas. É o que faço com as minhas criações e projetos de formação.”

Sobre a bailarina, criadora e curadora Diana Niepce, importa dizer que as suas obras misturam circo contemporâneo, dança e performance, têm andado por vários palcos internacionais, e abordam a historiografia do corpo não normativo e a sua nova geopoética.

Destaque para a peça “Anda, Diana” que foi premiada pela SPA, em 2022, e para o livro homónimo “Anda, Diana”, desenvolvido a partir da experiência do seu acidente e de factos cruelmente reais com margem para a ficção. Uma obra editada pela Sistema Solar.

E é nesta dança e neste movimento de reflexão artística e política - de como a sociedade é ou não inclusiva - que Diana Niepce criou o ciclo “Corpos Políticos”, com curadoria sua, que arrancou no passado dia 4 de março e continua até 16 de março, na Culturgest, em Lisboa. Não percam. Podem consultar toda a programação no site da Culturgest.

Serão duas semanas de vários espetáculos em estreia, conversas e workshops - a maioria deles gratuitos - que refletem sobre estes corpos fora da norma nas artes performativas, e sobre as hierarquias de poder que, na maioria dos casos, ainda privilegiam os corpos normativos e desvalorizam, discriminam e excluem aqueles que não encaixam na norma. Remetendo-os para a prateleira do “exótico” ou do “problema”. E esse é que é o problema. Porque tantas vezes nos esquecemos que o mundo não é construído para todas e todos e não damos conta das várias práticas de exclusão que persistem.

Nesta primeira parte há ainda lugar para se ouvir um testemunho do encenador e dramaturgo Rui Catalão, assim como da fundadora e diretora executiva da associação “Acesso Cultura”, Maria Vlachou, que acrescenta novos ingredientes e olhares sobre Diana à conversa e lhe deixa uma pergunta.

Na segunda parte deste episódio, Diana Niepce abre o seu livro “Anda, Diana”, um diário de auto-ficção onde narra de forma crua e íntima o que passou nos tempos que se seguiram ao seu acidente de 2014. E ao afirmar-se como um “corpo político” revela ainda o que espera destas legislativas de 10 de março e o que importa lembrar e celebrar 50 anos depois do 25 de abril. Diana fala ainda de amor, sexo e humor e revela as músicas que a acompanham na vida, na dança e no duche.


Como sabem, o genérico é assinado por Márcia e conta com a colaboração de Tomara. Os retratos são da autoria de Tomás Almeida. E a sonoplastia deste podcast é de João Ribeiro.

Até para a semana e boas escutas!

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