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Polémica do IRS: Governo está "a passar a ideia de que toda a gente estava enganada"

Luís António Santos analisa a atuação do Governo e da oposição na polémica do IRS e diz que o PS "está a conquistar terreno enquanto líder da oposição". O comentador fala também da primeira baixa do Governo, Patrícia Dantas.

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O Governo vai-se reunir esta quarta-feira no Parlamento para um debate de urgência sobre a polémica da descida do IRS. Luís António Santos, professor do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho, diz que o Governo devia assumir que “a forma como comunicou ao longo destes meses as suas intenções correu mal”.

“Eu acho que, antes de mais, seria importante que o Governo assumisse, pelo menos, que a forma como comunicou ao longo destes meses as suas intenções correu mal e (…) o primeiro-ministro ainda não o fez, o ministro das Finanças ainda não o fez."

O professor do Instituto de Ciências Sociais refere que “hoje seria uma excelente oportunidade para o ministro das Finanças” dar uma explicação mas, Joaquim Miranda Sarmento, anunciou na terça-feira que não vai estar presente na reunião, o que parece “bastante insensato”.

O comentador explica também que se o Governo assumisse o erro “nenhum de nós” ia lidar “de forma negativa" com a situação, no entanto, o que está a acontecer é que estão a "passar a ideia de que toda a gente" percebeu mal.

“O que o Governo está a querer fazer, ainda ontem Hugo Soares fazia isso num outro canal de televisão, é tentar passar a ideia de que toda a gente estava enganada ao mesmo tempo, menos o PSD. Parece-me que essa ideia, mesmo do ponto de vista da gestão da imagem política do Governo, não é a proposta mais sensata porque é impossível que toda a gente esteja enganada ao mesmo tempo.”

Luís António Santos acrescenta que esta situação do IRS já está “mais ou menos esclarecida” e que, neste momento, a questão fundamental é a “credibilidade e essa é que é a questão que, do ponto de vista político, pode trazer mais dano”.

“Este edifício, de alguma forma, está afetado logo no arranque, porque (...) a descida da carga de impostos sobre a vida dos portugueses era a medida mais emblemática do programa do Governo".

O professor afirma que “os partidos da oposição vão todos escrutinar com muito mais detalhe” tudo o que o Governo disser e fizer e, consequentemente, “a intensidade do debate político agora vai aumentar”.

Luís António Santos refere ainda que a atuação da Iniciativa Liberal nesta questão fez com que o partido promovesse a sua imagem para as eleições europeias. O comentador acrescenta também que “o PS está a conquistar terreno enquanto líder da oposição”.

“Pedro Nuno Santos está naturalmente a fazer algum exercício político com isto, mas é verdade que isto tudo aumenta a pressão sobre o Governo que, de certeza, tinha planeado um outro arranque de vida política.”

Patrícia Dantas decide não assumir funções de adjunta

Luís António Santos analisa a decisão de Patrícia Dantas de não assumir as funções de adjunta do Ministro de Estado e das Finanças e diz que isto “pesa” nesta clima de desconfiança.

“Eu acho que o Governo lidou bem com a situação de forma muito rápida, mas não se livra, digamos, da acusação de que fez também aqui uma escolha insensata do ponto de vista político.”

O professor do Instituto de Ciências Sociais, ao concluir, diz que o Governo foi eleito “em cima de uma onda de impaciência” e que estes “casos e casinhos", como a situação do IRS e da Patrícia Dantas, são profundamente negativos para a imagem de todo o sistema.

“Este tipo de situações, os tais casos e casinhos tão famosos com o anterior governo, se continuarem a repetir-se podem dar força àquelas ideias, que eu diria tendencialmente perigosas, de que os políticos no fundo são todos iguais. E isso parece-me profundamente negativo para todo o sistema e não apenas para este Governo do PSD”, finaliza.

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