Miguel Morgado nasceu, em julho de 1974, em Setúbal. Cresceu no bairro Salgado e em casa nunca lhe faltou nada, mas a vida dura dos pais e dos avós impôs uma educação rigorosa. O avô alentejano tinha 18 irmãos. Veio para Lisboa com 9 para trabalhar como “moço de recados” numa mercearia. “Era de origens muito humildes”.
Os pais conheceram-se na licenciatura de Farmácia e instalaram-se em Setúbal. Do pai guardou “o amor ao mar”, foi marinheiro e piloto de grandes navios de petróleo, “chegou a naufragar no mar do Norte.” A mãe era técnica de análises clínicas.
Setúbal era a capital da “revolução vermelha”
Nasceu no ano do 25 de Abril e recorda os tempos do PREC, “bem mais politizados do que os de hoje”. Setúbal era a capital da “revolução vermelha”, “não havia prédio” que não estivesse grafitado com “mensagens extremistas”
“Em frente ao meu prédio estava escrito numa parede: ‘Mário Soares fuzilado já’”.
Nessa altura não havia extravagâncias: “não havia bananas no supermercado, quanto mais jogos eletrónicos ou ténis Nike”. A realidade dos amigos era bem pior, viviam claramente com dificuldades.
As grandes tareias e as rixas nos bairros da Bela Vista
Em criança corria a cidade, de noite e de dia, com os amigos e não esquece as “grandes tareias” nem as rixas nos bairros da Bela Vista. Eram os tempos em que se vestiam “todos de preto”, com o cabelo rapado de lado e com um “penacho” em cima.
Viveu em Setúbal até aos 24 anos, mas “escapou” ao dialeto charroco, talvez porque os pais eram os “estrangeiros” da cidade.
"'Choco frrito' era a betada lisboeta a falar de Setúbal, mas no meu tempo até era mais arcaico: era o 'carrapau' e a ‘sarrdinha’".
Licenciou-se em Economia, em Lisboa, mas só chegou à capital durante o mestrado em Ciência Política. Hoje é professor no Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa.
Os anos de “brasa” e a ligação a Passos Coelho
Entre 2011 e 2015 foi assessor político de Pedro Passos Coelho, na altura primeiro-ministro. Conheceram-se através de um amigo comum e durante esses anos de “brasa”, da intervenção da troika, ficou nos bastidores do Governo.
Miguel Morgado é um defensor de Passos Coelho, com quem trabalhou nos anos da troika e com quem teve algumas, mas poucas, “divergências”. Crítico da forma como o PSD geriu o Chega, lembra que avisou no devido tempo que o partido de Ventura era uma "ameaça existencial" - o resultado das eleições deu-lhe razão.
Miguel Morgado é o primeiro convidado da segunda temporada do Geração 70. É um dos comentadores políticos mais combativos da atualidade. É assumidamente de direita e só admite misturas nos coktails.
Durante a conversa fala sobre a infância e a adolescência. Recorda os tempos do cavaquismo, do crescimento do país e da estagnação dos finais dos anos 90. E reflete sobre os tempos de hoje onde o “populismo de direita” trouxe o tema da imigração para a agenda e cresceu “graças ao silencio dos partidos de centro direita e esquerda”.
“Geração 70“ é uma conversa solta com os protagonistas de hoje que nasceram na década de 70. A geração que está aos comandos do país ou a caminho. Aqui falamos de expectativas e frustrações. De sonhos concretizados e dos que se perderam.
Um retrato na primeira pessoa sobre a indelével passagem do tempo, uma viagem dos anos 70 até aos nossos dias conduzida por Bernardo Ferrão.