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Santa Casa perdeu 53 milhões de euros com internacionalização, valor ainda pode aumentar

Entre 2020 e 2023, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa perdeu 52,790 milhões de euros com as operações levadas a cabo no estrangeiro, um valor já reconhecido pela instituição após a auditoria realizada no ano passado e cujas conclusões foram agora divulgadas pelo Observador.

Santa Casa perdeu 53 milhões de euros com internacionalização, valor ainda pode aumentar
Facebook/Santa Casa da Misericórdia de Lisboa

As operações internacionais da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), entre 2020 e 2023, conduziram a perdas no valor de 52,790 milhões de euros, segundo o relatório e contas do ano transato a que o Observador teve acesso.

O jornal escreve que o relatório, que foi concluído na passada semana, um dia depois de a provedora, Ana Jorge, ter sido exonerada pelo Executivo de Luís Montenegro, reconhece que as perdas podem até ser superiores a 52,790 milhões de euros, uma vez que "parte destes valores foi considerada nas contas de 2021 e 2022, que foram corrigidas no início deste ano para refletir esta situação, entre outras".

Para além disso, revela também que, no ano passado, a Santa Casa Global (SCG) recebeu um apoio de seis milhões de euros antes de ver o financiamento cortado por ordem da provedora.

Mas a que se devem as perdas? A grande fatia advém da decisão de dar como perdidas as transferências de capital realizadas na frente internacional da Santa Casa, esclarece o Observador, que acrescenta que em causa está ainda o capital inicial de cinco milhões de euros realizado em 2020 e ainda 24 milhões de euros em "prestações suplementares prestadas pela casa mãe".

Para além disto, a Santa Casa decidiu registar as responsabilidades garantidas, no valor de 12 milhões de euros e que dizem respeito a empréstimos contraídos, no Banco Santader Brasil. Existem ainda 11,6 milhões de euros em responsabilidades contingentes que não foram identificadas, mas que "podem estar relacionadas com riscos jurídicos e contratuais dessas participadas que poderão vir a cair na conta da Santa Casa".

A instituição justifica que a morosidade do processo se deveu às "enormes dificuldades que a SCG tem vindo a enfrentar na obtenção de documentação requerida pela BDO - a consultora - em meados de março relativa às participadas da Santa Casa Global".

A administração diz também que a necessidade de recolher um enorme volume de informação e documentos de várias empresas localizadas no Brasil, Reino Unido, Peru, Canadá e Moçambique contribuiu para o atraso do processo.

SCML fechou 2023 com lucros de 2,451 milhões de euros

De acordo com a informação presente no relatório, a SCML fechou o ano passado com lucros de 2,451 milhões de euros. Em 2022 tinha registado um prejuízo de 12,4 milhões de euros, um resultado que foi corrigido no início deste ano e que significou uma melhoria de 10 milhões de euros.

O saldo global da Santa Casa foi de 14 milhões de euros, explicado pelo saldo corrente positivo de 30,9 milhões de euro e pelo saldo de capital negativo de 16,4 milhões de euros.

O Observador constatou ainda que os rendimentos dos jogos sociais caíram para 191 milhões de euros, menos quatro milhões de euros. Por outro lado, as receitas correntes aumentaram 17% para 282 milhões de euros.

A provedora Ana Jorge e a restante direção foram exoneradas "com efeitos imediatos" a 30 de abril, num despacho que justificava a decisão com "atuações gravemente negligentes" que afetaram a gestão da instituição.

Os antigos provedores da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Ana Jorge e Edmundo Martinho, vão ser ouvidos no Parlamento, assim como a antiga ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho.

O requerimento apresentado pela Iniciativa Liberal para a audição dos antigos responsáveis pela Santa Casa foi aprovado por unanimidade, na passada quinta-feira, na Assembleia da República.


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