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Sebastião Bugalho "é uma aposta arriscada de Luís Montenegro"

O discurso de Sebastião Bugalho é "muito incisivo, entra muito bem nas redes sociais e eu tenho algumas dúvidas sobre o critério de notoriedade que tem sido avançado", considera o analista de Ciência Política, Bruno Costa.

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Sebastião Bugalho é o cabeça de lista da AD às eleições europeias. O jornalista é o número um, em segundo lugar surge Paulo Cunha. A lista do PS às europeias é encabeçada pela ex-ministra Marta Temido, seguida de Francisco Assis, atual deputado. Bruno Costa analisa as escolhas para as europeias, com destaque a lista da AD.

“A explicação apresentada por Luís Montenegro é muito curta para justificar o nome de Sebastião Bugalho (…) esta ideia de juventude, notoriedade e algumas disruptura face ao sistema parece-me pouco, tendo em conta os vários desafios que a União Europeia enfrenta e tendo em conta também a situação ou contexto Internacional”, começa por referir o analista político.

Bruno Costa considera que deveria ter havido “maior ponderação” na escolha. Questionado sobre se estará relacionada com algum receio do Chega, o comentador não descarta essa hipótese.

“O discurso de Sebastião Bugalho é um discurso muito incisivo, é um discurso que entra muito bem nas redes sociais e eu tenho algumas dúvidas sobre o critério de notoriedade que tem sido avançado por vários comentadores e pelo próprio Luís Montenegro (…) No entanto, é um perfil de elevada polarização, ou seja, que gera uma adesão imediata com muitos elogios, mas ao mesmo tempo gera também entre os mais novos e entre uma faixa etária consideravelmente mais nova, uma rejeição imediata por claramente os comentários se assumirem do ponto de vista ideologicamente marcados”.

Para o analista de Ciência Política, a escolha da AD para as Europeias, “deixa margem para Marta Temido beneficiar precisamente desta escolha, não só pela experiência, mas essencialmente pela avaliação que uma significativa parte dos portugueses faz do trabalho como ministra da Saúde durante o período da pandemia”.

“A escolha de Sebastião Bugalho, que foi inclusivamente candidato independente pelo CDS, que era enquadrado, pese embora o comentário mais independente assumido pelo próprio, era apontado como comentador na ala da direita, mas numa ala mais à direita do próprio PSD e, portanto, poderá haver aqui claramente uma tentativa de abarcar um eleitorado do Chega”, sublinha.

Bruno Costa defende que “terá sido essa a principal justificação, mas é uma aposta arriscada de Luís Montenegro e Luís Montenegro assume aqui eventualmente, inclusivamente, a possibilidade de perder estas eleições”.

Quanto a Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto, que chegou a indicado como primeiro nome da AD para as Europeias, Bruno Costa considera que “jamais aceitaria um lugar que não fosse precisamente um lugar de destaque, ou seja, lugar de cabeça de lista”.

“Faltou, do meu ponto de vista, alguma sensibilidade a Luís Montenegro para perceber esta dinâmica de escolhas. E faltam aqui também alguma gestão do tempo”, sublinha.

PS quer “impor uma liderança forte” para as Europeias

A lista do PS às europeias, encabeçada por Marta Temido, foi aprovada com 76% dos votos a favor. Pedro Nuno Santos diz que não é uma rutura com o passado, mas Bruno Costa considera que essa é uma possibilidade.

“Parece uma rutura e parece também aqui uma tentativa de impor uma liderança forte, ou seja, de assumir a liderança do PS com este corte ao nível das escolhas. É também uma aposta arriscada, essencialmente por três motivos: a experiência no Parlamento Europeu é importante, principalmente no contexto atual, e o PS tinha vários deputados eurodeputados dentro dos dossiês que vão ser determinantes para os próximos 5 anos, uma escolha arriscada porque, de facto, Marta Temido é também uma figura com algum nível de polarização, embora de facto, durante muito tempo uma das ministras mais populares de António Costa e, em terceiro lugar, parece-me uma aposta arriscada porque inclui vários deputados que tomaram posse há poucas semanas”, conclui.

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