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A mulher que mais horas de tortura sofreu às mãos da PIDE

A história de Aurora Rodrigues é marcada por um dramático recorde. Hoje, é uma procuradora jubilada e conta que nunca perdeu a força.

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Na véspera dos 50 anos do 25 de Abril, os dias de Aurora Rodrigues são preenchidos. Procurados jubilada e defensora dos direitos das mulheres, esteve, esta terça-feira, numa tertúlia feminista para partilhar como era a vida antes da revolução. No dia anterior, esteve numa escola. Multiplica-se porque há uma história que quer recordar.

"O José António Ribeiro Santos, eu estava ao lado dele quando foi atingido por um disparo da PIDE, que entrou num anfiteatro cheio de estudantes. Até aí, só estava num movimento estudantil. Intervinha, mas com algum controlo”, conta.

A morte do histórico camarada do MRPP foi o momento de viragem. No entanto, desde pequena, no Alentejo natal, que Aurora Rodrigues percebeu o que era a desigualdade vivida no Estado Novo.

A militância ganhou forma na universidade, em Lisboa, para onde foi estudar com um bolsa. Seria o início de um caminho que a levaria à prisão política.

"Disse à minha mãe que um dia seria presa. E a minha disse o que todas as mães diriam: “Ai filha””, recorda. “Mas não me disse “está quieta””, nota.

A vida de presa política

Aurora Rodrigues recorda quando foi detida e lhe apresentaram a cela onde ficaria, dizendo-lhe que a iam torturar.

"Apresentou se o meu instrutor, Américo da Silva Carvalho. Disse que eu tinha duas vias: a via da colaboração ou a via sacrifício - mas que dali não saía sem falar”, lembra. "Passados oito dias, começou a tortura. Foi, penso eu, violentíssima."

Era maio de 1973. Aurora tinha 21 anos. Foram, pelo menos, 20 dias, 480 horas de tortura.

"Sobretudo, era a tortura do sono. Impedir de dormir, consecutivamente, dia e noite. O tempo todo. Tinha só um banco sem costas, nunca tive uma cadeira.”

Mas Aurora Rodrigues, garante, “tinha força”. “Não quebrava. Eles não iriam fazer de mim aquilo que queriam."

Como com a maioria dos presos do Estado Novo, a PIDE foi além da tortura do sono.

“Há um indivíduo que me espanca e que não diz uma palavra. “E eu só pensava “isto vai acabar”. Eu sabia que ia acabar. Ou morria, ou perdia os sentidos, ou caía.”

Só acabaria quando entraram outros agentes da PIDE na cela e tiraram aquele de lá. Aurora Rodrigues perdeu a consciência, sentindo os sintomas de um ataque cardíaco.

A chegada da liberdade

Aurora Rodrigues seria libertada três meses depois, sem julgamento ou acusação. Passou à clandestinidade.

Estava na Margem Sul do Tejo, a fazer comunicados para o 1.º de Maio, quando ouviu, na rádio, a notícia da revolução. Fez aquilo que tinha feito até ali.

"Quando começaram a dizer “daqui posto de comando das Forças Armadas, mantenham-se em casa”, eu decidi que ia sair", ri.

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